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E a Fátima quis ser mais explícita. Disse que as palavras com frequência se enganam, nos enganam, nos obscurecem o sentido da vida, a clareza do real. Absorvemo-las a pensar que são o sinal de algo, mas ela suspeita de que são um falso sinal, sobretudo as mais metafísicas. Dizem Deus e infinito como quem se refere a água ou pedra, mas em vão. Ou ainda há pior: a verbosidade de poetas que enfileiram frases sobre frases, enchendo páginas de sinais gráficos perdidos de qualquer sentido, bêbadas de si próprias.
Disse-lhe que ela me estava a condenar ao silêncio. Ela respondeu que eu quase nunca exagerei, que a minha poesia corre perto da correnteza das coisas, ilumina o caminho, com sombras às vezes, mas as sombras são um elemento do real. Há poetas, disse, que enlouquecem com as palavras, assim como outros que fazem versos rendilhados de banalidades. Evitar os extremos é o ideal, concluiu. Se temos algo a dizer, deve haver um esforço pela clareza, mesmo para se dizer do invisível das coisas.
A música é a linguagem por excelência da alma, disse ela. Não sabe se a alma é uma expressão correta para identificar a interioridade que nos estremece. Mas algo existe que se aprofunda em nós em silêncios, em mágoas, em dor, em melancolia. Também na alegria, na contemplação estética, no sublime. A Fátima usa o conceito de alma para significar esses diversos estados de espírito. Quanto a um propósito religioso, cala-se. Duvida da sobrevivência de uma entidade metafísica, porque se interroga sobre a sua identidade constitutiva. A alma seria o quê?, interroga-se. Uma espécie de esqueleto imaterial das nossas idiossincrasias, gostos, educação? Respondi-lhe que, no entanto, há fenómenos estranhos, parapsicológicos, que, nada garantindo, provocam alguma perplexidade. Disse-lhe que não conseguia negar categoricamente qualquer hipótese. Ela também não. Aliás, o seu desejo é crer, em Deus, na alma, numa outra vida. Só não quer construir uma certeza sobre a poeira desses pressentimentos. A vida é suficientemente rica em dádivas. Que nos baste o pão de cada dia. Não nos preocupemos com o dia de amanhã, disse ela, repetindo as palavras de Jesus.
As nossas conversas eram sobretudo noturnas, na cama, por entre o sexo, o afeto, a alegria e o amor. De dia, passeávamos pela cidade, de olhos abertos à beleza da cidade. Ligeiros como os nossos passos, também as palavras se pautavam pela brevidade. No olhar e nas mãos dadas, no abraço e no sorriso se condensava o prazer de estarmos juntos.
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