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Hoje em Tondela encontrei uma amiga emigrada na Suíça, primeiro no cantão de Montana, agora em Wengen, a Lena. Simpática, independente, ainda que com um espírito moldado pela cultura tradicional. Foi bom conversar com ela ao fim de tantos meses de ausência. Num café sossegado, recentemente aberto, sentámos a nossa saudade. Como estava uma tarde chuvosa e bastante frio soube bem beber um café quente com um “cheirinho” a bagaço. Ela falou da Suíça, das pessoas, dos cafés, das discotecas, das várias zonas por onde tem trabalhado, enquanto eu a ouvia ardendo no desejo de também sair deste burgo e partir por aí.
Mas, súbito, ela pronunciou um nome, o de Fátima, que conhecera de passagem na estância de férias onde trabalha. Ao saber que a Lena era de Tondela referiu, com algumas hesitações, que conhecera alguém de lá, revelando o nome e o facto de ter vindo de África e mais uma ou duas informações. Apesar da curiosidade, fui discreto no pedido de informações. A Lena também pouco adiantou. A jovem mulher, pelos vistos, depois daquela confissão espontânea, recolhera-se numa atitude reservada, distante. Soube que era de Lisboa e que tinha emigrado há uns dois anos. Quanto ao local de trabalho foi evasiva, trabalhava num hotel mas não disse em que cidade. Aparentemente, vivia sozinha, pelo menos a minha amiga não a viu acompanhada por ninguém. Parecia uma pessoa melancólica, que o sorriso simpático não anulava. Quanto mais a tentava descrever tanto mais eu me convencia de ser a minha Fátima. E agora acreditava que o motivo da minha angústia se prendia com a intuição de que ela esperava por mim. Não se explica racionalmente o meu pressentimento, é de uma outra ordem de razões, de algo subterrâneo. E agora?
Fiquei atordoado com a revelação. A carta da Fátima, deixada ao cuidado da minha tia, era já na altura esclarecedora da profundidade deste amor, da sua fuga a uma temida derrota da nossa relação .
Pedi à minha amiga mais referências. Perguntou-me o motivo de tanto interesse. Devo ter corado um pouco, gaguejei. Por generosidade, ela repetiu o que me dissera, a tentar lembrar-se de mais pormenores. Recordou-se de a ver quase sempre com um livro, pouco interessada com os jogos na neve.
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