feira do queijo seia
piafora maria Joao rochete papelaria cami
salvador sobral
WhatsApp Image 2025-01-16 at 181235
som das memorias logo
261121082345cbd31e4f08cbc237fdbda2b5563900947b148885

Reunimos os momentos que marcaram 2024: histórias que inspiraram, conquistas que nos…

16.01.25

A psicóloga acaba de lançar “O Mundo cabe no coração de uma…

13.01.25

A taróloga Micaela Souto Moura traz as previsões do Tarot, na semana…

13.01.25

por
Joaquim Alexandre Rodrigues

 Bye-bye, mr. Biden!

por
José Carreira

 A água está a chegar
Home » Notícias » Colunistas » Fragmentos de um Diário – 24 Setembro 1981 (continuação V)

Fragmentos de um Diário – 24 Setembro 1981 (continuação V)

 Fragmentos de um Diário - 24 Setembro 1981 (continuação V)
11.06.22
partilhar
 Fragmentos de um Diário - 24 Setembro 1981 (continuação V)

Respondi-lhe que sim, que o que ela dizia era verdade, mas que eu não tenho a firmeza dela, sou vulnerável, fui infiel, aproximei-me de outras, não sei se por paixão ou leviandade.
Ela levantou-se ligeiramente de modo a posicionar-se em cima do meu peito e, ao meu ouvido, disse que tudo isso eram insignificâncias explicáveis pelo afastamento.
Preferi abrir-me por inteiro, nada esconder das minhas fragilidades. Sobretudo, ao nível da sexualidade. Ela aceita-me como sou, disse, compreende que, mesmo que nos vejamos a partir de agora todos os anos, são muitos meses de ausência e a tentação mora ao lado. Ela vive com objetivos, o pagamento das casas, os estudos, as leituras. Por isso, mas sobretudo pelo amor que viveu e que sente, são-lhe indiferentes os homens. Nem tempo tem de os conhecer. A mim conhece-me o suficiente para saber que também eu estou marcado pelo selo do amor e que por isso não serão significativos os breves desvios que ocorram. Se resisti estes anos, eis a prova de que ela precisava para reforço da sua fé em nós.
Em desespero, quis prometer-lhe que, ao terminar o curso, satisfazendo o sonho dos meus pais, daria por cumprido o meu compromisso para com eles, e emigraria para junto dela. Pediu-me para não ser tolo. Quando terminar a licenciatura, devo candidatar-me ao ensino e ser professor. Ela própria espera terminar o curso e conseguir equivalência em Portugal para talvez também ser professora, senão no ensino público, no privado.
Nessa noite não falámos mais, uma outra linguagem, a dos sentidos, nos fez percorrer outros canais de comunicação, mais profundos, mais ontológicos, mais sublimes. E não era o gozo básico que nos empolgava, mas um sentimento de elevação sensorial que já em Lisboa nos era dado viver, e que não cabe em nenhuma descrição meramente fisiológica. Era algo de um teor epifânico. De êxtase foram estes dias.
Por fim, o mundo acabou. A vida terminara. Era o fim do tempo da alegria. Apanhámos o comboio numa manhã. Mais adiante, mudei de estação e ela continuou para Berna. Fiquei a vê-la até se diluir no horizonte.
Cheguei a Portugal e aqui estou, depois do paraíso. Já não sou o mesmo, já não posso ser o mesmo, algo de radical mudou em mim. Sou outro.

 Fragmentos de um Diário - 24 Setembro 1981 (continuação V)

Jornal do Centro

pub
 Fragmentos de um Diário - 24 Setembro 1981 (continuação V)

Colunistas

Procurar