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Domingo. A chuva voltou. Dia acolhedor para uma vida íntima, caseira, numa casa habitada por palavras de alegria, amor e serenidade. A chuva voltou. E talvez por acaso surpreendi-me hoje com uma tristeza calma e pensativa. A natureza acompanha-me no entanto nesta espécie de paz interior, que não é bem paz, mas não encontro outro termo mais preciso.
À vontade, aves da liberdade
nessa euforia de dia lavado.
E enquanto os homens se encolhem
sob o negro do guarda-chuva
bebei dessa água abençoada
que cai dos telhados do céu.
À vontade, aves plenas de riso
nesta alma de um novo dia,
no viço de um outro musgo
e na sílaba de um mais alto voo.
Vinte e quatro minutos para as nove da noite. Quero escrever. Não sei precisamente o quê. Escrever, escrever, escrever até encontrar-te, Fátima, até descobrir os caminhos que me poderão levar a ti. Onde estarás? A fazer o quê? Com quem? Que lugar ainda ocuparei dentro de ti? Era tudo tão fácil em Lisboa, contigo ao meu lado. Lembro os percursos dos jardins, os bancos e os cantos que já conhecíamos, a leveza da nossa alegria, quase sem falarmos de amor e de outras pieguices. Não carecíamos dessas palavras, porque as emoções cresciam dentro de nós, e tínhamos Deus, ou o élan da natureza, ou a força da nossa juventude do nosso lado. E recordo Almada. Seria fácil rimar a cidade com a minha amada. Mas ela rima por outros motivos, pela reminiscência de um verão de esplendor.
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