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Outra história. A história secreta da contemplação de uma princesa. Nunca disse a ninguém, nunca procurei que ma apresentassem. Apenas gostava de ocupar o tempo com a beleza. Por isso, seguia-a de longe. Ela saía do liceu à hora de almoço e caminhava sempre sozinha em direção a um lar de freiras onde se hospedava durante o período escolar. O colégio situa-se na avenida 25 de abril. Na gíria dos rapazes é conhecido por R13, em comparação com o quartel R14.
Eu atravessava para o outro lado da avenida e guardava alguma distância.
Para mim era suficiente aquele percurso de poucos minutos para manter viva a minha admiração por ela. Ela caminhava de um modo sereno, sem pressa nem atraso. A maneira de vestir, não sendo pretensiosa, é cuidada, simples mas elegante, bonita. Há na verdade qualquer coisa de distinto, de afável mas distante, de sensual mas discreto na evidência visível daquela rapariga.
Noutro dia, encontrava-me por acaso com um grupo de colegas no passeio à frente do liceu, já perto dos semáforos, quando ela passou. E eu tive a certeza que ela me olhou. Nada de diferente ocorreu no seu comportamento, nada transpareceu na sua expressão facial, mas eu sei que ela olhou para mim. Ela viu-me. E até me pareceu que o seu olhar quis significar que me tinha visto.
E na última semana de aulas, encontrava-me no hall de entrada do liceu a dirigir-me para a sala quando um colega me chamou. Disse-me: «A Helena quer falar contigo, pedir-te uns apontamentos». Virei-me e ali estava ela a aproximar-se de mim e a fazer-me três perguntas: se tinha Política, se tinha apontamentos da matéria, se os podia emprestar? Fiquei perturbadíssimo, foi de todo uma surpresa, mas lá pronunciei uns monossílabos afirmativos. E no dia seguinte trouxe-lhos.
E durante os restantes dias cresceu entre nós uma amizade. Havia mesmo uma cumplicidade que por vezes nos isolava do resto da turba, mesmo se no meio dela. Na última reunião geral de alunos, que se repetem quase até à náusea, sentámo-nos os dois no chão ao fundo do pavilhão. E enquanto a discussão decorria, os gritos se espalhavam, e a pancadaria varria alguns alunos até ao exterior do liceu, nós permanecemos sentados numa conversa que nos envolveu de tal modo que foram uns colegas que nos avisaram que a reunião terminara.
Não tínhamos dado sequer que ela verdadeiramente tivesse começado. Mas as férias começaram. Foi bom tê-la conhecido. Mas foi melhor o tempo da minha contemplação estética. Era pura, desinteressada. Se algo vier, será uma maçada. Bastava-me contemplá-la, de longe.
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Margarida Benedita