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Fragmentos de um Diário – 30 de setembro de 1977

 Fragmentos de um Diário – 30 de setembro de 1977 - Jornal do Centro
03.09.21
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Matriculei-me num curso médio de inglês e francês em Viseu. É também um escape, um pretexto para vir à cidade. Tenciono ainda avaliar as possibilidades de dar explicações. Mas preciso de um sítio, e este é um problema.
A Helena entrou para o Magistério. Pretende ser professora do ensino primário. Nos contactos que, de vez em quando, temos, mostra-se afável, abre-se em sorrisos, dando a impressão de se sentir bem na minha companhia. Mas ela é uma rapariga desconcertante. Tem uma maneira de ser sedutora. Calma, a voz e os olhos muito doces, o corpo perfeito. E pensa, gosta de literatura, escreve poesia, tem uma conversa interessante. Não é uma jovem pretensiosa nem desleixada. Isto é, não é aquilo que se costuma designar por uma menina bem, nem alinha com um estilo de vida excêntrico. Mas há algo nela que não compreendo, um mistério. Disse-me uma vez, ou melhor, não disse, mas deu a entender que gosta de homens mais velhos, que lhe assegurem estabilidade psicológica. É verdade que é seguida por um psiquiatra. Não me disse porquê. Talvez questões de família. Apenas sei que vive com o pai. Da mãe não fala, desvia a conversa.
Na segunda-feira, iniciam-se os exames de aptidão, um recurso inventado pelo governo em cima da hora para atrasar a entrada de milhares de alunos na universidade. Primeiro foi a história do serviço cívico, que apenas serviu para impedir a entrada dos alunos durante um ano. Agora mais esta. Estou revoltado. Dispensei de todos os exames no final do liceu por ter em todas as disciplinas uma classificação superior a catorze valores. E, de repente, cai-me esta novidade, assim, sem apelo e para toda a gente.

22 de Novembro de 1977
Não sei porque razão me tenho desligado do diário. Devo atribuir o facto apenas a um certo descuido ou preguiça, talvez à espera de um sinal, de qualquer coisa, de uma mudança. De modo algum isto significa o abandono do interesse pelas letras e arte. Mas tenho refletido e lido muito. Não sei que concluir. E apeteceu-me escrever: o azul é o meu verde preferido. Tem o sentido da falta de sentido da vida, por mais que a racionalize.

 Fragmentos de um Diário – 30 de setembro de 1977 - Jornal do Centro

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