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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Sem querer, mas porque o calor puxava e a música nos embalava, fomos experimentando umas bebidas ao longo de umas horas, agradados do local, e de bem com o mundo. Por vezes, íamos ver o mar, mesmo ali ao lado, a uns metros, de copo na mão, e voltávamos. Quando, finalmente, resolvemos ir embora, já depois da uma da madrugada, eu e a Fátima não primávamos pela sobriedade. Ela, sobretudo, não calejada pelo vinho alentejano, como eu, ao longo do ano. Mas foi uma festa, pois Baco soube prestar a devida homenagem a Vénus.
Ainda escrevo estas notas, enquanto ela dorme, não como um corpo imaterial de deusa, mas como uma jovem exaurida por um fogo divino.
6 Agosto 1984 (continuação)
Tatouan. Tânger. Apenas de passagem, pontes do nosso contacto inicial com este país: os costumes, alguma pobreza, a abordagem aborrecida dos vendedores ambulantes.
De Arzila, gostámos e por cá nos deixámos estar por três dias. Ao chegarmos, e enquanto procurávamos alojamento, difícil nestes dias devido a um festival cultural, juntámo-nos a um casal italiano que ansiava pelo mesmo objetivo. Encontrámos dois quartos num pátio interior de uma casa rasteira, ligeiramente afastada do centro. De imediato, nos sintonizámos com o lugar, pois aquele pátio interior fez as nossas delícias. Deixámos as mochilas no quarto e fomos conhecer a localidade.
Arzila tem a particularidade de umas muralhas bem preservadas, marcas ainda da presença portuguesa. Aliás, os portugueses são, pelo que pudemos verificar, muito bem vistos por aqui, graças à ação de um médico português, espécie de João Semana, exilado nesta cidade durante bastantes anos por causa do antigo regime. Embora já falecido, o seu consultório continua presente numa das ruas, e vários letreiros permanecem ainda a sinalizar a direção do mesmo.
À noite, era o festival. Um cantor francês na moda era um dos nomes mais anunciados. Mas fui da opinião da Fátima, que não manifestou interesse em ir, preferindo esperar pela atuação dos artistas marroquinos. Não tínhamos vindo de tão longe para ver um europeu a lacrimejar umas cançonetas engraçadas. De qualquer modo, a música dele perseguiu-nos pelas ruas, empurrada pelo vento, vingativa da nossa indiferença. Fugimos para o mar. O canto das ondas anulou o castigo auditivo.
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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