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Estou triste. Sinto que no meu estado de espírito há um poema latente, mas inexprimível em papel.
Fui a Viseu, passei o dia com a …, acompanhando-a nas compras. É minha amiga desde África, quatro anos mais velha. Uma vez no quintal dela, ainda crianças, ao subirmos a uma mangueira, ela caiu; eu, de tão assustado, fugi. Recordamos por vezes o episódio. Mas hoje, desde o caminho do regresso que sinto uma certa melancolia, um sentimento leve que ainda me permite falar com as pessoas, mas que me torna o olhar distante, o pensamento evadido do que se passa ao redor. Sempre a mesma melancolia.
A tarde do último domingo, passei-a com a …, em Viseu. Ela mostrou-se muito simpática, mais madura, menos superficialmente alegre. Mas o que desejo eu dela? No fundo, não é dela que espero a plenitude. Essa, já eu a vivi. Não sei o que nela procuro, ou em outras. A hóstia que busco é do domínio do ideal. Entretanto, a minha alma assemelha-se a uma aguarela de fim de tarde de outono.
Que sei eu da vida? Que faço? Que devo fazer para me sentir a viver? Ouço Schubert, sonho, procuro, hesito, justifico-me. Verifico com surpresa que as minhas palavras e atitudes são interpretadas quase sempre de um modo errado; por vezes, com receio de tornar a minha presença pesada, e para quebrar silêncios, esqueço-me e desço ao nível das preocupações e fantasmas dos outros, e é contrariado que me vejo a dizer coisas que nem por sombras correspondem ao que penso. Porquê? Porque sempre que me assumo, embato com a incompreensão dos outros. Dizem: «Lá vens tu com a tua filosofia». Mas o mais irritante é verificar que por vezes os fantasmas dos outros são também os meus.
Como é difícil alcançar a serenidade! E como é difícil assumir perante os outros uma posição clara mesmo perante os factos políticos da nossa época. Até que ponto se justifica a necessidade do empenhamento político? Mas a filiação partidária, se contribui para atenuar o nosso sentimento de culpa por nada fazermos, não sei se resolve seja o que for.
Mas, sinceramente, se gosto de ter uma compreensão política, desagrada-me a militância partidária. Decididamente, não sou um homem de ação. Não acredito em milagres nem em absolutos. Parece-me que são as pequenas lutas diárias que mudam o mundo, devagar, sem ruturas, embora estas tenham também o seu lugar. Receio, no fundo, deparar com pessoas que nesses movimentos de militância apenas procurem exibir-se, passear a sua vaidadezinha.
O meu Diário é uma deambulação. Mas gosto que seja assim.
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