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Fragmentos de um Diário – 5 Outubro de 1985

 Fragmentos de um Diário – 5 Outubro de 1985 - Jornal do Centro
09.12.23
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E aqui estou, sentado na sala, a escutar Mozart. Os pensamentos dispersos, as ideias soltas, sem concentração. Aqui estou. Não me lamento da escassez de tempo. Tenho o dia quase todo por minha conta, pois este ano dou aulas sobretudo à noite. A questão é que às vezes por motivos de uma qualquer melancolia, fico sem saber que fazer, nada me apetece. E assim vou ficando por casa, ora bem, ora mal. Vou lendo, ouvindo música, namorando a paisagem, pensando. Muitas vezes cansa-me a leitura, fico com uma sensação enfadonha de tanto discurso, de tanta controvérsia. A questão do pós-modernismo, por exemplo: Habermas, Lyotard, Rorty, Vattimo, etc. Tendo a concordar com o primeiro, mas os outros não deixam de ter razão na suspeita das meta-narrativas, ao colocarem em causa muitos dos valores do discurso da modernidade, ao defenderem o chamado pensamento frágil, e ao entenderem a filosofia sobretudo como uma conversação. Mas comungo da preocupação de Habermas por uma certa universalidade, e gostaria de compreender melhor o modo como ele a fundamenta na comunicação.
        Mas com frequência tudo isto me irrita e perco a paciência para acompanhar o fio destas polémicas. Estou cada vez mais cansado das polémicas políticas, sindicais, filosóficas e outras. Já não é revolta, mas apenas cansaço em relação a tudo que alimenta a vida dos jornais ou das revistas universitárias. Estou-me nas tintas. Só tenho que superar uns restos de complexo de culpa por esta indiferença.
        Não pretendo um estilo de vida marginal, louca, autodestrutiva. Prefiro estar à beira-mar, a olhar o horizonte. Perdi ainda mais da paciência para o ruído das conversas e das distrações moles e vazias desta geração. Também não desejo as altas discussões literárias e filosóficas, muito sérias e académicas. Fico com a ideia de que não se escutam uns aos outros, cada um a correr à desfilada pelo seu próprio teatro ideológico. Tenho a convicção de que se não quer verdadeiramente compreender o outro. Importante é convencer, argumentar, vencer. Ou estarei eu errado, não sei, talvez todos se aproximem da verdade, mas por ângulos diferentes. Como aquela anedota sobre um conjunto de cegos a descrever um elefante, todos certos no pormenor, todos incapazes de perceber o todo.
        Gosto da simplicidade, do sorriso, da bondade. Há algo mais importante? Duvido. Que importam os Ferrari da vida material sem a gentileza, sem a elegância ética, sem a generosidade? Que importam os doutoramentos sem aquelas mesmas qualidades? E, parafraseando o mestre, em verdade vos digo que é mais fácil um doutoramento do que viver verdadeiramente aquelas virtudes.

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