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«Shine on your crazy Diamond».
As pedras da calçada, duas oliveiras pasmadas, a varanda de madeira, o boné repousado no gradeamento, o verde viçoso das videiras, as teias de aranha suspensas do telhado, o «Welcome to the machine», a charrua, a galinha, o tacho enferrujado num canto do pátio, as escadas, as janelas com vidro partido, os pássaros a confraternizarem com a galinha e um garnisé, as chaminés desamparadas, as beatas dos cigarros, alguns tijolos esquecidos para ali, tudo assim na transparência desta aldeia.
E é tão bom, tão pacificador, tão cheio de alma estar assim a escrever, meditando, enquanto a tarde se suspende ainda pelas ruas, se ampara ao ambiente.
12 de Agosto de 1978
Estou há um pedaço de tempo sem conseguir materializar no papel sentimentos, desejos e ideias. No entanto, tanto a dizer. Ou será ilusória esta intuição de plenitudes interiores?
Vontade de escrever? Sim. Ou tratar-se-á de sublimar o meu desejo impossível de saber da Fátima? É terrível como se me cola aos dedos a caneta hesitante, não sei se é a mente que emperra, frouxa, transbordante de delírios, mas presa num dédalo sem saída. Talvez se trate de falta de disciplina, de exercício, o que enferruja o desempenho da escrita. Quem sabe se não é o resultado do embrutecimento dos últimos dias em que apenas joguei, fumei, berrei, sem uma conversa séria e com uma abstinência de leitura e escrita. A tarde vai-se desprendendo dos lugares a pouco e pouco, sem alarde, sem dar nas vistas, e é bom olhar e encher o peito de ar fresco e aromático.
Ouvir a música dos Rolling Stones provoca sempre o mesmo efeito: uma vontade enorme, explosiva de escrever; mais do que isso, de morder a própria vida. Agarrar-me com todo o sangue às raízes da Árvore e ascender em seiva ao cume deslumbrante. E, ao meu lado, de mãos dadas, uma companheira de quem cada gesto seja um todo de simplicidade, amor e compreensão. Ambos a caminhar pela frescura das manhãs ao encontro do Instante, do Aqui e Agora. Sem facas no pensamento. Tudo me conduz à memória da Fátima.
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