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E a nossa opção foi uma bênção. Ninguém na praia. Toda a linha do mar por nossa conta, num horizonte somente iluminado pelas estrelas. Jovens como somos, e enamorados da natureza, despimos os adereços da civilização e banhámo-nos e amámo-nos nas ondas e no sal daquele mar outrora navegado por marinheiros da nossa terra. Como se fosse a nossa ilha dos amores. Secar o corpo foi rápido pelo calor que fazia. E chegámos muito a tempo de escutar a música que nos interessava: a música tradicional árabe. À Fátima, nome também árabe, interessava-lhe perceber como aquela música se repercutia dentro de si, como se encaminhava para a alma, se lhe provava a sua origem. Missão impossível!
Quase no fim do festival dessa noite, decidimos ir embora. No pátio interior, estava o casal italiano a fumar umas ganzas. Chamaram-nos a partilhar. A Fátima recusou, mas eu, como quem aceita um convite para um copo, dei umas passas a um dos cigarros. Fiz mal. Porque muito depressa sofri um efeito perverso e inesperado. Senti uma aceleração cardíaca maluca que deveras me afligiu e ainda mais à Fátima que, sem saber que fazer, e perante a ignorante hilaridade italiana, me levou de volta para a rua. Não sabia o que me estava a acontecer, temi o pior. Só me sentia melhor, ao dobrar ligeiramente o tronco sobre o peito e a respirar lentamente. Meia hora depois, ou nem tanto, recuperei. Os italianos tinham recolhido ao quarto, indiferentes e passados da cabeça a avaliar pelos risos que se ouviam. Com o ritmo cardíaco regularizado, mas a cabeça ainda pouco lúcida, tudo o que fiz nessa noite foi sob o signo do riso. Por tudo e por nada me ria, na lavagem dos dentes e pelas caretas que fazia ao espelho, ao despir-me, num desequilíbrio de palhaço que me atirou várias vezes sobre a cama, numa hilaridade patética. A Fátima sorria, a auxiliar-me nestes tão básicos gestos. Não me lembro se adormeci logo nessa noite. Fiquei sem saber se a ganza teria algum efeito no sexo.
Dias depois, fizemos um rápido périplo por duas cidades: Rabat e Meknès. Mas muito depressa nos saturámos da viagem. Muitos dos autocarros estão a cair de podre, sem vidros, e apinhados de gente. Durante as viagens nem sempre há restaurantes. Há sítios, uma espécie de feiras, onde temos que num lado comprar a carne, noutro o pão, ali a bebida e só mais adiante é que se cozinha a carne. Depois deste circuito é que se pode por fim comer.
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