joão azevedo
Protocolo ACERT 2025 1
Luís Ribeiro Centro de Atividades e Capacitação para a Inclusão
LOGO PODCAST_ENTRE PORTAS
WhatsApp Image 2025-01-16 at 181235
som das memorias logo

A BTL 2025 chegou ao fim, e o Centro de Portugal voltou…

18.03.25

Para quando uma visita a Oliveira de Frades? Descubra 5 coisas a…

18.03.25

Pela primeira vez a participar na maior feira de turismo nacional, a…

18.03.25

por
Joaquim Alexandre Rodrigues

 Três instabilizadores - Jornal do Centro

por
Diogo Chiquelho

 Sucumbência da dignidade - Jornal do Centro
Home » Notícias » Colunistas » Fragmentos de um Diário – 9 de Abril de 1978 (continuação)

Fragmentos de um Diário – 9 de Abril de 1978 (continuação)

 Fragmentos de um Diário – 9 de Abril de 1978 (continuação) - Jornal do Centro
25.09.21
partilhar
 Fragmentos de um Diário – 9 de Abril de 1978 (continuação) - Jornal do Centro

E a Fátima? Mal cheguei a Lisboa e ainda antes da entrevista falhada com o tal padre, fui ao trabalho dela. Não a vi. Perguntei por ela à minha tia, que fui cumprimentar. Disse-me que a Fátima tinha emigrado. Assim, sem rodeios, de chofre. Fiquei colado ao chão, pálido, atordoado, sem reação. Só depois, já a despedir-me, se lembrou a minha tia de uma carta que a Fátima lhe deixara.

Fui para o jardim ao lado da feira da Ladra. Nunca li nada tão triste. Não que fosse escrita com sentimentalismo ou pieguice. Não. A carta era curta, quase sem adjetivos, direta. É verdade que começava por me chamar «meu amor», para de imediato esclarecer que, apesar da alegria que sentira com o nosso namoro, intuíra que a nossa história era sem futuro. Eu iria para a universidade, e ela não completara o curso do liceu. Em breve, em poucos anos, essa diferença refletir-se-ia na comunicação entre nós. Talvez a coisa se arrastasse, por pena, por simpatia. Mas isso seria a derrota do nosso encontro. Mas dizia mais, referindo-se ao facto de eu nunca ter proposto que nos correspondêssemos.

Estivera sempre à espera desse pedido, até tinha pensado que as minhas cartas poderiam ser enviadas para o seu trabalho. Mas eu nunca lhe propus isso. E confessa que só tem uma explicação. A minha juventude não se compadece com a ausência. Uma coisa é estar presente, corpo a corpo, outra bem diferente é um namoro à distância. Ela escreve que sentia que eu gostava dela, que não era apenas pelo gozo sensual, não, havia algo mais em mim que estava com ela, algo poético, espiritual, qualquer coisa que nos unia para além do sexo. A propósito, lembra o dia em que eu lhe dissera que o meu desejo não era apenas corporal, mas que as nossas almas também fizessem amor. Com esta frase ela entendera simultaneamente o meu amor e o dom da poesia.

Surgira um convite de uma prima para trabalhar no estrangeiro a ganhar três vezes mais e com alojamento. Era uma oportunidade de tirar a família da miséria. Hesitou. Mas a minha ausência e o meu silêncio ditaram-lhe a decisão. Leva-me consigo para sempre. Saberá cuidar desta grande paixão. A última ideia deixou-me intrigado.

A derrota deste amor derrubou-me interiormente. Como gostaria de saber dizer a multidão de gritos enclausurados!

 Fragmentos de um Diário – 9 de Abril de 1978 (continuação) - Jornal do Centro

Jornal do Centro

pub
 Fragmentos de um Diário – 9 de Abril de 1978 (continuação) - Jornal do Centro

Colunistas

Procurar