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Estou em Coimbra, à entrada da estrada nacional, depois da ponte de Santa Clara, à boleia. Acabo de chegar de Tondela, com a ajuda de um conhecido que veio em trabalho. Agora estou por minha conta e risco. Trago na mochila umas latas de conserva, pão, biscoitos e uma garrafa de água. De um pouco de tudo fiz o meu almoço. Agora, sentado num muro, e enquanto espio a estrada à espera de um carro ou camião, escrevo estas notas. Sabe-me bem estar aqui, um tanto à deriva, sem saber se ainda hoje alcanço Lisboa.
Preciso ver a Fátima. Há um ano que não estou com ela. Há um ano que finjo que esta ausência é normal, que me forço a crer que ela me espera, que tudo se há-de resolver com a minha vinda para a universidade. Cansei-me de representar esta peça do eterno amor. Vou procurá-la. Não tenho dinheiro suficiente para o comboio, nem para alugar uma pensão em Lisboa. Mas não me importa. Vou. Informei a família que vinha saber da faculdade.
Já cheguei a Leiria. Mais uma lata de conserva. Desta vez, de sardinha enlatada. Como-as com biscoitos e água. Por cima, um cigarro. E o polegar em riste. Vem aí um camião.
Estou em Lisboa. É de noite. Vim para a estação de Santa Apolónia como se estivesse de viagem e à espera de comboio. Sento-me num dos bancos da estação e escrevo. Estou perto. Quase que lhe pressinto o perfume. Amanhã vou ter com ela ao serviço, que é aqui quase ao lado. Estou a cair de sono.
É manhã. Lavei a cara e passei água pelos cabelos numa das casas de banho da estação. No bar comprei uma sande decente e um copo de leite. Estou pronto. Vou arrumar o diário.
O local de trabalho da Fátima está à minha frente. Primeiro problema: como entrar sem ser visto pela minha tia. Segundo problema: inventar uma justificação não é difícil, mas será estranho não pedir para dormir em casa deles. Não que isso os preocupasse. Mas levantaria suspeitas. Vou para o lado do Panteão, nas traseiras, onde eu e ela vínhamos fumar.
Parece-me boa estratégia. Cá estou eu, esmagado pela altura do monumento fúnebre. À espera. E a escrever. Enquanto escrevo não dou pelo tempo. E o tempo arrasta-se, adormece, cansado de tanto rodar. Com vontade de dormir estou eu. Mal preguei olho durante a noite, sempre sobressaltado por esta ou aquela preocupação.
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Eduardo Mendes, coordenador de Ortopedia no Hospital CUF Viseu
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Laura Isabel B. Nunes
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Sofia Moreira de Sousa