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Jorge Marques
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Pedro Escada
O almoço com a Magda, era este o seu nome, correu bem, a conversa fluía, e um certo clima se criou entre os dois. Para sobremesa, ela sugeriu um molotov, e juro que nunca comi outro igual. Levantámo-nos e demos um passeio pelo centro de Beja a fazer horas para o encontro de filosofia da parte da tarde. Ela tinha sido colocada nesta cidade em miniconcurso. Não desgostava do ambiente, mas ansiava voltar para Coimbra, de onde era natural.
Sentíamo-nos tão bem, a caminhar e a falarmos como se nos conhecêssemos de longa data que nem demos pelo tempo passar. Ao darmos conta do atraso, sorrimos e tacitamente não nos importámos de faltar ao encontro. Mas eu estava intrigado por não a ter visto mais vezes por Coimbra nem na faculdade. Explicou-me que tinha a mãe na fase terminal de uma doença e que o seu quotidiano se resumia na altura às aulas, a casa e ao hospital. Exprimi o meu lamento. Mas rapidamente ela mudou de assunto. Depois, numa ruela empedrada e de casas muito brancas, de varandins ao correr das fachadas, ela parou numa delas e convidou-me a entrar. Morava ali, com outras colegas, que, de momento, deveriam estar na escola. De facto, não estava ninguém. Apenas um silêncio secular habitava aqueles interiores. Ela dirigiu-se à cozinha e colocou uma chaleira ao lume. Passado um pouco, numa bandeja pôs a chaleira, duas chávenas, dois pacotes de açúcar, duas colheres e fomos para o quarto dela. O resto da casa era partilhado por todos. No quarto notei uma particularidade. Não havia livros, a não ser os manuais. Não comentei, mas para uma professora de filosofia era algo incomum. Bebemos o chá, conversámos e depois aconteceu o que eu não esperava de todo deste primeiro encontro.
Começou a despir-se devagar, de olhos fixos em mim a avaliar talvez a minha reação. Eu queria e não queria. Preferia que tudo tivesse ficado por ali. Mas, por motivos surpreendentes, foi melhor assim, porque se o prazer foi razoável, no entanto fiquei a saber que definitivamente não queria continuar com ela. O seu odor corporal era desagradável, sobretudo dos sovacos. Não se tratava de uma questão de asseio pessoal, não, era um cheiro intrínseco, forte, de um suor que nenhum desodorizante jamais anularia. Mesmo o seu hálito, asséptico, talvez porque não fumasse, evocava o de certos padres com quem convivi no tempo do colégio. Beijava-a a imaginar que deveria ser este o hálito dos meninos de coro. Conclusão, despedi-me da mulher mais bela da terra com alívio e sem sentimento de pecado. O que sofri ao nível do olfato foi castigo que basta. E também curioso, é que quase não me lembro do que conversámos.
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Margarida Benedita