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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Jorge Marques
Há pouco tempo revi a conferência da apresentação do livro “A Civilização do Espetáculo” de Mario Vargas Llosa que aconteceu no Instituto Cervantes de Madrid a 25 de abril de 2012. Para essa apresentação foi convidado o filósofo Gilles Lipovetsky para debater vários temas abordados no livro com o autor do livro e Nobel da Literatura. Durante cerca de uma hora e um quarto discutiu-se o papel da “Alta Cultura”, o desaparecimento do cânone, os dilemas da democracia, e as (des)vantagens da sociedade do espetáculo. Vale mesmo a pena ver e serve de base para uma possibilidade de visionamento de um futuro da sociedade e
da sua relação com o setor criativo. ( https://www.youtube.com/watch?v=rufxsBQIvYY ). Por um lado, Vargas Lllosa defendia que o cânone deveria ser defendido enquanto Lipovetsky argumentava uma mudança na própria sociedade que alteraria definitivamente a sua relação com as artes, e por consequência o Cânone Ocidental. É forma demasisado simplista para resumir a conferência improvisada mas, passada uma década e pouco sobre essa conferência, parece que o tempo vai dando razão a Lipovetsky.
Não sabemos muito bem se daqui a 50 anos daremos razão a Vargas Llosa e voltaremos a dar mais importância ao Cânone, como valor seguro de séculos de criações e realizações, mas já não será Ocidental mas Universal. Atualizado.
Com a descoberta de novos horizontes no espaço, a própria reflexão filosófica mudará a nossa perceção do Mundo e do Universo que se refletirá nas manifestações culturais. Como diria a personagem de Jodie Foster no filme Contact (1997),de Zemeckis, baseado na obra de Carl Sagan: “trouxerem uma astronauta para o espaço mas deveriam ter trazido um poeta”. Talvez a nova aventura interestelar poderá mudar a atitude do público como ator passivo e como produto de cultura de massas para uma partilha de cultura entre comunidades mais pequenas e num misto entre virtualidade e atividades presenciais. Com o envelhecimento da população e a evolução tecnológica da Inteligência Artificial, da Biologia e da Robótica, teremos menos população a nível global, mas mais reunida em mega regiões desafiando o conceito de estado e nação, obrigando a novas organizações em termos de território e de formas de governação. As próprias artes performativas serão uma mistura de corpos humanos, de várias idades e proveniências, corpos biónicos, robots. Parece “Blade Runner” ou uma utopia, mas não andará muito longe disso. Haverá sempre artes de palco de carne e osso para contrabalançar o mundo virtual escapista, que já encontramos em “Piada Infinita” de David Foster Wallace. Os novos grandes criadores serão programadores (informáticos, de IA, som luz), e talvez serão os grandes defensores e continuadores do Cânone através das suas criações. Grandes alterações nas artes visuais e multimédia e até o aparecimento de uma nova arte. Artes continuarão a fundir-se e a reinventar-se como desde os inícios dos tempos. Continuará a haver coreógrafos e encenadores, mas a sua relação com a dramaturgia será mais complexa, conjugando ideias próprias com a IA, que ajudará a criar novos modelos criativos.
Em termos de organizações, acredito em megaeventos sediados em grandes cidades que obrigarão a deslocações de pessoas, que conjugarão com eventos de pequena escala mais locais e/ou virtuais. Com o fim do turismo massificado, as deslocações diminuirão, mas continuará a haver um fluxo de público e pessoas para turismo cultural. Salas mais pequenas de espetáculos serão o cimento de criações ou concertos locais. Com a criação das Mega Regiões haverá o ressurgimento da natureza selvagem que engolirá localidades cuja população se tenha deslocado para centros urbanos, exceto as áreas de cultivo. Mas mesmo estas estão sujeitas a modernização dos hábitos alimentares e desenvolvimento da robótica, logo com menos necessidade de mão de obra. As alterações climáticas também ajudarão a definir o êxodo de algumas regiões. Todas estas tendências, aliadas ao desenvolvimento do setor dos transportes, criará novas lógicas de poder em termos de governos e regiões administrativas, dando origem a uma nova tipologia de apoios a atividades criativas mais centralizada em apoios de entidades privadas como fundações e redes de programação. Dada a fragmentação de coletividades, associações e cooperativas vão sendo substituídas por outro tipo de organizações culturais privadas com menos elementos.
A lógica de apoios à cultura será uma mistura entre privados e locais (talvez regionais em vez de municipais), centralizados em mega instituições (mega regiões). Confesso não ser um grande leitor de ficção científica, apesar de gostar bastante dos filmes que tragam novos horizontes como o Blade Runner (ambos), Interstellar, Odisseia no Espaço, Solaris, isto falando dos meus preferidos.
A próxima década será, sem dúvida, de grandes alterações como a queda do turismo e aumento de ambientes totalitários e mais conservadores. Mas acredito que depois disso assistiremos a um grande desenvolvimento e ao início de outra era. São tempos entusiasmantes e assustadores. Uma indefinição que provoca angústias e passos para trás. Mas as viagens são mesmo assim. Nunca saberemos como acabarão. Apenas teremos de prestar atenção ao desenvolvimento de valores democráticos nos novos órgãos de governação centralizados que terão muito poder e pouco possibilidade de escrutínio. Mas a Humanidade encontrará uma forma. Sempre conseguiu.
Cristóvão Cunha