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“Faça o que puder por mim”, pedia Armando Lima visivelmente abalado enquanto se despedia do ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes. O homem é proprietário de um aviário em Mões que ficou destruído pelo incêndio que na última semana atingiu o concelho de Castro Daire e que também lhe levou 20 mil pintos. “Tinha 20 mil pintos com oito dias, morreu tudo, ficou tudo em carvão”, lamentou.
Armando Lima tinha o negócio há 24 anos, mas só há quatro tinha acabado de pagar o empréstimo que o ajudou a erguer a empresa da família. Acompanhado pela filha, Isabel Garcia, Armando Lima deixou alguns lamentos a José Manuel Fernandes que esta manhã visitou algumas empresas nos concelhos do distrito de Viseu que foram atingidos pelos fogos.
“Quando cheguei aqui o lume ainda vinha a meio do meu terreno, mas quando chego ao fundo do pavilhão tive que fugir porque a violência do vento era tanta que entrou no edifício. Vi que não havia nada a fazer e fugi”, contou o empresário, de 68 anos.
Ao ministro da Agricultura, Armando Lima disse mesmo que ainda não consegue entrar no edifício sozinho e que teve de procurar ajuda psicológica.
“É uma grande angústia. Ainda não consigo vir ao pavilhão sozinho, não consigo encarar isto sozinho. Há uma grande aflição no meu peito e tive que ir ao psiquiatra. O meu filho diz que só vê lume e também vai precisar de ajuda psicológica”, frisou.
O empresário pede agora o apoio do governo para voltar a erguer o negócio, do qual garante que não vai desistir.
“Não vamos desistir, mas para isso é preciso ajuda. Se não houver apoios isto vai ter que ficar assim, a estrutura está toda queimada, vai ser preciso reconstruir e é preciso ajuda financeira”, sustentou.
Além do aviário e dos animais, arderam ainda 20 colmeias num terreno adjacente ao aviário, um veículo e uma extensão de castanheiros.
Perante os lamentos do empresário, o ministro José Manuel Fernandes garantiu que “não está sozinho” e pediu para que “não baixe os braços e não desista”.
O presidente da Câmara Municipal de Castro Daire esteve na visita e deixou palavras de incentivo. “Não está sozinho. Estamos cá, o senhor ministro e o secretário de Estado também estão cá para ajudar”, disse Paulo Almeida.
O autarca explicou ainda que o município tem já “três equipas no terreno que vão fazer o levantamento dos prejuízos”. “Pensámos em ter uns gabinetes na câmara, mas assim é mais rápido, mais pragmático e podem ver no terreno o que aconteceu”, disse.
Já na Moita, na freguesia de Moledo, o ministro da Agricultura visitou uma estufa de frutos. O proprietário, Carlos Ferreira, perdeu “cerca de 50%” da exploração agrícola que é composta por cinco hectares de cultivo de frutos vermelhos. Além disso, ardeu um hectare de olival que iria dar a primeira colheita.
“Os frutos vermelhos (groselha, mirtilos e framboesas) produzem entre abril e janeiro. Uma boa parte ardeu e tudo o que produzo é para exportar. O plástico das estufas que restou não se aproveita”, contou.
Carlos Ferreira disse ainda que já tinha sido ajudado para criar o negócio que agora ficou destruído. “Isto foi um projeto financiado, o primeiro meio hectare, cinco mil metros, a partir daí foi a pulso. Nestes seis hectares foi para meio hectare”, lembrou.
As chamas consumiram ainda uma boa parte do povoamento florestal que rodeia as estufas e estação meteorológica que “programa a abertura e fecho das estufas”.
“Aqui, até as pedras arderam. O incêndio queimou tudo e 60% a 70% do que está à minha volta é povoamento florestal do Estado. Dos 2.700 hectares de perímetro florestal do Estado, arderam mais de 2.000”, disse.
Perante o cenário de destruição, o ministro da Agricultura disse que o trabalho, nos terrenos do Estado, passa por “repensar e alterar o tipo de florestação existente” e que será estudada a melhor forma de apoiar em termos de produção.