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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Joaquim Alexandre Rodrigues
Num conjunto recente de inquéritos feitos aos profissionais indepentes das artes e da cultura, realizado por um grupo de investigadores do ISCTE, podemos confirmar que uma das palavras que melhor descreve o sector do ponto de vista económico e profissional é a “precariedade”. Na verdade, a palavra infiltra-se nos edifícios, nas relações institucionais, e até nos horizontes artísticos das pessoas que trabalham na construção do Serviço Público de Cultura. Um cenário que não se distingue demasiado de outros sectores, mas que no caso deste parece ser uma regra com poucas excepções.
Quase metade dos inquiridos pelos investigadores revelaram que mantêm outras carreiras profissionais, não sendo, para alguns, a carreira no sector artístico a sua principal. A conclusão é inquietante, se pensarmos que neste cenário muitos dos agentes que constroem este serviço público o fazem em segundo plano. Isto é, se o contexto global corresponder ao universo destes inquéritos, um conjunto significativo dos agentes culturais não têm como primeira ocupação o serviço cultural. Seria o mesmo que revelar que a uma parte significativa dos professores ou dos médicos não o eram a tempo inteiro.
Confrontado com esta leitura – que só posso imaginar que é do conhecimento dos decisores políticos nacional e localmente – preocupam-me duas coisas: por um lado, a frustração de perceber que para muita gente que trabalha nesta área a carreira (com o que isso quer dizer: progressão, desenvolvimento de trabalho e estrutura profissional) neste sector é impossível; por outro, o destino do investimento público. Estaremos a investir num poço sem fundo? De que serve investir de maneira a perpetuar a precariedade? Como fazer um investimento mais consequente e que contribua para a profissionalização destes agentes?
É preciso reconhecer as pessoas que trabalham profissionalmente no sector. Os seus percursos, os seus valores, os projectos que desenvolvem, as pontes de podem estabelecer com a sociedade num sentido mais alargado, e, antes de tudo isso, que são pessoas que colaboram com a sua parte para algo que se não for estruturado será, inevitavelmente, precário. As pessoas que vemos nos teatros, nas galerias, em espaços dedicados à expressão artística, em acções de rua, que dirigem projectos, essas pessoas que criam discurso, programam, e procuram dar-nos a ver algo belo ou significativo são, na sua maioria, colaboradores de um serviço público. Poderíamos encará-las como funcionários de manutenção do serviço de fornecimento de electricidade. Pois, se não houver postes ligados entre si, mas apenas um ponto de luz de tempos a tempos, não há serviço de fornecimento que aguente ou progrida.
Enquanto vos escrevo, os resultados dos apoios municipais para o Eixo Cultura Viseu para projectos que terão efeito este ano ainda não saíram. Estão atrasados, e ainda não houve uma nota de explicação por parte do executivo sobre este atraso. Compreenda a pessoa que me lê que isto significa uma coisa: até que saiam os resultados, não haverá agenda cultural em Viseu que seja consequência destes apoios. Antecipo que esta agenda ficará concentrada na segunda metade do ano, a par da Feira de São Mateus e das celebrações de Natal. Uma agenda sobrecarregada que diminui o impacto de cada projecto. Mas, pior que isso, neste momento, dependentes deste resultado, as pessoas implicadas nos projectos a concurso estão com as vidas em suspenso; provavelmente dependentes do seu primeiro emprego noutro sector e, portanto, menos implicadas na manutenção do serviço público de cultura. Podemos concluir que, como os seus profissionais, o serviço público de cultura está em suspenso.
?Façamos uma ressalva: o Município de Viseu, no período de candidaturas para este ciclo de apoios, foi sensível ao pedido de adiamento da data de entrega dos projectos. Um pedido provocado por… Um atraso na publicação dos resultados de um outro apoio da Direcção-Geral das Artes. Nisso, o Município não está só – e já se tornou tão comum a regra dos atrasos, que contamos mais com isso do que com o seu contrário. Em termos de calendário, não podemos dizer que se sinta uma vontade estratégica; os ciclos de candidaturas a apoios parecem sucessivos remendos num tecido gasto, com a herança dos sucessivos atrasos, este ciclos parecem solavancos sem um verdadeiro embalo. O serviço público de cultura começa a soar a um fenómeno sazonal. Chegámos a um ponto que bastaria o mínimo – cumprir com o calendário – para merecer elogios.
A não ser que as pessoas envolvidas me convençam de que existem vantagens nesta política de atrasos, tenho a certeza de que esta suspensão da actividade e esta incerteza só podem contribuir para a precariedade do sector e não para o seu fortalecimento. Uma espécie de corrida atrás do prejuízo. A consequência disso será a sobrecarga para público e profissionais numa parte do ano, a falta de meios para que a pouca oferta que existe não possa progredir na sua experimentação artística, o desvincular do público deste sector (de notar um estudo recente que acusa a queda de número de espectadores no período pós-pandémico), uma agenda realmente sazonal, que impede a criação de hábitos culturais, e o desaparecimento de algumas vozes. Sim, não podemos dar por garantidas as pessoas que vemos em acção. Uma companhia de teatro, ou de dança, uma banda, uma galeria, um espaço cultural, tudo isto é tão frágil que por mais resiliência que tenham as pessoas que o constroem pode desaparecer num instante.
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Raquel Costa, presidente da JSD Concelhia de Tarouca
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Helena Carvalho Pereira
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José Carreira