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Jorge Marques
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Magda Matos
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Margarida Benedita
A notícia passou despercebida, foi num dia normal, igual a tantos outros dias, nem apareceu na televisão, nem num naqueles programas da tarde, pelos vistos não havia nada de novo.
Foi nesse mesmo dia que morreu o último chapeleiro de Viseu, Pedro Belchior Pais da Cruz.
Desde que me mudei para Viseu, tornou-se rotina, os meus passeios pelo centro da cidade.
Junto à estátua de Aquilino Ribeiro, o senhor do acordeão foi substituído pelo tocador de guitarra elétrica, que aparenta pela idade e pela t-shirt ter vivido o Maio 68. O cheiro das waffles do Horta, também foi substituído, pelo fumo das castanhas assadas, que este ano vendem pipocas.
Com o frio apareceu a vendedora das meias de lã. Como uma sombra que vagueia pelas ruas de Viseu, lá vai ela com o seu saco de plástico cheio de meias e gorros tricotados por si, vende ao desbarato, provavelmente não compensa as horas que esteve sentada ao lado da lareira a mexer os dedos, talvez dê para pagar a lã e o bilhete de autocarro.
Na Rua Formosa a montra da Leya já tem os livro do prémio Nobel e a tabacaria dos Agostinhos anuncia o Euromilhões, que não me calhou.
O Brothers está sempre cheio, mesmo no inverno o viseense gosta de uma boa lambreta e, na Rua da Paz, dizem que há quem dance ate cair, mas o que acontece na Rua da Paz fica na Rua da Paz.
Tudo normal, exceto a Rua Direita, está mais triste, o chapeleiro Confiança fechou. Aquele prédio, que na sua fachada está abençoado pela estátua do Santo António, ficou vazio. Eu confesso que não estava preparada para deixar de ver os Panamás, as Boinas para se levar à Golegã, os Cocos e as Cartolas, os Chapéus de Pescadores, o Pork Pie e os Boaters. Eu não conheço a Rua Direita sem os seus chapéus.
A essência de uma cidade também se vê nas suas lojas, é a sua história, é sua cultura.
O que vai acontecer na Rua Direita? Não sei, talvez o chapeleiro seja substituído por uma loja de artigos para telemóvel com paus para as pessoas tirarem fotografias a si próprias, ou por uma loja de tabaco eletrónico, ou quem sabe por uma loja de roupa massificada e barata? Por enquanto, há somente um papel tosco colado no vidro e um aviso de arrendamento, mais uma loja vazia.
Morreu o último chapeleiro de Viseu e eu também me sinto culpada da sua morte, há quatro anos que passava pela loja do senhor Belchior e há quatro anos que tinha o desejo de lá entrar, mas nunca entrei e nunca o conheci.
Morreu o último chapeleiro de Viseu e eu não tenho chapéu.
Morreu o último chapeleiro de Viseu e com ele uma parte do comércio tradicional, será que fui eu que o matei?
Eu acredito que uma cidade fica muito mais desprovida sem um chapeleiro e assim foi num dia normal, igual a tantos outros dias, nem apareceu na televisão, nem num naqueles programas da tarde, que Viseu ficou mais pobre.
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Jorge Marques
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Magda Matos
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Pedro Escada