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Na paisagem tranquila da Quinta da Cruz, em Viseu, o Festival de Práticas Artísticas-Educarte- floresceu há nove anos, um projeto que transforma a relação entre a educação e a expressão artística. Uma experiência que aproxima escolas, artistas e famílias numa semana intensa de oficinas, espetáculos e experiências sensoriais. Este ano é celebrada a 10ª Edição com o objetivo de cultivar pensamento crítico, imaginação e partilha desde os primeiros anos de vida.
Organizado pela Câmara Municipal de Viseu, em parceria com a APECV – Associação de Professores de Educação e Comunicação Visual, o festival oferece, de terça a sábado, uma programação multidisciplinar que vai da música ao teatro, da narração de histórias às artes visuais, sempre com foco na infância, juventude e inclusão. Este ano, o festival recebe 47 turmas e cerca de 981 crianças, oriundas de escolas do concelho e instituições de apoio à deficiência. No sábado, dia dedicado às famílias e ao público em geral, a organização espera entre 150 a 200 pessoas — um momento de abertura à comunidade que tem crescido de ano para ano.
Uma década a formar através da arte
“O Educarte é um festival de práticas artísticas, mas muito ligadas à infância e à juventude. É um projeto que toca várias áreas, desde a música à sustentabilidade, passando pelas artes plásticas e performativas”, explica Leonor Barata, vereadora da Cultura.
Este festival reforça a importância das artes como mecanismos de formação e de educação”. “Os conteúdos trabalhados neste projeto, quer seja de sustentabilidade, quer seja através das práticas artísticas mais tradicionais, são sempre direcionados para a educação das crianças para que consigam ter um leque mais abrangente para o mundo e serem cidadãos mais responsáveis e mais críticos”, acrescenta ainda a vereadora.
A iniciativa nasceu em 2016, inspirada pela Semana Internacional da Educação Artística da UNESCO, como lembra Carina Queiroz, quem dá as boas vindas na Quinta da Cruz. “Queríamos um projeto que unisse a arte e a educação. E ao longo dos anos, o feedback tem sido tão positivo que continuámos a expandir”, conta. Este festival é dirigido sobretudo para jardins de infância e o 1.º ciclo, mas, lembra, este “sábado, o dia final do Educarte, é também direcionado ao público em geral e às famílias”, um dia repleto de oficinas criativas, um espetáculo de teatro e um concerto de David Rodríguez Iborra.
Histórias que ficam para sempre
O contador de histórias Zé Pedro Ramos, da companhia Quinta Oficina, é um dos artistas que regressa ao Educarte ano após ano. “Estas iniciativas são muito importantes porque é nestas oportunidades que as crianças conseguem ter acesso a coisas diferentes”, afirma.
Nesta edição, Zé Pedro optou pelo formato da narração oral. “Estou apenas a contar histórias e este apenas entre aspas” porque, sublinha, são estas histórias que as crianças levam para casa e contam aos pais. “Digo sempre no fim: contem aos vossos pais o que aconteceu. E se já não se lembrarem, inventem. Porque eu também estive a inventar”, relata. Para o artista, partilhar estes momentos com as crianças fazem-no sentir privilegiado. “São momentos particularmente marcantes que surgem nos encontros com públicos diversos”.
Para o artista, o festival vai muito além do entretenimento. “Os pais andam cansados, preocupados. E as crianças estão a ser educadas para um mundo de stress. Este tipo de espaço é uma pausa, uma brecha onde se pode imaginar. Todos nós precisamos disto”, conclui.
Já na oficina “Palavra Puxa Palavra, uma nota depois outra, nasce uma canção”, a artista Ana Bento orienta pequenos grupos num processo criativo que começa com palavras soltas e termina numa música original. “É mais do que dar a conhecer. É abrir um espaço de experimentação, de criação. Mesmo sendo pequenos, há imensa coisa dentro deles. E se não houver espaço para isso vir cá para fora, simplesmente não acontece”, descreve.
A artista sublinha o valor educativo da experiência coletiva. “Eles partem de palavras, ideias, notas aleatórias, e constroem juntos. No fim percebem: estivemos aqui, criámos algo único. E isso é poderoso”, diz, orgulhosa.
Ana Bento acredita que estas vivências ultrapassam os muros da escola. “Vivemos num mundo acelerado, onde os adultos só têm tempo para sobreviver. Mas se a escola conseguir oferecer momentos assim, e se as crianças levarem isso para casa, contaminar positivamente as suas famílias, já estamos a mudar alguma coisa”.
Educação que respira
A professora Rosa Maria, da Escola de Massorim, é clara ao falar sobre a importância de sair da sala de aula. “Já fomos ao parque estudar os peixes, as flores, já fizemos caminhadas. Quando nos propuseram esta atividade, aceitámos logo. É cansativo para os miúdos, sim, mas eles querem sempre voltar”, desvenda. A docente defende uma educação mais ligada ao mundo real porque “a escola tem de ser também cá fora. Esta ligação à natureza, ao toque, ao ver, ao ouvir, é insubstituível”.
A transversalidade do Educarte é uma das suas maiores forças. Como comenta Luísa, técnica da AVISPT21, “É um tipo de atividade que chega a todos, independentemente das capacidades. E isso é raro.”
Com dez anos de história, o Educarte já se tornou parte do calendário escolar e familiar da cidade. Entre oficinas de criação musical, histórias partilhadas e espetáculos sensoriais, este festival afirma-se como um espaço onde a educação se liberta, onde a arte encontra a infância — e onde todos, miúdos e graúdos, aprendem a olhar o mundo com olhos mais abertos.