A taróloga Micaela Souto Moura traz as previsões do Tarot, na semana…
Sabia que é possível parecer mais jovem e elegante com os seus…
No segundo episódio do programa “Bem-Vindo a”, tivemos o prazer de conversar…
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Raquel Costa, presidente da JSD Concelhia de Tarouca
por
Joaquim Alexandre Rodrigues
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Joaquim Alexandre Rodrigues
O país anda num badanal e arde em tudo o que é sítio, consumindo hectares e hectares de povoamento, tojos e urzes, ameaçando aglomerados populacionais. As proporções que a tragédia apresenta só nos pode trazer preocupações e fazer-nos redobrar os cuidados. E mesmo assim…
É certo que as condições meteorológicas são extremas e o Inverno foi seco, mas ainda me lembro, era eu miúdo, de Verões iguais ou muito parecidos.
As razões para este flagelo terão de ser encontradas a montante, num triângulo que tem como vértices a sociedade, a economia e a demografia.
O interior está despovoado, nele vivendo os idosos e os que para lá caminham, presos aos empregos que têm e ao património que foram construindo. Há muito que o interior deixou de ser atractivo, servindo a sua valorização, apenas de bandeira garrida, nas campanhas eleitorais. No resto do ano, ninguém lhe liga absolutamente nada. As comitivas passam nas variantes e só se chegam ao centro, à cata de uma sombra, de uma aguinha fresca e de um doce conventual.
Há muito que deixou de ser sustentável e, deixando de o ser, ficou mais perigoso.
Como não há gente, não há quem limpe as matas, retirando-lhe a manta morta, que é pasto bom e combustível excelente para os incêndios.
Mas mesmo que houvesse, o modelo de vida adoptado prescindiu dos sobrantes da floresta e do seu aproveitamento doméstico. Já pouco há de animais de criação e os estrumes inexistem. Em vez de cultivarmos, preferimos comprar o que já está pronto e lavado. A limpeza e o tratamento das matas deixaram de ser, economicamente rentáveis, sendo mais vantajoso deixá-las ao abandono, Ardendo, ainda virá alguém que dê algum dinheiro pela madeira queimada.
O cadastro florestal e a posse administrativa das terras são canções de embalar para criança inocente que ainda acredita no Pai Natal.
Se juntarmos ao despovoamento do interior, o modelo de vida cada vez mais urbano, e as condições meteorológicas severas, teremos os ingredientes para uma tempestade perfeita.
A fiscalização da obrigatoriedade de faixas de segurança à volta das habitações foi bonita de se ver quando os corpos calcinados ainda deitavam fumo.
A limpeza das valetas e das bermas das estradas vê-se de quando em vez, principalmente, quando o calor espreita, mas depois é um ar que se lhe dá.
E o Estado, nacional e local, é o principal incumpridor nesta matéria de falta de cuidado na limpeza dos matos.
É relapso!
Porque terão os índios de fazer o que os chefes apregoam e mandam, mas não fazem?
Talvez dar o exemplo, talvez dar incentivos fiscais para a limpeza das matas, talvez agilizar o processo da posse administrativa de terenos abandonados, talvez replantar nas áreas ardidas, recorrendo a espécies menos combustíveis, talvez fazer mais e anunciar menos.
Em 2002, mesmo sabendo que os meios aéreos não apagam incêndios, os serviços competentes trabalhavam com uma trintena deles, e hoje operam mais de sessenta, o dobro. E não arde menos.
Bem sabemos que o dispositivo aéreo não apaga incêndios…
Mas em 2002, havia menos ferramentas tecnológicas, menos ciência incorporada nas técnicas de combate, menos saber acumulado, não se trabalhava tão em rede com outras instituições, como hoje acontece, e bem. Mas a verdade é que a situação objectivamente não melhorou.
Dominado por uma imaginação super criativa e ungido por uma bênção milagrosa, tratou quem manda de criar estruturas paralelas de combate aos incêndios, profissionalizadas, que se confundem e atropelam, nos teatros de operações.
Ver um organograma da relação institucional entre os diferentes actores é um quebra-cabeças, um verdadeiro horror.
Como sempre, o problema está a montante, na prevenção, para onde o Estado canaliza muito poucas verbas quando comparadas com as destinadas ao combate.
Visite-se Pedrógão e territórios limítrofes, e veja-se a bomba que continua à espera de explodir.
Muito pouco se fez nesse domínio, e continuou a plantar-se eucaliptal, ao contrário do que se anunciou como proibido.
A vegetação densa e seca continua a margear as nossas estradas, seja qual for a sua tipologia, e o trabalho de limpeza vai-se fazendo, a passo de caracol.
Em países mediterrânicos, como o nosso, e com o tipo de povoamento existente, é certo e sabido que nos pomos a jeito para o pior cenário.
As ondas de calor prolongadas e a baixa humidade têm muita culpa nesta desgraça, é indiscutível e não seria sério dizer o contrário, mas se o orçamento, durante um bom par de anos, destinasse à prevenção o que aloca ao combate, estou seguro de que não viveríamos este drama tão intensamente.
Há apenas um problema, que não é de somenos: os pinheiros não votam e os eucaliptos não fazem manifestações. Se tal acontecesse, talvez houvesse uma intervenção mais musculada na prevenção.
Assim como assim, o governo prefere criar forças paralelas, dotá-las dos melhores meios, comprar meios aéreos, cuidar do treino das tripulações e da manutenção das aeronaves, apesar de algumas, que custaram milhões, estarem inoperacionais, sem que se encontrem responsáveis e a minha tia, que se chama culpa, continuar solteira, á espera de cavalheiro que a despose.
Talvez valesse mais a pena profissionalizar e reequipar os actores principais, que vão dando o melhor de si, como sempre, melhorar as infra-estruturas já existentes, com uma malha implantada à escala nacional, ao invés de dispersar recursos, que, ao invés de serem concorrentes, deveriam ser complementares e subsidiários. Mas a teimosia ao serviço da política é uma patologia para a qual não há tratamento nem cura.
E é também a educação, o comportamento de cada um que, pela negligência, vai falhando. Falta cultura cívica aos portugueses.
E a gestão do território florestal, que continua a não haver.
Atente-se nestes números negros como o tição das nossas lareiras: até agora, e estamos em meados de Julho, arderam 38.000 hectares de floresta, a maior área ardida desde o fatídico ano de 2017. E numa semana, ardeu tanto quanto em 2021.
Como estamos, e com o que temos feito, resta-nos esperar que a meteorologia ajude.
As políticas governamentais para o sector têm muito de fogo de vista e de navegar à bolina.
Quem disser o contrário, mente.
Mas, repetindo a história, há várias coisas que se irão replicar lá para Setembro, quando os portugueses vierem dos banhos, ou até antes, se as coisas se complicarem.
Vai haver um Conselho de Ministros Extraordinário, só para abordar de forma transversal este tema, o “dress code” dos participantes será o “casual”, de “jeans” e camisa aberta, vai-se criar uma Comissão de Peritos que há-de ser ouvida no Parlamento, que há-de escrever um Relatório, que há-de servir de base a um monte de estudos, que há-de alimentar a discussão até ao fim do ano.
Para terminar, tinha curiosidade em saber onde param todos aqueles que, com Verões amigalhaços, como o de 2021, do púlpito apregoavam aos quatro ventos que o sistema funciona e as reformas aí estavam a dar os seus melhores frutos.
Esperemos que no próximo Verão, S. Pedro ajude, ou, entretanto, caia por aí uma trovoada grossa que ensope os terrenos.
Para finalizar, fique o leitor a saber que não, não estamos preparados para estas tragédias, e não temos aprendido nada ou pouco, apesar do discurso oficial ir no sentido contrário.
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Raquel Costa, presidente da JSD Concelhia de Tarouca
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Helena Carvalho Pereira
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José Carreira