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Na semana das Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa, entre as inúmeras citações e discursos do Papa Francisco, as redes sociais recuperaram um artigo do Expresso de 2016 que dava conta de uma entrevista de Francisco ao jornal “La Republica”, encabeçada com “São os comunistas que pensam como os cristãos”.
Não é um exercício fácil determinar quem pensou primeiro seja o que for. No entanto, considerando que o Manifesto Comunista tem 165 anos e o primeiro dos Evangelhos cerca de 1950 anos, a afirmação não é, de todo, implausível.
O papel da Igreja na luta social tem uma longa história, ligada frequentemente às correntes mais progressistas. Na sua génese, o Cristianismo atraía os explorados e marginalizados do Império Romano, não só pela promessa de libertação das aflições após a morte, mas também pela vivência em comunidade, baseada na igualdade e na partilha de “tudo em comum”, como evidenciado nos Actos dos Apóstolos e nas cartas do Apóstolo Paulo. Mais recentemente, a Teologia da Libertação, com expansão na América Latina nos anos 60 e 70, defendia a opção preferencial pelos pobres, interpretando o evangelho a partir da perspectiva dos oprimidos e incentivando a ação social e política como meio de transformação – contexto ao qual Francisco, sendo argentino, não será alheio.
Nas mesmas redes sociais, havia ainda quem argumentasse que não são alguns discursos ou posições mais progressistas de uma pessoa que mudam a Igreja Católica. E isso é verdade: não foi por ter líderes mais reaccionários ou o apoio institucional e moral a regimes totalitários que impediu que muitos católicos – também em Portugal – lutassem contra o fascismo, transformassem espaços paroquiais em locais de reuniões clandestinas, ou que grupos de católicos proeminentes se manifestassem publicamente contra o regime.
No entanto, não se pode desvalorizar a importância das posições do atual Papa, particularmente após quase três décadas do conservador João Paulo II. As suas encíclicas “Laudato si’” e “Fratelli tutti” são, nesse sentido, particularmente relevantes.
Na primeira, de 2015, inicialmente pouco noticiada pelos media como uma “encíclica de Francisco sobre ambiente”, uma leitura mais atenta rapidamente revela um teor bem mais abrangente. Lembrando a frase do sindicalista Chico Mendes “ecologia sem luta de classes é jardinagem”, a carta aprofunda o conceito de ecologia integral – ambiental, económica e social – denunciando primordialmente as desigualdades sociais, a exploração e a desvalorização do trabalho.
Já a “Fratelli Tutti” – Todos irmãos – é concluída em 2020 em plena pandemia, “na sombra de um mundo fechado”. Complementa a anterior carta, rejeitando a ilusão do mercado neoliberal, alertando sobre os populismos e o desconstrucionismo histórico, e reflectindo sobre a função social da propriedade, os direitos dos povos, a legitimidade da luta, a rejeição da guerra e o compromisso com a paz.
O conteúdo e o alcance destas mensagens devem motivar os católicos na sua luta pela fraternidade e progresso social, de forma particular esta “juventude do Papa”, que tão efusivamente acompanhou o Papa na sua visita a Portugal.
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