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José Junqueiro

13 de 04 de 2024, 12:00

Colunistas

Tempo do diálogo

Seria surpreendente se todos soubessem ao que vinham, porque, simplesmente, nem faziam ideia de que a poderiam integrar

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O governo tem um tempo próprio para se organizar, elaborar a Lei Orgânica, familiarizar-se com os “dossiers”, dar-lhes seguimento ou outra orientação. É uma equipa de 59 governantes, mais três do que a última de António Costa. Seria surpreendente se todos soubessem ao que vinham, porque, simplesmente, nem faziam ideia de que a poderiam integrar. Portanto, é preciso dar tempo ao tempo, embora o dito seja bem mais curto do que o habitual. O “porquê a pressa?” não se enquadra neste momento.
Dias 10 e 11 discute-se o Programa de Governo. Pedro Nuno Santos, na noite das eleições, disse reconhecer a vitória da AD, apesar de ainda não se conhecerem os números dos círculos da Emigração, na Europa e fora dela, por previsivelmente já não terem influencia no resultado final. E acrescentou também que não apresentaria, nem viabilizaria, qualquer moção de rejeição ao Programa de Governo. Sinais tranquilizadores enviados por uma oposição responsável.
Alguns dias depois, na Assembleia da República, reforçaria a sua atitude ao ultrapassar o caricato desentendimento entre o PSD e o Chega, viabilizando a eleição do Presidente da AR, Aguiar Branco. Foi um PSD em estado de negação e com um tique de arrogância? Pareceu!
Aqui chegados, com uma “Direita” em maioria absoluta, mas dividida, o PSD vê o apoio ao seu Governo minoritário reduzido ao CDS e IL. Será de esperar, pois, que o diálogo seja a estratégia privilegiada para seguir até 2025 e abrir caminho para uma legislatura completa, tal como o país precisa.
Para esse desígnio, os apoios do CDS e dos Liberais foram a única garantia, curta, dada ao Presidente da República para um governo estável, mas, como constatámos, foi suficiente para a indigitação de Luís Montenegro. Posteriormente, o ter cooptado para pastas governamentais alguns assessores do Presidente também pode explicar o risco que este assumiu ao declinar a exigência de entendimento alargado que o momento impunha.
Neste contexto, já tinha sido surpreendente o delicado “qui pro quo” na eleição de Aguiar Branco, mas não ter sido realizado um discurso de posse apelativo, que estimulasse no imediato uma máxima convergência política é coisa rara! Pelo contrário, Luis Montenegro falou como se o seu inquestionável direito e dever de governar impusesse a todos, à “Direita” e à “Esquerda”, a obrigação de votar o Orçamento de Estado para cumprir o seu exclusivo “programa de mudança” que apenas tem o apoio restrito de menos de um terço dos eleitores. Outro tique de arrogância?
A perceção que ficou foi a de que, para o Primeiro-Ministro, negociar seria sinónimo de obrigar, tudo e toda a gente, a concordar e votar favoravelmente o que lhe aprouvesse. Voltou a não ser prudente. Vai certamente ter novos desencontros com a realidade a não ser que, como lembrou Pacheco Pereira, o confronto seja uma estratégia do PSD para ir a votos o mais depressa possível.
Para já, se um Orçamento Retificativo for sentido como necessário e espelhar o cumprimento de promessas eleitorais comuns aos dois partidos, Luis Montenegro terá garantido o apoio do PS. À hora que escrevo, Pedro Nuno Santos acaba de lhe enviar uma carta a reforçar essa sua intenção. A resposta não se fez esperar. Disse o Primeiro-Ministro: … “A disponibilidade do Partido Socialista … constitui um exercício de responsabilidade política e compromisso que saúdo democraticamente “. E à noite, durante a entrevista do Secretário-Geral do PS à CNN e TVI, ficou ainda mais claro que os socialistas cumpririam os seus deveres de oposição construtiva e isso não incluiria ser parceiro do programa e orçamento do PSD. O diálogo passou a ser um imperativo e não um “faz de conta”. A não ser assim, tudo o resto será “praticamente impossível”.
O PSD não tem tempo a perder, porque é preciso cumprir as promessas eleitorais, abrandar os movimentos reivindicativos, encontrar a paz social, diminuir o aperto das corporações (altamente representadas no Governo), “tirar os trabalhadores da rua” e conseguir aliviar a pressão da Comunicação Social, também esta privilegiadamente colocada no Executivo ou não seja Rui Freitas, PSD, o novo Secretário de Estado Adjunto e da Presidência. Quem é? “Administrador do Grupo Media Capital, dona da TVI e CNN e Presidente do Conselho de Administração da Swip News, dona do Eco Economia.” Desta vez não ouviremos Paulo Rangel falar de “claustrofobia democrática”. Mais expectante será a agenda do “Sexta às 9” e do Polígrafo da SIC.
Finalmente, uma palavra amiga para os vários governantes do distrito convidados por Luis Montenegro. Muito ilustram a região. Desejo que tudo lhes corra bem neste momento tão desafiante.