Carlos Eduardo

24 de 07 de 2021, 08:30

Cultura

Um livro que quer entrar nas escolas para dar a lição do poder no feminino

Transformou-se em exposição para dar à ideia alguma visibilidade, mas a verdadeira intenção do grupo "Histórias no Feminino" é levar às escolas um livro com a vida e obra de 50 mulheres relevantes. Para ser mais fácil passar aos mais novos a importância e o papel dessas personalidades que marcaram a história, há 50 rostos para colorir. O livro está pronto, falta financiamento

Vanda rodrigues olha para a exposição Histórias no feminino na sementeira

Fotógrafo: Igor Ferreira

O povo costuma dizer que de pequenino é que se torce o pepino. O sentido deste provérbio remonta ao mundo agrícola onde quem cultiva pepinos tem de retirar daquele legume uma pequena parte para que se desenvolvam melhor. Sem essa espécie de poda, os pepinos não se desenvolvem e ficam um um sabor mais ou menos desagradável. Vai daí que essa expressão se tornou mais ou menos comum e signifique a necessidade de se educar desde jovem para um desenvolvimento saudável no futuro em cada cidadão.

Daqui até à ideia do grupo "Histórias no Feminino" é só um pequeno salto. Editar um livro com os rostos de 50 das mulheres mais influentes da história e dar às crianças nas escolas para elas as ilustrarem pode parecer uma ideia simples, mas é único no mundo. "Não há livros só sobre mulheres que falem sobre o empoderamento da mulher. Não há livros para colorir históricos. São muito básicos: carrinhos, florzinhas, dinossauros. Nós podemos ensinar a brincar. É um pouco por aí", conta.

Imagine o que será ter uma criança a pintar o rosto de figuras como Beatriz Ângelo, Beatriz Pinheiro, Elza Soares, passando por Marielle Franco, Frida Khalo ou Chica da Silva. Nestas 50 ilustres há ainda espaço para nomes como Marie Curie, Simone Beauvoir, Janis Joplin e Anne Frank. Nomes que passam ainda pelo desporto lembrando Rosa Mota ou pela luta política no tempo em que lutar tinha sentido quase heroico, recordando Catarina Eufémia.

A obra terá perto de 200 páginas e inclui, além das ilustrações, uma breve nota biográfica do que estas mulheres fizeram para marcar a história da humanidade. 50 figuras femininas pintadas por outras 17 mulheres. "A maior parte das pessoas que ilustraram são ligadas à arte. Temos ilustradoras viseenses, designers, professoras de desenho. À exceção de mim que sou da área social", detalha Vanda Rodrigues. A intenção era lançar o livro no Dia da Mulher e, por isso, houve que pôr mãos à obra o mais rapidamente possível. "Foi um contra-relógio. Era para estar editado a 8 de março, mas não arranjámos financiamento. Começámos no projeto a 26 de janeiro e a 27 de fevereiro tínhamos as ilustrações todas. Foi um mês", concretiza.

E é o financiamento que está a atrasar a chegada dos livros aos destinatários: os alunos nas escolas. "Organizámos a exposição na Sementeira precisamente por causa disso. Fizemos vários contactos: a Comissão para a Igualdade de Género, para a Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade, para a Plataforma dos Direitos das Mulheres... Apresentámos-lhes o projeto. Infelizmente ainda não tivemos respostas", lamenta a mentora do livro, assegurando que haveria pessoas interessadas até para avançarem para um crowdfunding, que, basicamente, se resume a uma recolha de fundos através da internet em que cada internauta oferece o valor que conseguir. "Vamos dar, no máximo, um mês, até termos algum tipo de financiamento institucional. Caso não chegue, vamos lançar um crowdfunding. Felizmente temos pessoas, como professores ou outros ligados à área do ensino, que nos dizem que o livro é muito bom e que merece ir para a praça pública", revela Vanda Rodrigues.

No entanto, a vontade é outra. "Estamos a trabalhar pro bono. Todas. O dinheiro que angariássemos da venda ou da edição do livro, iria ser doado a uma associação de apoio às vítimas de violência doméstica local", confidencia.

Para que a obra fosse apartidária, o Histórias no Feminino procurou financiamento ao nível do Estado ou de associações do Estado. "Para mim faz sentido ser uma organização a financiar a obra porque ia dar-lhe um peso diferente. Termos um livro coeditado pela Comissão para a Igualdade de Género, pela Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade ou pelo Governo de Portugal é muito diferente de ser um livro tipo edição de autor", defende a criadora do projeto.

Por agora as ilustrações de Rosário Pinheiro, Inês Flor, Liliana Rodrigues ou Paula Magalhães (entre outras) ficam à espera de passar do papel à ação. Para que no futuro haja um livro para lembrar a vida e obra de mulheres marcantes.