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23 de 04 de 2024, 18:20

Diário

Autarca de Santa Comba Dão responde a Bordalo II e diz que “há outras maneiras” de celebrar democracia

Presidente da Câmara reagiu à instalação do artista plástico, que cobriu a campa de Salazar com um "medicamento anti-fascista"

Leonel Gouveia

Fotógrafo: Igor Ferreira

O presidente da Câmara de Santa Comba Dão escusou-se esta terça-feira (23 de abril) a classificar a instalação artística de Bordalo II na campa de Salazar, considerando que “há outras maneiras de valorizar e celebrar a democracia e o 25 de Abril”.

O artista Bordalo II colocou uma caixa de medicamentos gigante, com a inscrição “Liberdade. Probiótico antifascista”, em cima da campa de António de Oliveira Salazar, no cemitério do Vimieiro, e mostrou esse momento na rede social Instagram.

“Haverá quem esteja contra, haverá quem esteja a favor, eu pessoalmente acho que há outras maneiras de celebrar a democracia”, afirmou Leonel Gouveia à agência Lusa, lamentando que a comunicação social “tenha feito disto um caso de grande relevância”.

Segundo o autarca socialista, “colocaram lá uma caixa, tiraram fotografias e foram-se embora, não há lá caixa nenhuma, foi uma coisa de minutos”.

“A liberdade é fundamental para cada um de nós e para o bem-estar de todos”, defendeu Bordalo II numa publicação feita hoje de manhã no Instagram, na qual mostra fotografias da instalação artística e um vídeo do momento em que a caixa foi transportada para a campa do antigo ditador.

O artista deixou um aviso: “Não nos podemos distrair e tomar a liberdade como um bem adquirido. Pelo contrário, temos que defendê-la e exercitá-la todos os dias. O 25 de Abril serve também para nos lembrarmos disto”.

Na caixa vermelha e branca, que tem desenhado um cravo vermelho, pode também ler-se que o “probiótico antifascista” é disponibilizado em 50 cápsulas de 25 mg, numa alusão aos 50 anos do 25 de Abril de 1974, que se comemoram na quinta-feira.

António de Oliveira Salazar, figura maior da ditadura do Estado Novo, nasceu a 28 de abril de 1889 no Vimieiro. Morreu a 27 de julho de 1970, quase dois anos após uma queda que lhe provocou um derrame cerebral e o afastou da presidência do Governo.

Artur Bordalo (Bordalo II - o primeiro era o avô, o artista plástico Real Bordalo), nascido em Lisboa em 1987, começou pelo graffiti, que o preparou para o trabalho pelo qual se tornou conhecido: esculturas feitas com recurso a lixo e desperdícios.

A intervenção política e social tem marcado os seus trabalhos, abordando temas que vão de questões ambientais aos abusos sexuais na Igreja Católica.