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O comboio vai chegar atrasado à Estação Ferroviária de Viseu

 O comboio vai chegar atrasado à Estação Ferroviária de Viseu
12.12.22
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 O comboio vai chegar atrasado à Estação Ferroviária de Viseu

por
Alfredo Simões

Foi apresentado no passado mês de novembro o Plano Ferroviário Nacional a concluir lá para 2050.
Como exercício prospetivo será, com certeza, um bom exercício. E as pessoas, o que dirão deste exercício? Os residentes de Viseu, por exemplo, o que podem esperar da alta velocidade, em 2050!?

Se a resposta a estas questões puder ser dada com o auxílio de outro exercício prospetivo talvez valha a pena fazê-lo. Vamos admitir que nas próximas décadas a demografia se comporta como aconteceu entre 2011 e 2021. A ser assim, e pensando no caso de ‘Viseu Dão Lafões’ (VDL), em 2051, a manter-se o ritmo da diminuição do numero de residentes (-5,6% numa década) a população estará um pouco acima das 200 mil pessoas. No entanto, importa ter presente que entre 2011 e 2021 a idade média dos residentes aumentou 9,1% e, mantendo-se o ritmo, em 2051 a idade média ultrapassará os 62 anos. Hélas!

Além disso, a situação poderá ser mais complicada, pois a população residente tem vindo a diminuir de forma acelerada (em 2001, VDL ainda conheceu um crescimento de +1,5% relativamente a 1991, mas em 2011 verificou-se uma quebra de -3,0% e agora, em 2021, essa quebra foi de -5,6% – sempre a piorar!); e a idade média tem aumentado, também, de forma acelerada (+8,0%, em 2001, +8,7%, em 2011, e +9,1%, em 2021). A situação não é ainda mais gravosa porque o concelho de Viseu tem assegurado um crescimento demográfico positivo na Região, mas essa capacidade parece estar a esgotar-se, tendo baixado de + 10 mil pessoas, em 2001, comparando com 1991, para apenas +277 residentes nestes últimos dez anos. Além disso, o concelho de Viseu, entre 2011-2021, viu reduzir em 30% o número de crianças e jovens até aos 14 anos e em 15% a população que estará em idade de ter filhos (entre os 20 e os 44 anos).
Num quadro demográfico resultante destas dinâmicas desfavoráveis, seremos capazes de imaginar como serão, em 2050, os serviços de saúde, de apoio aos idosos, as escolas, mais pequenas e mais concentradas, a vida nas freguesias mais afastadas de Viseu, etc., etc.? E a mão de obra para as atividades económicas, haverá que chegue ou iremos deixando de produzir como fizemos com a agricultura e o consequente abandono do território? Mas nestas circunstâncias, ‘deixar de produzir’ pode significar menor oferta de serviços de saúde, sociais, etc.

Em 2050, ainda estaremos disponíveis para saudar a chegada do comboio de alta velocidade à Estação Ferroviária de Viseu? Ou, nessa altura, o modo de transporte já evoluiu de tal maneira que ninguém vai ‘apanhar o comboio’? Ou, então, as disparidades territoriais do País acentuaram-se, os sectores produtivos concentraram-se junto ao litoral e corremos o risco de sermos ‘lugar de passagem’ e não ‘lugar de paragem’ do comboio, seremos um ‘apeadeiro’ e não uma ‘estação’?
Na verdade, a região de Viseu não pode ficar à espera do comboio. Antes de mais, ele já está atrasado. Mesmo que chegasse hoje já estaria atrasado. Talvez se tivesse chegado nos anos 90 a Viseu, no âmbito do corredor Aveiro-Espanha, ele teria tido um impacto especialmente importante em conjunto com as demais infraestruturas e com a capacidade que a região mostrou para atrair investimento produtivo em diferentes indústrias, nomeadamente em sectores com grandes oportunidades de alargamento de mercados para a Europa. Nessa altura, Viseu conheceu taxas de crescimento que ultrapassavam a média nacional e isso foi resultado de políticas setoriais de infraestruturação do território e de incentivo ao investimento em bens transacionáveis. Simultaneamente, recordemos o papel das autarquias que criaram condições, a nível local, para implantação dessas novas indústrias e de vários serviços. Não esquecer que é nesse período (anos 80-90) que se instala o Politécnico, Conservatório, Teatro Viriato e o Hospital S. Teotónio conhece grande crescimento que culminou com a construção das novas instalações.
O crescimento elevado da economia da Região é, pois, fruto do forte investimento, simultaneamente persistente e em sectores de que a Região era carente e que respondiam a necessidades das pessoas e dos mercados, em particular da Europa. O crescimento foi o resultado de políticas públicas, locais e nacionais, que se cruzaram no território com a ação de novos (e antigos) empresários e outros empreendedores (culturais, da ação social, educação, etc.) da Região ou que a Região soube atrair. Viseu passou a ser “lugar de paragem”, mesmo sem comboio!
Mas, o mundo mudou e com o virar do século nunca mais a região de Viseu acolheu grandes investimentos como nas últimas décadas do século passado. Neste aspeto, não fomos ‘vistos nem achados’, simplesmente porque esses fluxos de investimento encontraram ‘melhores’ destinos e outras paragens.
Vai o comboio de alta velocidade conseguir alterar esta situação? Esta pergunta, embora apeteça fazê-la, não tem resposta definitiva … pelo menos nos próximos 30 anos!
Mas, vamos admitir que o comboio de alta velocidade chega hoje a Viseu antecipando-se ao Pai Natal de 2022! O que irá acontecer nos próximos anos? Certamente alguma coisa melhorará, atrairemos mais residentes, mais empresas. Mas durante quantos anos se vai sentir esse impacto? Em comparação com outras Regiões, iremos ficar mais próximos da capacidade de criação de riqueza da região de Aveiro, p. ex.? Ou do Porto? Isso só acontecerá, tal como nas décadas de 80/90, se o investimento na Região for continuado, multisetorial e responder a necessidades de crescimento da economia da Região que, entretanto, mudaram, não são as mesmas dos anos 80/90.
A Região precisa de atividades económicas que criem mais valor. Isso passa por ser mais eficiente no uso dos recursos (mais tecnologia, melhor organização, mais formação, maior escala dos agentes económicos) mas esse aspeto, sendo importante, também não é o fundamental. A Região precisa de alterar a estrutura produtiva, ir deixando perder peso às atividades de baixos salários e apostar nas atividades mais complexas que exijam mais conhecimento, deixando perder peso as atividades que criam baixo valor substituindo-as progressivamente por atividades que ofereçam produtos mais sofisticados e mais bem pagos. E isso atrairá mais pessoas.
O fundamental para que isso aconteça já não são infraestruturas e equipamentos – porque os temos, embora continuemos a precisar de investir neles e de os melhorar. Ninguém hoje tem quaisquer dificuldades em deslocar-se de ou para Viseu, de aqui estudar ou cuidar da saúde ou assistir a uma peça de teatro ou a um concerto. O fundamental das necessidades de crescimento da economia de Viseu encontra-se na existência de interfaces das atividades económicas (a começar nas existentes porque são elas os agentes da mudança) com o conhecimento e as tecnologias que se vão desenvolvendo para que surjam as inovações que os mercados apreciam e valorizam. Este deve ser o foco da nossa estratégia e isto faz-se com políticas incentivadoras dos agentes locais (empresários, agentes culturais, sociais, de ensino, etc.), com pessoas e com serviços capacitados – esta é a tarefa dos poderes públicos. Mas também precisamos de mais parcerias que escalem as ações de cada um e tornem as nossas decisões mais inteligentes, por serem mais informadas e discutidas – esta é a tarefa cuja iniciativa deve partir dos atores da ‘sociedade civil’.
A Região precisa, hoje mesmo, de aumentar a velocidade para o aproveitamento dos fatores que marcam o crescimento económico no mundo. Nisto a Região pode estar a mover-se devagar – fruto, ainda, de um ‘fardo’ pesado que carregamos do passado – o que tornará tudo mais dramático, daqui a 30 anos, e não tanto a chegada tardia do comboio de alta velocidade à Estação Ferroviária de Viseu.

Alfredo Simões
(ex-professor do Politécnico de Viseu)

 O comboio vai chegar atrasado à Estação Ferroviária de Viseu

Jornal do Centro

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 O comboio vai chegar atrasado à Estação Ferroviária de Viseu

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