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Esta é uma exposição temporária inaugurada recentemente no Museu Nacional Grão Vasco, que aconselho a todos visitar. Quando recebi a newsletter do museu, fiquei a pensar que exposição seria aquela: quadros de Grão Vasco que não conhecia, que estariam na reserva do museu? uma seleção de algumas obras em que o tema paisagem estivesse mais em destaque? Achei estranho que fossem retirar quadros das salas do museu, para fazer um evento temporário. Já há algum tempo que uma exposição não despertava assim a minha curiosidade.
Da curiosidade passei ao espanto, ao entrar no espaço expositivo, planeado com um grande detalhe e, diria até, sabedoria. Afinal eram fotografias de Duarte Belo, mais concretamente 240 imagens de detalhes de pinturas do grande mestre, em pequeno formato, onde se podem ver paisagens, aspetos da ruralidade, pormenores que se associam visualmente à natureza. Aqueles detalhes podem encontrar-se nas pinturas de Grão Vasco expostas no museu, o que pode motivar uma curiosa expedição às salas dos pisos superiores, à procura dos pormenores selecionados. No mínimo passamos a olhar a pintura de Grão Vasco, com outros olhos: para além dos temas principais encontra-se uma riqueza enorme de outras temáticas.
As imagens estão montadas numa associação cujo resultado visual final é uma grande tela, que nos leva ora a afastar para ver a imagem de conjunto, ora a aproximar para analizar cada um dos 240 detalhes. Pode passar-se muito tempo neste exercício de prazer visual.
Vale a pena visitar o site de Duarte Belo, que é uma espécie de Orlando Ribeiro das imagens, tendo também como um dos seus principais interesses a fotografia do território nacional. Um dos seus projetos debruça-se precisamente sobre o grande geógrafo. Encontramos no seu meticuloso método de trabalho, a mesma sensação que se desprende ao olhar aquelas paisagens de Grão Vasco. É, sem dúvida, uma exposição de autor. Foi pensada no âmbito da Comemoração do Centenário do Nascimento de José Saramago, inspirada na obra “Viagem a Portugal”.
A natureza, a paisagem e a ruralidade, é uma das minhas temáticas preferidas. Por esse motivo também aprecio especialmente a coleção de pinturas de naturalismo português, que se encontra no museu. Este meu gosto não é específicamente pictórico. Há vários anos que aderi a um grupo do facebook chamado “novos rurais em Portugal”, precisamente por veicular opções de vida relacionadas com viver no interior, ou dito de uma forma mais romântica, no campo. Tem sido uma tendência que se iniciou nos Estados Unidos pelos anos 60, com o movimento hippie, que acompanhei nas páginas da revista original “Mother Earth”, ainda em papel. Atualmente este movimento pode relacionar-se com pessoas da classe média, com níveis de educação altos e profissões por vezes desgastantes, que optam por mudar de vida. Mas, e cá encontramos de novo a pandemia, este grupo acaba de ser reinventado à luz dos novos paradigmas. E fui surpreendido recentemente pela notícia (no facebook, claro) que o grupo mudou de nome para “nómadas digitais”: “entre a tradição e a tecnologia, o campo e a cidade”.
Pareceu-me uma mudança realista, mas tive pena de se perder a designação “rurais”, que há vários anos alimenta o meu romantismo pessoal. E agora ao ver as “Paisagens de Grão Vasco”, dei por mim a pensar que esta é uma exposição que simboliza bem este movimento. Pormenores de pinturas a óleo do mestre, reproduzidos digitalmente, a formarem uma nova composição cujo tema realmente é a paisagem. Certamente que também nas vidas destes novos nómadas digitais se encontram paisagens, certos detalhes, que embora não constituam o seu tema principal, são o pano de fundo em que a sua vida e ação decorrem.
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