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O Bolo Podre e o Bolo de Azeite, tradicionalmente mais vendidos na altura da Páscoa nos distritos de Viseu e Guarda, estão a sofrer quedas nas vendas superiores a 50%.
“Houve uma quebra significativa, notória. Estamos a falar de uma quebra na ordem dos 60%”, destacou o responsável da Confraria do Bolo Podre e Gastronomia do Montemuro em Castro Daire, Adérito Ferreira.
O dirigente reconheceu que o Bolo Podre, “um folar e um doce tradicional de Páscoa”, teve uma “quebra significativa que já vem do ano passado, por causa da pandemia, porque não há circulação de pessoas, por causa dos confinamentos”.
“Ela tem acontecido e vai continuar a registar-se, porque havia uma quantidade grande de pessoas que se deslocavam a Castro Daire, principalmente na altura da Páscoa, e também uma boa quantidade de pessoas que, ao passarem por Castro Daire, levavam o Bolo Podre para os seus amigos e familiares”, adiantou.
Adérito Ferreira lembra que Castro Daire é atravessada pela Estrada Nacional 2, o que acaba por “ser uma passagem para muita gente” e que toda essa deslocação de pessoas, “mais os emigrantes”, refletia-se numa “fatia grande, em que todos os produtores tinham um quinhão grande, bastante forte,” na época pascal.
“Essa fatia não vai ser feita. A juntar a isto, este ano, também nos faltaram as feiras, como a Bolsa de Turismo de Lisboa, a Feira Ibérica da Guarda e o Festival do Pão, onde também o Bolo Podre tinha uma presença bastante forte”, reconheceu.
Uma presença que fazia uma “ligação ao território e mantinha vivo o desejo de saborear” o Bolo Podre e, para “tentar minimizar” as perdas, a confraria criou uma parceria com a Casa do Concelho de Castro Daire em Lisboa para fazer escoar a iguaria.
“Para que a comunidade castrense que ali vive, e é uma boa quantidade, e que estão privados de vir à sua terra, possam saborear o Bolo Podre. A casa em Lisboa regista as encomendas e na próxima terça-feira receberá os bolos para fazer a entrega e nós garantimos um valor para que não sejam penalizados pelos portes”, adiantou.
Com “cerca de 200” bolos já encomendados, este confrade reconheceu que “parte do transporte tem de ficar assegurada pelos produtores, porque um dos fatores que pesa na comercialização do Bolo Podre é a embalagem e transporte”, dadas as suas dimensões.
Uma iniciativa que, “correndo bem, poderá servir de fermento para alargar a outras zonas do país”, reconheceu Adérito Ferreira, que avisou “não haver lucro nesta iniciativa”.
“Isto é mais feito num espírito de voluntariado para manter vivo o Bolo Podre e a identidade do território”.
Também a lutar por “manter vivo o sabor”, mas do Bolo de Azeite, está a Padaria do Mileu, na Guarda, que, este ano, comprou “muito menos ovos e azeite”, porque “a venda caiu muito com a pandemia e com “a falta de circulação das pessoas entre os concelhos e até dos emigrantes”.
“É procurado, mas não tanto como nos anos anteriores. Tivemos uma quebra muito grande nas vendas, na ordem dos 40%, à vontade, e vamos voltar ter, porque mais uma vez não temos pessoas de fora, que levavam não só para consumir, como para oferecer aos afilhados e a amigos”, reconheceu Maria José Fernandes.
Esta responsável adiantou que o Bolo de Azeite “era a oferta tradicional dos padrinhos aos afilhados no domingo de Páscoa”, mas, a juntar à pandemia, também os miúdos de hoje não querem só o bolo, querem mais alguma coisa” e, para isso, a padaria ajustou-se aos tempos e reajustou os tamanhos.
“As famílias são cada vez menos numerosas e então já não fazemos os Bolos de Azeite com dois e três quilos. Agora têm mais ou menos quilo e meio e fazemos uns pequeninos de meio quilo e de um quilo, para tentar manter viva a tradição de o oferecer ao afilhado e para incentivar à venda até para as famílias mais pequenas”, reconheceu.
Da mesma forma que Adérito Ferreira deixou claro que o “Bolo Podre de Castro Daire, não é como noutras regiões, porque além das gorduras e dos ovos não leva mais liquido nenhum”, também Maria José Fernandes destacou que o Bolo de Azeite da Guarda “não é como o de Coimbra, que tem açúcar, nem como o de Trás os Montes, que tem carne”.
“Pode até vender-se todo o ano, mas é na Páscoa que o bolo tem muito mais saída e quando a faturação é maior”, reconheceram os dois responsáveis, cada um com o seu bolo típico da região.