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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Diogo Chiquelho
Nasceu para tirar do tédio os filhos de um congressista americano, nos anos 60 do século passado. Foi no estado de Washington, junto à cidade de Seatlle que o pickeball começou a ser idealizado, mas só uma década mais tarde ganhou visibilidade para ser organizado o primeiro torneio da modalidade. Tal como a origem parece ter sido absolutamente ao acaso, também o nome o desporto é de fácil explicação. Terá surgido por causa do nome do cão do congressista Joel Pritchard. O animal chamava-se Pickle e não suportava ver a bola em andamento. A bola era sempre dele. Facilmente surgiu o nome pickleball. E ficou.
O desporto que começou por tirar crianças do tédio está agora a ganhar força em Viseu. E um dos primeiros jogadores foi Valdir Clemente. Tem 69 anos e iniciou-se na modalidade há cinco. A história de vida de Valdir começa a ser escrita no Brasil, onde nasceu, mas a maior parte do ‘livro’ teve ação nos Estados Unidos, para onde foi viver ainda em criança.
E foi na América que começou a jogar esta modalidade que vai começando a ganhar espaço na agenda desportiva da região de Viseu e de Portugal. “Eu vivi 45 anos em Boston e nunca tinha ouvido falar em pickleball. Há oito anos mudei-me para a Carolina do Sul. Estávamos lá há seis ou sete meses quando alguém sugeriu à minha esposa que fosse ver um jogo. Ela nem ia preparada para jogar, mas alguém a convidou e acabou por gostar. Quando chegou a casa, disse para eu também ir na próxima vez. No meu caso, tinha jogado futebol e acabei por adaptar-me”, explica Valdir. E assim foi.
Daí a fazer do pickleball rotina foi como que um pequeno parágrafo. “Na Zona onde começámos a jogar, o pickleball foi começando a desenvolver-se. Havia só um campo e sete, oito pessoas a jogar. Acabou por ficar moda e chegámos ao ponto de não termos local para jogar”, recorda.
Pickleball, o desporto que exige mais concentração do que físico
Valdir defende que o pickleball é um desporto que, mais do que o lado físico, pede outras valências. “Fisicamente o jogador precisa de ter movimentação de braços e pouco mais. Mentalmente é que é preciso estar totalmente focado no jogo. É necessário entender os pontos, a posição em campo… É um desporto que pode ajudar as pessoas mais velhas. Nos Estados Unidos nota-se isso”, conta, referindo que os mais novos entraram já na rotina do pickleball.
A morar em Cavadoude, no distrito da Guarda, é em que Viseu que, Valdir e Deonor, assim se chama a companheira de vida, praticam a modalidade que aprenderam na América. “Jogávamos nos Estados Unidos e quando viemos para Portugal, a nossa terra natal, como diz a minha esposa, sentimos a falta do desporto. A Deonor fez pesquisa e descobriu que no Clube de Ténis de Viseu havia um campo”, detalha. E começou aí a ligação aos campos de pickleball de Viseu.
Foi também nessa circunstância que conheceram Francisco Gonzalez, presidente do Ténis Clube de Viseu. “Conversámos com ele e acabou por nos dizer que havia lugar para treinar, mas ninguém sabia jogar. Convidou-nos para ensinarmos o jogo e as regras”, recorda. Na primeira sessão, estiveram quatro pessoas. Nas aulas seguintes foram comparecendo mais interessados. “Foi criado um grupo de WhatsApp, sobretudo com pessoas que jogavam ténis. “Iam trazendo famílias e amigos e, aos poucos, ia aparecendo mais gente. Foi pegando”, sublinha.
Numa altura em que outro desporto de raquetes está a crescer, Valdir Clemente não tem dúvidas em afirmar que entre padel e pickleball há muitas diferenças. “O padel tem paredes e pede mais força e mais corrida a jogar. O pickleball é mais de pontaria, há linhas limite”, enumera. “Há pessoas que no início sentem muita dificuldade, parece mesmo muito difícil, mas vamos aprendendo e melhorando”, diz, em jeito de conselho. Semelhante ao ténis na pontuação, Valdir diz que no pickleball os pontos se conquistam quando a bola bate na rede ou sai fora de campo.
Uma vida dividida entre três países e três continentes
Como se fizesse uma autoavaliação, Valdir Clemente refere, na realidade norte-americana não é dos melhores praticantes de pickleball. No entanto, em Portugal volta e meia ouve dizer que é bom jogador. “Acho que tenho bons reflexos de braços. Sou muito rápido”, enaltece. Mesmo que o desporto que mais tenha jogado, até seja praticado com os pés. “Joguei toda a vida futebol. No Brasil é a única coisa que jogamos”, diz, entre risos. Valdir nasceu no Brasil, mas os pais eram portugueses, naturais de Gouveia. “Eu já nasci no Brasil, mas tenho dois irmãos que nasceram em Portugal. De lá fomos para os Estados Unidos. Saí do Brasil com 12 anos e a minha vida toda foi praticamente passada nos Estados Unidos”, conta.
E em cada palavra de Valdir, continua bem presente, o sotaque, o tal português com açúcar, como um dia escreveu Eça de Queirós, que remete para o país irmão, que deixou ainda em criança. À beira dos 70 anos, numa vida que atravessa três países e três continentes, Valdir diz que quando joga há jogadores mais novos que ficam admirados. “Perguntam-me como é que consigo pôr aquela bola, onde eles não chegam lá. Mas eles têm mais força, mais equilíbrio”, afirma. Acabaria por ser este desporto que cruzou as vidas de Valdir, Deonor e Francisco.
80 pessoas estão hoje ligadas ao pickleball em Viseu
O presidente do Clube de Ténis de Viseu, Francisco Gonzalez, lembra que no início da ligação do pickleball a Viseu havia apenas um campo para a modalidade no Campus do Instituto Politécnico de Viseu. “O Ténis Clube de Viseu, juntamente com o Instituto Politécnico de Viseu, a Federação Portuguesa de Ténis e a Associação de Ténis de Viseu, promoveram uma requalificação dos campos do Politécnico. Eu já conhecia a modalidade e acompanhei a evolução do pickleball e, em 2023, decidimos dedicar um campo no Politécnico dedicado ao pickleball, junto aos campos de ténis”, explica. A partir daí, seguiram-se sessões abertas e os chamados open-days.
Hoje a modalidade está na agenda desportiva de 80 pessoas em Viseu. “Pelo menos duas a três vezes por semana, ocupamos os campos do Politécnico. Há um dia por semana em que promovemos os open-days. Normalmente é aos sábados, das três às seis da tarde”, reforça.
Francisco Gonzalez defende que a força do pickleball está no facto de ser um desporto “divertido” que não exige uma “habilidade tão grande quanto isso”. E quando questionado sobre se há ligação entre padel e pickleball, Francisco rejeita que haja assim tantas aproximações. “O campo é diferente, as raquetes são diferentes, as bolas são diferentes. Há uma série de nuances que não são comparáveis ao padel”, vinca.
Torneio de pickleball é objetivo, garante presidente do Ténis Clube de Viseu
Neste momento, o Ténis Clube de Viseu tem cerca de 200 filiados. “Temos vindo a aumentar o número de praticantes inscritos no clube. No ano passado, ficámos nos 170, este ano vamos ultrapassar a barreira dos 200 atletas e chegámos a 230. O pickleball pode ter ajudado a aumentar este registo”, concretiza. A liderar o Ténis Clube de Viseu, Francisco Gonzalez acredita que o pickleball ajuda a explicar o aumento de inscritos e tem força para tornar-se dinamizador do conjunto de desportos de raquete na região de Viseu. “Acabamos por ser pioneiros no implementar deste desporto no distrito. Apenas em Santa Comba Dão existe outro espaço onde se pratica pickleball”, lembra. “Estamos isso sim a conseguir em Viseu manter um grupo a praticar a modalidade de forma consistente e a trazer novos elementos para experimentar”, enfatiza.
Para o futuro, Francisco não esconde a vontade de levar avante a organização de torneios de pickleball. “Esperamos conseguir trazer uma prova oficial a curto prazo a Viseu”, desvenda. Até porque, lembra, o Ténis Clube de Viseu foi dos primeiros clubes com ligação à Associação Portuguesa de Pickleball.
Por agora, continua a captação de novos jogadores. Mesmo que o início, nas primeiras tentativas, nem sempre tudo corra bem nos jogos. “Também eu tive um período de adaptação. Este é um desporto diferente, com serviço diferente, o ressalto da bola também é diferente quando comparamos com o ténis, por exemplo. Claro que continuamos a falhar, mas quanto mais se tenta, menos erros damos”, justifica.