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Que futuro terão as crianças?

 Que futuro terão as crianças?
20.03.22
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 Que futuro terão as crianças?

Na organização que dirijo, Obras Sociais de Viseu, aderimos à “Campanha Primeiros Anos: a Nossa Prioridade” que visa promover uma maior consciência de toda a sociedade sobre a importância dos primeiros anos de vida e dos direitos das crianças no processo de desenvolvimento humano. Os primeiros 1000 dias de vida são determinantes no desenvolvimento saudável. A relação com os pais, os cuidados recebidos, os estímulos, a genética, a alimentação, o ambiente em que se inserem, são alguns dos fatores fulcrais nos primeiros três anos de vida de uma criança.

As crianças que, neste momento, têm três anos, vivem há dois num contexto pandémico. Muitas já nasceram e crescem num mundo de adultos com máscaras, distanciamento social, testes, vacinas, enfim, num contexto que distorce as nossas vidas e as projeta num novo (a) normal. A UNICEF adverte no seu novo relatório sobre saúde mental, “A Situação Mundial da Infância 2021 – Na minha Mente: promover, proteger e cuidar da saúde mental das crianças”: “as crianças e jovens irão sentir o impacto da covid na sua saúde mental e no seu bem-estar durante muitos anos”. 

As nossas crianças estão a viver tempos perturbadores, agravados, desde o dia 24 de fevereiro, pela obscena invasão da Ucrânia pelas tropas russas. “As notícias, as imagens e as conversas sobre a guerra estão por todo o lado. As crianças e os jovens perguntam-se e perguntam sobre o que significam. Os adultos questionam-se sobre o que lhes dizer e como comunicar acerca do assunto.” Este alerta é dado pela Ordem dos Psicólogos Portugueses que disponibiliza, gratuitamente, um guia excelente “Conversar Sobre a Guerra: perguntas e respostas para pais e cuidadores de crianças e jovens”.

Sim, as nossas crianças precisam de uma atenção redobrada, a pandemia e a guerra podem deixar marcas fortes para os futuros adultos. Sabe-se, pelos estudos realizados, que muitos dos problemas de saúde mental dos adultos têm a sua origem na infância ou na adolescência. Cuidemos com amor, razão e critério, não hipotequemos as futuras gerações.
O que sente e pensa uma criança que tem que fugir do seu país?
O que sente e pensa uma criança que deixa o seu lar, os seus amigos, o seu animal de estimação, os seus brinquedos, as suas roupas?
O que sente e pensa uma criança que dá a mão ou vai ao colo da mãe com a roupa do corpo e uma mochila sem “destino”?
O que sente e pensa uma criança que se separa do pai que fica a combater o agressor?
O que sente e pensa uma criança órfã, entregue à sua sorte e às agressões de um mundo ameaçador?
O que sente e pensa uma criança que é vítima de tráfico e violência sexual?

A UNICEFE também afirma que a cada segundo há mais uma criança refugiada, desde que o conflito começou, em 24 de fevereiro. As crianças correm o risco de se separarem das suas famílias ou de serem vítimas de tráfico e violência sexual.  
As crianças e os idosos são as principais vítimas desta guerra que alguns, mesmo no nosso país, com honras de prime time, insistem em branquear. No caso das crianças, chamo à colação um estudo realizado com órfãos romenos que demonstrou, de forma inequivocamente brutal, como a ausência do toque e do carinho faz com que as crianças não desenvolvam habilidades cognitivas e emocionais. As 2000 crianças “depositadas” nos orfanatos, sem terem qualquer contacto de pele com outras pessoas e sem receberem afeto, ficavam em berços, sendo-lhes dado o biberão por entre as grades. Estas crianças denotaram problemas graves de desenvolvimento, quase autistas, sem falar e com dificuldades no controlo dos esfíncteres.

Mais de um milhão de crianças terá fugido da Ucrânia para os países vizinhos. O ataque a uma maternidade, em Mariupol, é algo aterrador, inimaginável, inqualificável. O cenário dantesco, exacerbado pelas urgências da Civilização do Espetáculo (Mario Vargas Llosa), desonra a humanidade.
As crianças ucranianas têm o direito de viver em paz – com as sua famílias e amigos, nas suas casas e no seu país – e de projetar um futuro risonho, no qual possam ser CRIANÇAS.

 Que futuro terão as crianças?

Jornal do Centro

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