A taróloga Micaela Souto Moura traz as previsões do Tarot, na semana…
Sabia que é possível parecer mais jovem e elegante com os seus…
No segundo episódio do programa “Bem-Vindo a”, tivemos o prazer de conversar…
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Raquel Costa, presidente da JSD Concelhia de Tarouca
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Joaquim Alexandre Rodrigues
Façamos o exercício de dividir a humanidade em dois grandes grupos: os que leem e os que não. Em boa linguagem culinária, reservamos o segundo grupo; será adicionado à receita numa fase final do preparado. Podemos dividir o primeiro grupo em dois novos conjuntos: os que têm sentido ético e os que não têm. Os que não têm, poderão azedar o preparado, impedindo que o cozinhado fique equilibrado. Levanta-se a pergunta de como os poderemos distinguir. Não é instantâneo, pois os que azedam a receita conseguem disfarçar-se bem, aparentando ares de seriedade e, frequentemente, superioridade moral. Sugiro então um apuramento de conceitos para que seja mais fácil equilibrar esta receita para uma humanidade mais equilibrada.
Economia é o conjunto das atividades exercidas pelos humanos para a sua subsistência. Pode ser também a disciplina que estuda a forma como as sociedades se organizam nessa dimensão. É nesse âmbito que geralmente falamos da necessidade de crescimento económico. Todos veem os noticiários com essa informação e todos parecem ter uma opinião sobre o assunto, apesar de muito poucos perceberem do que se trata. É aqui que podemos começar a distinguir os humanos que têm ética e os que não. Crescimento económico não é o mesmo que desenvolvimento económico. O crescimento económico prende-se sobretudo com um aumento quantitativo da produção proveniente das atividades económicas, não estando aí envolvida a melhoria das condições de vida. Pode implicar um enriquecimento de um país visto no geral, mas não implica que haja uma melhoria da vida de todos. Um país pode ter um espantoso crescimento económico e ser profundamente desigual com muita da população a passar grandes necessidades… Um prato de sopa para duas pessoas não é necessariamente meia sopa para cada um: frequentemente, é um prato de sopa para um e fome para o outro.
Os liberais do século XXI, usam a palavra liberalismo como se ela significasse liberdade. Tal não podia estar mais longe da verdade. Liberalismo é algo de que fugiam os inventores do nosso Abril. O liberalismo está mais próximo de um Salazar que favorecia os grandes financeiros do que de um país democrático que permite a realização de todos. O liberalismo de hoje é uma aranha que defende a menor existência do Estado, pois não acredita que seja possível criar um sistema que distribui riqueza. Acredita que a única forma de eliminar a miséria é permitir que alguns enriqueçam sem limites, podendo depois elevar ligeiramente a miséria dos que não enriquecem, dando-lhes empregos que lá lhes permitirão pagar as contas. Estes liberais acreditam que o crescimento deve ser contínuo, mesmo quando os recursos se esgotam. Acreditam que quando a Terra se esgotar, poderão ir para Marte, porque são eternos no seu esplendor trendy de caqui. Acreditam também que, após a extinção de um Estado social, caberá ao mesmo Estado dar resposta aos azares cíclicos dos ultramilionários que afinal tiveram menos lucros nesse ano. Perfilham o Milton Friedman e piscam o olho ao John Keynes quando lhes convém (os que leem, podem ler mais sobre isto). São os que aceitam como normal que tenhamos de pagar a nossa saúde ou morrer à porta das urgências como nos E.U.A.. São os que acham que a Segurança Social é um entrave ao desenvolvimento e que as garantias sociais de vida são um encargo desnecessário.
Voltemos à nossa receita. Como separar então os humanos com sentido ético dos que não o têm? Como pode o estimado leitor perceber se é um humano com ética ou se caminha para o abismo interior do desprezo pela própria espécie? De forma simples. Imagine um mundo liberal sem Estado Social. Durante a pandemia, a sua empresa fechava e não tinha direito a médicos, a vacinas, a testes, a apoios ao desemprego. Imagine que ganha 700 euros por mês e tem de pagar 100 euros por cada ida às urgências, mais 450 de aluguer de um T1, mais 200 do carro, mais 60 de luz e 50 de gás. Imagine que pertence a uma minoria étnica e que, por isso, lhe negam o aluguer da casa. Não há impostos, mas também não há Estado… Ninguém lhe vai valer. A Associação de Voluntárias Liberais Esposas do Senhor Doutor não lhe vai valer porque não há apoios estatais para a financiar e isto da caridade é caro… Imagine este mundo e agora perceba como se sente. Se lhe parecer um quadro simpático e desejável, pode colocar-se no conjunto dos indivíduos sem sentido ético, sem perceber que um humano em sofrimento é uma derrota para a humanidade.
Penso que não há desculpas para esta ausência de sentido ético. Trata-se de uma forma de maldade revestida de habilidades retóricas.
Agora adicionemos a este conjunto os que não leem, mas que acham que devem seguir o senhor doutor porque ele lê e dá-se ares de muito entendedor e até é rico… Temos uma bela empada de futuro comprometido. Um crescimento económico para lá dos recursos. Um planeta esgotado com 100 ricos e milhões de famintos que, graças ao liberalismo, sempre vão tendo a sorte de comer as migalhas que caem da mesa e pagar mais 50.000 euros pelo próximo MBA para serem especialistas numa área digital que vai dar, de certeza…
A nossa receita tem de voltar ao início e não excluir ninguém…
Acredito que esta não é a melhor forma de cozinhar a nossa empada de futuro. Não podemos retirar nenhum humano, leia ou não leia, saiba ou não o que é economia e o que é política. Temos de desenvolver um sentido ético em todos. A receita deve contar com o reforço da ação coletiva daqueles que sempre foram marginalizados. Deve contar com a ação ética que não exclui ninguém e permite que todos entrem no mesmo tabuleiro. É a altura para conquistar os direitos sociais sempre adiados. É altura para acabar com o analfabetismo e ensinar a ler àqueles que ainda poderão vir a ter sentido ético. Corremos o risco de matar aqui a história, num longo suicídio cheio de glamour e celebridades vazias, plenas de filtros e de selfies. Uma empada de nada.
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Raquel Costa, presidente da JSD Concelhia de Tarouca
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Helena Carvalho Pereira
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José Carreira