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Jorge Antunes, “pelo seu percurso exemplar, as suas competências e o seu enorme sentido de entrega e abnegação à causa pública” nas suas funções enquanto comandante do Corpo de Bombeiros Sapadores de Viseu é uma das personalidades que a 21 de setembro – Feriado Municipal – recebe medalha municipal de mérito. Nesta entrevista, que simboliza também todos os outros homenageados, fala dos seus tempos de juventude, da casa que ardeu e de como ía para a janela ver os carros de bombeiros a passar
O que representa para si esta medalha que vai receber?
Eu não estava à espera e penso que representa todo o trabalho que fiz nos Bombeiros Municipais, agora Sapadores de Viseu.
Quando entrou para esta família?
Em 1998.
Quase 30 anos à frente de uma instituição. Muitas mudança a que assistiu. Era uma corporação diferente quando entrou naquela casa?
Eu era bombeiro voluntário desde 1982. Entrei nesta casa como comandante. Quando entrei tinha muita gente. Tinha à volta de 60 homens na altura.
Nestes quase 30 anos de carreira o que mudou na corporação?
Principalmente a mentalidade dos operacionais. Depois, o equipamento individual e de proteção que quando eu cheguei era inexistente.
As exigências hoje são diferentes daquelas de quando entrou no comando?
Bem, as exigências são as mesmas. O problema é que a mentalidade de ir para o incêndio, por exemplo, é que é diferente. Agora a mentalidade é proteger habitações e pessoas. Antes fazia-se tudo. Protegia-se tudo e combatia-se o fogo…
As técnicas agora são diferentes? Vê vantagens e desvantagens?
Agora é mais proteger populações e habitações. Antigamente, íamos a todo o lado. Nós também tínhamos viaturas para isso. Por exemplo tinha veículos antigos que nunca mandei abater no efetivo porque eram uma mais valia. Viaturas pequenas que numa primeira intervenção faziam toda a diferença. Apesar de termos pouco pessoal, íamos diretamente à linha de fogo. Agora não é assim.
As formas como se ataca o incêndio era diferente?
Sim, antes era mesmo em cima. Vi-me em situações aflitas mas que felizmente passaram. Uma perna partida, um braço queimado, mas isso são ossos do ofício, contingências da própria profissão.
Profissão que é muito de voluntariado?
Voluntários haviam antes… agora há assalariados. Pelas contingências da vida atual querem ter dinheiro ao fim do mês.
Na sua perspetiva, a forma como está hoje montado o sistema de proteção civil é a correcta?
Eu penso que deveriam dar mais atenção ao ataque inicial do fogo. Não deixar sempre o fogo chegar à estradas para tentar apagar ou antes… controlar.
No dia em que estamos a fazer esta entrevista, a região de Viseu está a arder. Uma situação que mesmo não sendo nova ninguém se habitua, mesmo sendo-se bombeiro…
Eu dizia sempre aos meus homens para não terem ilusões. Os fogos começam no Alentejo e Algarve, depois vêm par o norte. Em setembro aparecem no centro… dizia sempre aos bombeiros para não terem ilusões porque chegavam cá.
Com tantos anos de carreira terá, de certeza, boas e más recordações?
As boas foi conseguir sempre extinguir os fogos, fosse em habitação ou áreas rurais. Para nós é uma satisfação de dever cumprido. As más recordações são as pessoas que, infelizmente, quer nas habitações ou viaturas, ficaram carbonizadas. É uma sensação estranha ver as pessoas num tamanho que não é o real.
A sua carreira não é só como comandante. É, principalmente, médico. É uma mais valia ter um médico comandante?
A minha profissão ajudou no socorro. Antigamente não havia VMER, por exemplo, e nós tínhamos de fazer o melhor possível. Quer fosse nos incêndios ou acidentes, há sempre pessoas que perdem os seus bens e entes queridos. Tínhamos que apoiar e ajudar também neste campo.
Fale-nos agora um pouco da sua carreira médica…
Acabei o curso em 1983 em Coimbra. Comecei a exercer no Hospital de Lamego, onde estive durante seis meses. E depois vim para o Hospital de Viseu. Ainda era o hospital velho, fiz o curso para clínica geral e passei para o centro de saúde. Sou médico de medicina geral e medicina do trabalho. O bichinho pela medicina foi porque sempre gostei. Interrompi dois anos para ir à tropa, depois regressei a Coimbra e fiz o curso. Sempre gostei de medicina.
Regresso ao início da entrevista porque quer como comandante, quer como médico, já muitas gerações “lhe passaram pelas mãos”. É um sentimento de dever cumprido esta medalha?
É como lhe digo. Não estava à espera. Sou uma pessoa simples, que gosta de ajudar. Nunca estou a espera de nenhuma recompensa.
Até deixar o lugar, há cerca de ano e meio, era o comandante mais antigo na região?
Sim, era. Recebi uma medalha há três anos em Lamego por ser o mais antigo. Convém dizer que quando fui convidado para ser comandante dos Bombeiros Municipais, na altura pelo doutor Fernando Ruas, eu disse que aceitava mas sem remuneração. Disse que ía para lá, mas só se fosse a título gracioso. Estive lá estes anos todos a custo zero.
E agora? Está afastado?
Estou afastado. Vou continuar a exercer a minha profissão. Quando deixei fiquei triste por ter de abandonar esta casa porque sempre gostei de ser bombeiros. O meu pai já era bombeiro. Eu apesar de ter nascido na Sé, mudei-me para perto da Feira até a casa arder…
Então foi aí que acordou para esta causa?
Os meus avós tinham lá a pensão e ardeu a casa. Tinha aí uns cinco anos, talvez. Lembro-me dos bombeiros estarem com uma escada por onde desci. Depois fui viver para a 21 de Agosto e como tinha sempre os bombeiros ali ao meu lado, muitas vezes ía jogar futebol para a parada deles. Sempre tive contacto com os bombeiros. E quando tocava a sirene eu ficava na janela a ver as viaturas a sair.
Escolheu sempre viver em Viseu.
Sempre. Tive oportunidade de sair, até para França e escolher o sítio onde quisesse morar, mas eu nunca fui assim muito aventureiro. Tinha de deixar tudo e não estava disposto a isso.
Além da medicina e dos bombeiros, também tem um trajeto associativo?
Agora não tenho tanto. Durante muitos anos ajudei o Repeses e também o Lusitano quando eram as inspeções médicas. Ajudava, mas disse logo que para o campo aos domingos não ía porque a família estava em primeiro lugar já que durante a semana não me viam os olhos. Ajudava, fazia as fichas médicas, mas mais do que isso não.
E a vida política?
Fui dos primeiros aqui em Viseu a filiar-me no PSD. Em maio de 1975, juntamente com o meu colega Mota Faria. O PSD, na altura, tinha uma barraca na Feira de S. Mateus e os dois fomos lá para nos filiar (risos). Nunca quis cargos de destaque. A política nunca foi o meu interesse, mas gostava do pensamento do Sá Carneiro. Tive a oportunidade de ter estado com ele em Viseu e no congresso em Leiria, era ainda estudante. No congresso, tinha comigo o livro dos estatutos do PSD/PPD e vi o Doutor Sá Carneira a ir ao corredor. Levantei-me que nem uma flecha e fui ter com ele para me autografar o livro.
O que recorda dessa altura da juventude?
Da antigamente gostava do aspeto associativo que havia na altura. Havia o Instituto, o Orfeão, o Clube, as matinés dançantes… era um convívio salutar. Na minha juventude não havia discotecas e fazíamos o nosso pé de dança e namoriscávamos um bocadito nestas três instituições. Agora dançam sozinhos (risos). É uma coisa impessoal. Viseu era uma cidade pequena.
Então que cidade é esta onde vive agora?
É uma cidade cosmopolita. Que tem muita oferta. Boas vias de comunicação. Ainda me lemnbro no meu tempo de liceu, ali na zona de Marzovelos, era tudo mato e tínhamos lá um campo de futebol. Quando havia furo íamos todos para lá jogar à bola.
E a família?
Sempre esteve habituada a ser médico, a fazer noites. Não havia sábado e domingo. Como bombeiro também não se alterou muito.