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Tem um livro parado na estante há meses com o marcador sempre na mesma página, a implorar para que abrande um pouco? Quer quebrar o ritmo acelerado do dia a dia em que tudo o que faz é “para ontem”? Em Viseu, há muitas opções de escolha no que diz respeito à área literária, com cada vez mais clubes de literatura a surgir – uns de cariz mais amador, outros divulgados por instituições públicas e privadas.
Um desses clubes foi criado no ano passado e tem sido liderado pelo escritor, dramaturgo e ator Gabriel Gomes.
Este clube de leitura foi criado em julho, em parceira com a Fnac, e o convite foi lançado por Filipa Sacramento, responsável de comunicação da loja de Viseu. “Nós já nos conhecíamos porque estudámos juntos no secundário e como ela também começou a ver que eu comecei a investir mais na área da escrita e da literatura, lançou-me este desafio de poder coordenar o book club na Fnac”, explicou o jovem escritor de 28 anos. A relação entre os dois, contudo, desenvolveu-se não apenas no ensino secundário, como também na área teatral. “Conhecemo-nos no teatro quando éramos mais novos e eu admiro-o muito enquanto artista e enquanto escritor. O Gabriel já veio apresentar os livros à Fnac e já fez alguns ateliês de escrita criativa. Na altura pensei ‘quem melhor que o Gabriel para ser o nosso representante do clube e o nosso moderador’”, assumiu a responsável da Fnac.
O número de pessoas pertencentes a este clube atinge quase uma centena de membros, embora nem todos frequentem as sessões de discussão fisicamente, no espaço da Fnac de Viseu. “Há muitas pessoas que estão a acompanhar e que, inclusive, sabem qual é o livro que estamos a ler e sobre o que é que estamos a falar”, explicou o escritor.
Se, por um lado, há cada vez mais meios tecnológicos e redes sociais que entretêm as pessoas ao longo dos seus dias, o mercado dos livros tem estado em crescimento nos últimos anos, especialmente entre os jovens adultos. Além disso, contou Filipa Sacramento, géneros como o mangá, as novelas gráficas e a banda desenhada têm tido cada vez mais leitores.
“No book club tem sido um tema recorrente perceber como é que várias gerações se estão a encontrar ali no clube”, disse Gabriel Gomes. “Na sessão de dezembro esteve uma professora que está prestes a reformar-se e que disse que adorou não só a iniciativa, como o facto de estarem várias gerações na iniciativa”, contou.
Os livros, escolhidos por Gabriel, podem ser de qualquer género e de qualquer autor, e “diferente” é sempre a palavra de ordem. “Tenho tentado que sejam livros sempre muito diferentes uns dos outros, de um mês para o outro, e tenho alternado entre autores lusófonos e autores estrangeiros, entre homens, mulheres, por exemplo, o livro do mês passado foi de uma autora brasileira, mulher e era uma coisa muito da vida real, do quotidiano. O deste mês é de um autor japonês e que tem muita ficção e muita fantasia, com viagens no tempo, precisamente para obrigar todo o tipo de pessoas a lerem coisas bastante diferentes e que provavelmente nem iriam ler por elas próprias”, assumiu o escritor-ator. Além disso, Gabriel tenta que os temas dos livros coincidam com temáticas a serem destacadas nesse mês – em outubro de 2024, mês em que se assinalou a saúde mental, o autor levou uma escritora, também ela doente mental, cujo livro abordava esta temática.
Se, por um lado, o objetivo é crescer cada vez mais e levar o hábito da leitura até mais pessoas, por outro lado, Gabriel procura sempre manter o espírito intimista que gere estas sessões literárias. “Uma das primeiras coisas que eu propus fazer, em conversa com a Filipa, era que eu não estivesse no palco e as pessoas todas numa plateia”, explicou. “Fazemos uma roda e estamos todos ao mesmo nível com uma conversa entre todos”. Outro estigma que Gabriel quis desmistificar nas suas sessões foi a ideia que os livros e as conversas sobre as leituras eram algo com um nível de intelectualidade superior: “Neste caso é mesmo uma conversa que estamos a ter e o que queremos é formar uma comunidade de leitores, um grupo de pessoas que partilham o mesmo gosto, mesmo que depois uns gostem mais de uns livros de determinado estilo”, detalhou o escritor.
“Acho que há uma saturação tal de tecnologia, de redes sociais e acho que as pessoas tentam refugiar-se um bocadinho nisto”, contou Filipa Sacramento. O ator-escritor viseense foi mais longe, e explicou que “parece que há uma coisa que se tem vindo a perder e que tem diminuído ao longo dos tempos, especialmente porque há pessoas que abandonam completamente a leitura depois de saírem da escola, porque foram muitos anos a lerem coisas que lhes eram impostas”. No fundo, para o orientador do book club da Fnac, as sessões mensais são um modo de juntar pessoas que “tiveram uma mesma experiência semelhante à delas, para poderem partilhar não só aquilo que leram e o que é que acharam sobre isso, como também o que é que foi este ato de ler”.
Entre o teatro, os livros e as oficinas de escrita criativa
Gabriel Gomes é responsável pela publicação de quatro livros. O primeiro, “Éramos nós, uma arma e nós”, é uma peça de teatro publicada em 2016. O segundo livro, “Antagónico”, foi uma novela publicada em 2022. Seguiu-se “Temporário Eclipse Permanente”, um romance que saiu para o público em 2023. No ano seguinte, foi a vez de Gabriel Gomes publicar o livro de poesia “Sem Tempero”.
Licenciado em Teatro pela Escola Superior de Teatro e Cinema, Gabriel Gomes concluiu recentemente um mestrado em Escrita Criativa pela Universidade de Coimbra. Inicialmente, Gabriel Gomes começou por representar no grupo jovem do Teatro Viriato. Fundador da companhia ArDemente, é ainda dramaturgo e ator para esta companhia. Além disso, o artista é ainda responsável por vários workshops tanto em escrita criativa como em atuação e leitura.
“As coisas principais que eu costumo transmitir é que não é preciso haver as condições ideais, de ter a ideia incrível, o espaço perfeito, ter tempo livre ou outros pormenores para realmente se poder escrever”, contou o escritor. “O ato da escrita, tal como a leitura, também é uma coisa que se tem perdido cada vez mais e uma coisa que eu faço sempre questão de fazer nestas oficinas é o escrever à mão, que é algo que se tem perdido ainda mais”, detalhou.