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Esta época é simultaneamente um momento de ansiedade, consumo, exagero e resoluções para uma vida melhor. É um tudo-em-um de vida contemporânea. Encharcamo-nos de anúncios e compras, imagens de como foi e ansiedade constante de como vai ser. No final, já poucos saberão que festa é esta e de onde veio. Alguém nos convenceu de que somos consumidores (apesar de ninguém saber o significado da palavra) e que esta é a altura para o fazer em grande. Consumir para nós e para os outros será a festa máxima do gado dócil em que nos tornámos.
Somos ruminantes amestrados. Exibimos com orgulho essa identidade de consumidores e só libertamos a nossa essência de predadores nas caixas de comentários das redes sociais e na raiva ao volante, orientando a nossa pouca energia sobrante para os alvos que os media e os bots das redes sociais nos vão apontando. É o governo, são os deputados, é o presidente da república, são os islâmicos, são os israelitas, são os roma, são os estrangeiros, são os altos, são os baixos, os amarelos e os azuis… Pelo caminho andamos stressados com as compras, abalroamos a senhora do lado com a pressa de chegar primeiro à caixa, discutimos com a família porque o bacalhau ainda não foi comprado e ultrapassamos o limite na estrada para chegar quanto antes à promessa de uma consoada que é só uma refeição exagerada de comida e cansaço que termina com televisão e indigestão… Enquanto isso, compramos. Sempre em busca da melhor oferta. O mais esperto é aquele que tem cartões de desconto e faz as compras quando o supermercado lhe diz.
Parece caricatura, mas não é. É a vida real… Toda a gente e todos os canais noticiosos comerciais falam de uma crise que se mantém desde 1128, mesmo que todos os indicadores mostrem a incrível evolução na vida de Portugal nos últimos 50 anos. Ainda assim, com todo este pessimismo endógeno, aposto com o caro leitor que este ano vão ser batidos recordes de gastos em prendas e compras de natal…
Sabemos hoje que uma grande parte da nossa ação diária é condicionada pelo efeito dos massmedia e dos media de rede. Como tal, sugiro uma dieta especial para uma festa especial. Para as próximas semanas, vamos reduzir a exposição a redes sociais. Só 15 minutos por dia; menos whatsapps do grupo dos pais da escola; menos facebooks e instagrams; desligar os dados e o wi-fi durante as refeições; não ligar a televisão com notícias em direto à hora das refeições. Isso irá gerar uma redução de conteúdos desagradáveis que vai certamente tornar a nossa vida melhor. Quanto menos dopamina for produzida pelo efeito dos smartphones, menos alienados ficaremos.
A dieta obriga também a uma exposição a material noticioso adequado. Nesta dieta, só podemos ver notícias de programas como o Portugal em Direto da RTP e de certos canais regionais, como o nosso Jornal do Centro e alguns jornais impressos nacionais não sensacionalistas. Não ficaremos alheados do mundo com toda a certeza. Ficaremos bem informados, sem pânicos desmesurados, maledicências ou acréscimos de tacanhez.
O mundo está a mudar demasiado depressa e, na vertigem da mudança, bem merecemos alguma tranquilidade, nem que seja só um mês por ano; um mês em que nos abraçamos porque nos disseram que o devemos fazer…
Se a dieta correr bem, deve repetir-se mês após mês sem receio. Não tem contraindicações.
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