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Viseu não foi pró Maneta

 Viseu não foi pró Maneta
24.08.24
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 Viseu não foi pró Maneta

por
Joaquim Alexandre Rodrigues

Como vimos na semana passada, em 1808, durante as invasões francesas, tivemos duas «revoluções»: a de Arcos de Valdevez e a de Viseu, a primeira muito subversiva, a segunda nem por isso. Em Viseu, os protagonistas populares, chegados ao poder, apelidaram-se de “Junta dos Prudentes” e trataram de devolver depressa o mando da cidade ao bispo. Esta “prudência” viseense teve mais um episódio naquele ano mas, primeiro, vejamos quem foi o Maneta e o que ele fez na Guarda.
Louis Henri Loison foi um general ao serviço de Napoleão que não tinha freio moral nenhum: por onde passava deitava a única mão que tinha a tudo o que podia e era extremamente cruel. Estas rimas então muito populares descreviam-no bem: “Aos alheios cabedais / lançava-se como seta / namorava branca ou preta / toda a idade lhe convinha / consigo três émes tinha: / Manhoso, Mau e Maneta.” A ele devemos a expressão “foi tudo pró Maneta”.

Na sua “História Geral da Invasão dos Francezes e da Restauração deste Reino”, publicada logo em 1811, José Accursio das Neves descreveu a criatura em pormenor.
Por exemplo, na Guarda, Louis Henri começou por dizimar as milícias locais que o atacaram e a seguir foi tudo a eito, matou “velhos, aleijados, mendigos”, freiras; saqueou e queimou todas as casas. Na Guarda “foi tudo pró Maneta”.
Era assim em todo o lado, mas em Viseu foi diferente. Quando souberam que ele se estava a aproximar, as autoridades da cidade reuniram-se “para se decidir se havião de resistir-lhe, ou deixallo entrar como amigo”. O general Florencio José Correa de Mello votou “pela resistencia” e “o vereador mais velho foi da mesma opinião; mas ficárão vencidos em votos, porque se oppozerão todos os mais.”
Em conformidade, fez-se uma “recepção amigavel” a Loison, que acampou as suas tropas “fóra da cidade, no campo da feira”. O homem “aquartelou-se na casa do General” Florencio e mandou “fazer a barba por hum barbeiro da terra”, embora, à cautela, durante o acto, “dois soldados” tinham “apontadas as baionetas para o barbeiro”.
No dia seguinte, o Maneta “partio, sem fazer hostilidade alguma, tendo pago toda a despeza, que as suas tropas tinhão feito.”
Viseu “não foi pró Maneta”.

 Viseu não foi pró Maneta

Jornal do Centro

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 Viseu não foi pró Maneta

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