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Não quero um país de velhos supérfluos

 Não quero um país de velhos supérfluos - Jornal do Centro
02.05.25
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 Não quero um país de velhos supérfluos - Jornal do Centro

por
José Carreira

A confederação Salud Mental España difundiu, recentemente, uma nova edição da campanha #SaludMentalFeminista, focada na consciencialização do impacto do idadismo na saúde mental das mulheres, especialmente das mais velhas. A iniciativa visa desconstruir os estereótipos relacionados com o envelhecimento das mulheres que prejudicam a sua saúde mental. Ao longo das suas vidas, as mulheres suportam diversas discriminações e preconceitos, relacionados com o género; o aspeto físico, a capacidade laboral, a maternidade, a sexualidade, a autonomia pessoal e económica, a saúde, a inteligência, as tarefas de cuidado… Estas ideias contribuem para explicar piores salários, maior risco de pobreza, invisibilidade, menor representação e participação no espaço público. É facilmente verificável que o envelhecimento das mulheres é um dos fenómenos que menos aceitação gera socialmente. São as principais vítimas da gerontofobia / velhofobia. Relegadas para papéis secundários nos meios de comunicação, a sua sexualidade é anulada, o valor social é associado e dependente da capacidade demonstrada como mãe, avó ou cuidadora, ignoram-se as suas capacidades, necessidades, gostos, interesses, inquietudes e projetos de vida. 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “documentaram-se disparidades no acesso que as mulheres mais velhas têm a cuidados preventivos e a tratamentos”. Diferenças exacerbadas quando se verificam problemas de saúde mental. Há relatos de barreiras no acesso a consultas e na realização de exames médicos, necessários para doenças independentes da sua situação psicossocial, com clara violação dos seus direitos. A OMS, no Relatório Mundial sobre o Idadismo (2021), refere a dupla ameaça “na qual as normas patriarcais e um interesse superlativo pela juventude têm como consequência uma deterioração mais acelerada da situação para as mulheres mais velhas em comparação com os homens.” O idadismo cruza-se com outros estereótipos, preconceitos e discriminações, entre eles, o sexismo, o racismo e o capacitismo. Quando há um problema de doença mental, a mulher é atingida por múltiplas discriminações que se agudizam se, por exemplo, é migrante, negra, LGBTIQ+, pobre…

Depois das declarações, em 2017, ridículas e inaceitáveis do então presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem, segundo o qual “Não se pode gastar em mulheres e álcool e, depois, pedir ajuda”, surgem novas atoardas, desta vez de Kristalina Georgieva, diretora-geral do FMI: “A população mais idosa em Portugal tem das “capacidades cognitivas” mais baixas num conjunto de três dezenas de países analisados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), um problema que surge associado a níveis inferiores de rendimento por pessoa, a uma menor vitalidade da economia e a uma maior ameaça demográfica, via envelhecimento, à produtividade e à prosperidade futura, alerta o FMI num estudo divulgado no âmbito do novo World Economic Outlook (Perspetivas Económicas Globais), edição da primavera.”. 

Se é mulher; nasceu em Portugal; tem a “ousadia” de envelhecer; “optou” por nascer, viver e envelhecer pobre e tem baixas capacidades cognitivas, estará a colocar em causa a vitalidade da economia, a produtividade e a prosperidade do seu país. É uma “velha supérflua”! “Numa sociedade em que tudo o que não é absorvido na lógica capitalista de valorização é empurrado para o estatuto de inferior e deficiente, também a velhice nunca pode ser outra coisa senão uma deficiência e algo de perturbador.” (Andreas Urban, Velhos Supérfluos, Antígona, 2024) 

Não quero um país em que, seguindo os exemplos japonês – “os idosos doentes devem morrer rapidamente para o bem da economia.” (declarações do Ministro da Economia Taro Aso, 2013) e americano – “a economia é mais importante do que a vida dos mais velhos” (Vice-governador do Texas Dan Patrick, 2020).

Não quero um país onde as pessoas idosas são despejadas porque a lei do arrendamento não protege todos os inquilinos com mais de 65 anos.

Não quero um país em que as pessoas idosas, que vivem com demência, abandonam as urgências e desaparecem.

Não quero um país que assiste, sem se revoltar, ao abandono de idosos nos hospitais e ao aumento dos internamentos sociais que representavam, em março deste ano, 11,7% do total de internamentos nos hospitais públicos. 

Não quero um país onde morreram 757 idosos sozinhos em casa nos centros urbanos, nos últimos três anos. 

Desengane-se quem crê que esta é uma tragédia dos pobres.

A morte solitária não escolhe classes sociais.

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