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Foi a partir do Porto que Bárbara Gomes concedeu uma entrevista, em exclusivo, ao Jornal do Centro, onde revelou todos os pormenores do seu percurso até chegar ao AMJ F.C. Porto. A atleta viseense, que já conta com três campeonatos nacionais e 18 internacionalizações por Portugal no seu currículo, explicou o porquê de ter deixado Viseu aos 15 anos e muito mais.
Como é que o voleibol surge na sua vida?
O meu pai é treinador de voleibol no Cardes (Centro de Artes e Deporto de Barbeita -Viseu) e, então, desde pequena que eu comecei a acompanhar os jogos de voleibol. Eu acho que acabou por surgir um bocado pelas vivências, lembro-me, nessa altura, que sempre quis fazer parte da equipa dele, inclusive, muitas coisas que eu aprendi foi por estar constantemente a observar as outras atletas. Depois, inevitavelmente, a partir dos 10 anos comecei a fazer parte das equipas do Cardes.
Aos 13 anos começa a treinar no Porto todos os fins de semana. Aos 15 anos vai definitivamente para lá. Como decorreu todo este processo?
Eu comecei a jogar federada aos 11 anos nas equipas do Cardes e, passado dois anos, eu era infantil e estava a jogar na equipa de juniores porque nós não tínhamos os outros escalões jovens. O meu pai (treinador do Cardes) dizia-me que para o panorama de Viseu demonstrava capacidades, mas que queria ver como é que eu me comportava ao lado de jogadoras da minha idade e com outro tipo de formação no voleibol.
É nesse momento que começa a aventura?
Sim, é. Estavam a decorrer treinos de captação organizados pela Associação de Voleibol do Porto e ele quis levar-me ao primeiro treino, e eu fui. Lembro-me, na altura, de chegar lá e dizer que era de Viseu e as pessoas pensarem: “o que é que é esta miúda está aqui a fazer?”. Mas as treinadoras que me avaliaram disseram que gostavam que eu continuasse a ir a estes treinos e, durante dois anos, todos os domingos, os meus pais levavam-me a Matosinhos (Porto) para eu treinar com as outras raparigas que também estavam nestes centros de formação. Ao fim destes dois anos, a selecionadora portuguesa das camadas jovens foi lá ver-nos treinar e, na altura, ela gostou de mim e fui fazer um estágio de duas semanas aos Carvalhos (Porto), que era onde elas estavam a treinar. Acabei por ficar na seleção em regime de internato com as outras meninas. Ou seja, eu fiz o meu secundário todo nos Carvalhos, porque estava em regime de internato na seleção.
No terceiro ano de seleção surge o Colégio Nossa Senhora do Rosário…
Estive dois anos a treinar na seleção e ao fim de semana ia jogar pelo Cardes. No último ano fui do Cardes para o Rosário. Esta época foi incrível e era o meu primeiro ano de seniores, tínhamos uma equipa muito jovem e a ambição era ficar nos quatro primeiros lugares. No final da época ganhámos tudo, só não ganhámos a supertaça porque ainda não havia (risos).
Ganhou tudo no Rosário e depois foi para Porto Vólei. Porquê?
No ano a seguir, a equipa toda do Rosário foi para o Porto Vólei. O projeto era praticamente o mesmo, mas surgiu esta associação.
Voltámos a ganhar tudo neste primeiro ano no Porto Vólei, a partir daí foi difícil mantermo-nos no topo. Na segunda época, não conseguimos ganhar nada apesar de termos ido às finais, e nos outros dois anos conseguimos bons resultados, mas nunca mais consegui ganhar tudo numa época. Há dois anos mudei-me para o AJM F.C. Porto, numa fase inicial, nem sabia que o projeto se ia associar ao FC Porto, portanto só soube mais tarde, depois de ter assinado. Na altura, fui em busca de um projeto que completasse as minhas ambições enquanto atleta e correspondeu ao que eu estava à procura.
Isto tudo enquanto estava na faculdade?
Sim, no meu último ano no Porto Vólei acabei o meu curso e surge a oportunidade de ir para o AVC Famalicão. Foi uma experiência completamente diferente, um treinador diferente, uma estrutura mais profissional, a equipa que estava a ser contruída era para ganhar tudo e havia o fator de irmos às competições europeias.
Quando começou a ter a perceção que o voleibol poderia ser o seu futuro a nível profissional, alguma vez pensou em abandonar os estudos?
Não. Nunca pus isso em questão. A partir do momento em que fui para a seleção treinávamos todos os dias, havia muitos dias em que treinávamos às seis da manhã, depois íamos para a escola e à tarde voltávamos a ter treino. Só que, neste processo, tínhamos a selecionadora que era quase como uma segunda mãe e ela não admitia que nós tivéssemos más notas, incentivava-nos a ser muito boas no treino, mas também a ser muito boas na escola.
Para mim nunca foi difícil conciliar as duas coisas, mesmo quando entrei na faculdade. Quando entrei para a universidade o voleibol passou a ser uma prioridade, mas mesmo assim consegui conciliar. O meu curso era de quatro anos e eu fi-lo em quatro anos.
Como é a rotina de uma jogadora de voleibol profissional?
Nós treinamos muito. Por norma, nós costumamos ter por semana, dois ou três dias em que fazemos treinos bidiários e depois os outros dias treinamos sempre à tarde. Ao fim de semana fazemos sessões de vídeo para estudar o adversário e a nossa própria equipa.
Foram seis anos de ligação ao Cardes (Viseu). Que importância teve este clube na sua formação como atleta e pessoa?
Foi muito importante. Foi lá que eu dei os primeiros passos no desporto e até cheguei a praticar atletismo durante um ano, mas não gostei muito (risos). O Cardes permitiu-me aprender e a estar comprometida com alguma coisa, e acho que isso é muito importante tanto no desporto como na vida. Como atleta, acho que foi muito importante o facto de ter saltado uns degraus acima na minha formação, porque me obrigou a crescer muito mais depressa, ou seja, o facto de não haver escalões de formação de voleibol em Viseu fez com que eu evoluísse muito e, provavelmente, a jogar num escalão que correspondesse à minha idade isso não iria acontecer.
Alguma vez imaginou que sete anos após ter deixado o Cardes ia ter no seu currículo três títulos de campeã nacional?
Não, quando eu estava no Cardes a maioria das vezes nós perdíamos, só que com a minha ida para a seleção e a partir do momento em que me tornei sénior, acabei por estar sempre nas melhores equipas, e isso dá-me visibilidade e experiência.
Que papel teve a sua família para conseguir vingar no voleibol?
Eles nunca me disseram que eu tinha de entrar no vólei, mas como a minha família está ligada ao vólei, indiretamente acabam por estar na origem desta paixão. Ao longo do meu percurso eles têm tido um papel preponderante na minha carreira. Primeiro, porque o voleibol em Viseu não é propriamente um desporto muito desenvolvido, só para terem uma noção, até há bem pouco tempo, o Cardes era o único clube de voleibol na cidade de Viseu, entretanto acho que já surgiu outra equipa. Isto para dizer que a minha ida para o Porto se deve aos meus pais, porque eram eles que me levavam de Viseu até Matosinhos (Porto) para ir aos treinos de captação todos os domingos, durante dois anos. Quando era mais jovem, nunca pensei que o voleibol iria ser a minha profissão, mas as coisas foram surgindo gradualmente e sempre que tinha uma oportunidade para me comprometer com o voleibol eu aproveitava. Felizmente, tive a minha família do meu lado, por exemplo, para a minha mãe custou-lhe muito aceitar que eu ia sair de casa aos 15 anos, contudo o meu pai ficou radiante com essa possibilidade.
Se tivesse que destacar uma pessoa que foi realmente importante no seu percurso. Qual seria?
O meu pai. Sem dúvida alguma, desde o início é a pessoa que está mais presente e que me proporcionou muitas oportunidades que eu não teria se não fosse por causa dele. Eu venho para o Porto porque ele viu uma oportunidade naqueles centros de formação.
Por exemplo, se tivesse que dar um conselho a uma atleta do Cardes, qual seria?
Acho que o melhor conselho para as pessoas que estão agora a começar a praticar voleibol é que, na realidade, as coisas não são fáceis. Não é porque decidimos que vamos jogar voleibol que os resultados vão aparecer, temos de trabalhar muito por aquilo que queremos. Se querem realmente o voleibol para o futuro delas têm de lutar muito por isso, e mais importante ainda, é perceber quais são as prioridades, porque muitas das vezes não dá para conciliar tudo aquilo que gostamos.
E Viseu, é a sua cidade natal. Como é que a descreve tanto a nível pessoal como profissional?
Sempre que posso vou lá para estar com a minha família. Eu acho que as pessoas, às vezes, nem sabem muito bem o que é Viseu. Lembro-me quando vim para o Porto, a maior parte das pessoas que me conheciam nunca tinham ido a Viseu, a única coisa que eles sabem é que tem muitas rotundas e as pessoas falam a assobiar. (risos)
É uma cidade especial e está a crescer muito. Tenho pena de ter saído para ter outro tipo de aspirações no voleibol, mas vamos ver se daqui a uns anos as coisas mudam. Eu gosto muito de Viseu, mas confesso que, neste momento, não me imaginaria a voltar por causa do vólei.
Qual foi o jogo mais marcante na sua carreira?
Acho que foi o último. Não é muito normal ganhar uma final em três jogos, e nós conseguimos fazer isso, teve uma carga emocional muito forte pelas contrariedades que tivemos devido à pandemia. Mas posso destacar também o jogo do título com o Rosário no meu primeiro ano como sénior e muitos mais que estão gravados na minha memória.
Internacional por Portugal e campeã nacional. A cidade de Viseu está a ir além-fronteiras por causa da Bárbara Gomes?
Há muita gente que não sabe que eu sou de Viseu, mas eu tento reforçar isso cada vez que o assunto surge. À minha maneira vou acabando por mostrar que em Viseu também há talento.
Já representou Portugal por 18 vezes. Qual é a sensação de vestir a camisola da seleção portuguesa?
É muito especial, para mim é o ponto alto da minha carreira. Estou a representar o meu país e os portugueses todos, mas por outro lado também é uma responsabilidade muito grande. Às vezes é um bocadinho frustrante porque ainda temos um longo caminho a percorrer no voleibol a nível internacional, mas é muito especial. Todas as vezes que canto o hino fico arrepiada.
Há dois anos representou a seleção portuguesa na única fase final de um campeonato da europa em que tivemos presentes. Sente que marcou uma geração e que esse grupo vai ficar para a história no voleibol nacional?
Foi um feito histórico. Eu estive na fase de apuramento e na fase final, e quando garantimos a passagem foi especial porque conseguimos fazer algo que ainda não tinha sido feito anteriormente. Ir ao Europeu foi uma experiência incrível, acho que foi das melhores experiências a nível de voleibol que tive, principalmente, quando jogámos contra a Polónia (local onde se realizou o Europeu) porque o pavilhão estava completamente cheio.
Momento mais engraçado que tenha tido ao longo deste seu percurso no voleibol?
Quando eu estava nas camadas jovens da seleção nós fomos jogar à Sérvia e nessa competição estávamos a meio de um jogo e, de repente, chamaram-me para olhar para a bancada. Quando olho, estava lá um lençol enorme com o meu nome, no fim do jogo quando íamos para o autocarro a selecionadora chega ao pé de mim e dá-me esse tal lençol que estava no pavilhão. Tinha sido um sérvio que já me tinha visto a jogar e fez-me esta surpresa, entretanto, até tirei uma foto com ele e dei-lhe a minha camisola. Foi muito engraçado!
Por André Reis