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“Neste momento, no setor têxtil, o problema maior é o setor automóvel porque tudo o que é ligado ao setor automóvel é onde estão os problemas do nosso setor”, é o que diz Carlos João, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Sector Têxtil da Beira Alta. Os tecidos para os bancos dos veículos são o grande problema, já que o sector automóvel tem sofrido diversas paragens por falta de componentes para a construção dos carros.
Apesar de a pandemia ter trazido consigo “uma grande crise para o setor porque as encomendas não chegavam, houve componentes para o fabrico do tecido e de outras coisas que também faltaram por não haver circulação”, atualmente, o sindicato não denuncia grandes problemas no calçado, confeções ou têxteis-lar. “Há uma ou outra empresa que poderá estar com problemas”, mas não é um cenário abrangente a todas as empresas.
“No ano de 2020, foi muito complicado porque as pessoas gastavam menos e não podiam sair de casa. No ano de 2021, isto ainda não retomou ainda a normalidade de 2019, mas está a caminhar para lá e não tem havido mais problemas”, frisa Carlos João.
No setor automóvel, o maior problema é a falta de matéria-prima. O mesmo acontece no setor da metalúrgica, que conta com 14 fábricas na região, onde faltam crómio e alumínio. Já para os automóveis conseguirem sair das fábricas são necessários mais semicondutores. Quem o diz é o sindicalista Telmo Reis, do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Centro Norte.
A escassez de matéria-prima na metalurgia deve-se, segundo o sindicalista, à importação da mesma já que “o abastecimento da Europa é feito, maioritariamente, pela China que transporta para a Europa 80 por cento da sua produção e, neste momento, eles estão com alguma dificuldade em fornecer o alumínio necessário”.
“Se formos observar aquilo que tem andado a acontecer, a falta de matéria-prima levou ao aumento circunstancial do produto final. No setor automóvel, os veículos sofreram quase um aumento, depois de prontos, entre 15 a 30 por cento. No setor da metalurgia, o ferro também teve um aumento de quase 100 por cento, e isto só está a beneficiar o patronato”, esclarece ao Jornal do Centro.
Os problemas constatados nos setores automóvel e metalúrgico podem, segundos o sindicato, prolongar-se até meados de 2022. Poderão, assim, continuar a afetar também o setor dos têxteis.
“[Este cenário] poderá manter-se até meio do ano de 2022, mas o grande problema é a precariedade que há em ambos os setores, tanto na metalurgia como no setor automóvel. O que pode acontecer é haver o aumento do desemprego na nossa zona”, alerta Telmo Reis.
Apesar de mecanizadas, as fábricas não conseguem funcionar, também, sem os trabalhadores. Na região, recentemente, houver despedimentos nas fábricas têxteis Borgstena, em Nelas, e Covercar, em Canas de Senhorim. No total, 130 pessoas ficaram sem posto de trabalho. “Hoje, é mais fácil despedir-se do que era antigamente”, diz Carlos João.
Já a fábrica automóvel da Stellantis em Mangualde, a antiga PSA, recebeu no início do mês de novembro 50 funcionários de outras fábricas espalhadas pela Europa do grupo. No entanto, nos três setores, os sindicatos não preveem despedimentos em breve e sim falta de mão de obra e a continuidade do trabalho precário.
Carlos João alerta que na zona da Beira Alta, onde Viseu se inclui, “ainda não estamos a constatar isso, mas a nível nacional há falta de mão de obra”. Para o sindicalista a razão é simples, “o setor têxtil é pouco atrativo para os nossos jovens”, assegura.
“Antigamente, tínhamos a certeza que íamos trabalhar, só se não quiséssemos, durante muitos anos naquela empresa, mas hoje não porque ninguém tem o posto de trabalho seguro”, diz. Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Sector Têxtil da Beira Alta, enquanto as empresas não criarem condições que consigam atrair os mais jovens para o setor e enquanto os empresários continuarem “a ter muito má formação” que não possibilita a sua “adaptação à nova geração”, a falta de mão-de-obra vai tornar-se ainda mais acentuada.
“As empresas vão aguentando com os trabalhadores que têm, mas quando começarem a sair e a reformar-se os que estão, eu não sei se com estes salários, com este tipo de contratos que têm e com esta relação empresa-trabalhador, não vamos ter essa dificuldade nos próximos anos”, alerta.
No setor metalúrgico e no setor automóvel, segundo Telmo Reis, “falta de mão de obra é capaz de não haver, mas o que há é precariedade no trabalho já que praticamente todos os trabalhadores são contratados a prazo e não trabalhadores efetivos”.
Embora não haja ainda despedimentos, “no grupo PSA, neste momento, não há renovação de contratos desde agosto” e começa agora a sentir-se a falta de mão-de-obra. “Temos postos na PSA que não estão a ser ocupados por um trabalhador efetivo ao posto de trabalho e estão a pedir a trabalhadores para fazerem 12 horas para colmatar essa falta de trabalhadores porque não renovam o contrato. Os ordenados acabam por ser baixos e as pessoas acabam por ceder a fazer essas 12 horas”, conta o sindicalista.
Contudo, Carlos João colmata que cabe também aos governos, num trabalho conjunto com os sindicatos, “fazer mais alguma coisa para que o trabalhador trabalhe, tenha condições para trabalhar, mas também que seja livre de utilizar a sua expressão e de reivindicar”.
De acordo com informação disponibilizada pela Associação de Fornecedores da Indústria Automóvel (AFIA), a metalurgia e metalomecânica têm um peso de quase um terço (32%) dos componentes fabricados no nosso país, logo seguidas das industrias elétrica e eletrónica (31%), dos plásticos, borrachas e outros materiais compósitos (18%), têxteis e revestimentos (11%) e montagem de sistemas (5%).