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Viseu é um distrito repleto de encantos que guarda nas suas aldeias um tesouro de autenticidade e tradição. Longe das movimentadas cidades, as aldeias oferecem uma descoberta única na cultura local, proporcionando experiências enriquecedoras de ruralidade. Neste roteiro, convidamo-lo a explorar algumas das mais pitorescas aldeias da região, onde a simplicidade se encontra com a beleza e a tradição.
Comece a jornada em S. Pedro do Sul onde as paisagens exuberantes transportam os visitantes para um mundo intocado pelo tempo. Explore os trilhos locais e descubra os segredos escondidos nas encostas verdejantes. Manhouce é um dos locais a conhecer. Siga depois para o concelho de Vouzela e visite Fataunços. Ainda na sub-região de Lafões, dê um salto a Oliveira de Frades. Descubra três Aldeias de Portugal.
Manhouce
A história da terra assenta na agricultura e na pastorícia. Na fronteira montanhosa entre a Beira Baixa e a Beira Alta, o território tem essas práticas enraizadas desde que recebeu os seus primeiros povoadores e soube desenvolvê-las ao longo de diferentes eras, desde o Neolítico à Idade do Ferro e ao período romano.
Essas origens agrícolas expressam-se na própria etimologia do nome “Manhouce”, que derivará de variações relacionadas com o termo “manho” – para “terra inculta” ou “baldio” – ou “amanhou-se” – para “arranjou-se” e “cultivou-se”.
Entre uma e outra hipótese, certo é que a aldeia foi sendo bem lavrada e sucessivos povos fizeram por merecê-la, o que justifica que há uns 2000 anos já o povoado fosse atravessado pela via romana que ligava Viseu à estrada entre Olisipo e Bracara Augusta. A meio desse caminho, Manhouce era assim local de boa pernoita, o que, atraindo recoveiros e almocreves, ajudou às trocas comerciais e culturais.
Construção em pedra, tecelagem e pintura de azulejos foram ofícios que se desenvolveram ao longo dos anos, muitas vezes embalados por cantigas que nasceram no campo. Dessa relação entre a terra e o trabalho surgem os trajes tradicionais de Manhouce e os seus instrumentos musicais e composições, todos característicos de uma etnografia reconhecida pela sua autenticidade e cadência própria – e estreitamente ligada à cultura de Lafões.
Mas mesmo que entoados por todas as casas de granito e telhado de lousa tão típicas da aldeia, os cantares de Manhouce sempre tiveram como palco privilegiado as festas da região, onde plateias compostas por locais, vizinhos e forasteiros ajudaram a amadurecer o vigoroso tecido associativo da terra. O sentido de responsabilidade associado a essa exposição pública ajudará a explicar o inabalável espírito de interajuda que domina na comunidade e o particular brio da mesma na estética do seu povoado.
E é por isso, que, com ou sem acompanhamento musical, a visita a Manhouce deve honrar também o seu património edificado e natural. No primeiro domínio, há que conhecer a Casa do Arraial, o Cruzeiro da Independência e as pontes da Barreira e sobre a ribeira de Manhouce, ambas construídas sobre prévias travessias romanas. Já na perspetiva da natureza e paisagem, um bom ponto de partida são os miradouros do Baloiço e da Capela, que logo fazem antever os encantos de cinco experiência no território: ir a banhos nas piscinas e poços esculpidos na rocha pela força do Rio Teixeira, fazer canyoning na Ribeira de Vessadas, descobrir a Rota de Manhouce, percorrer a Rota da Água e da Pedra, e – atente-se bem nesta designação – aventurar-se na Grande Rota das Montanhas Mágicas.
Fataunços
O apelo gastronómico pode ser uma das boas razões para nos levar até Fataunços, pequena aldeia de 750 habitantes situada a cerca de dois quilómetros de Vouzela, sede do concelho. É que, por lá, à mesa, a afamada Vitela de Lafões é o que mais ordena. E também não faltam, claro, os doces regionais, que, dos caladinhos às raivas e gemas (os chamados doces de feira), são símbolos gulosos da identidade gastronómica desta aldeia do distrito de Viseu.
Mas quem lá chega pode ir também por curiosidade histórica, em busca de vestígios arqueológicos de tempos remotos, que os há em abundância em Fataunços. A presença de elementos arqueológicos no povoado remonta à pré-história e é um convite à exploração do património em locais e contextos de grande beleza natural. Próximo do núcleo urbano da aldeia, podem assim visitar-se menires, mamoas, dólmens e outros monumentos megalíticos que testemunham a presença humana nestas paragens há muitos milhares de anos. E vários séculos depois, também os romanos deixaram em Fataunços a sua marca, em cerâmicas e pedras trabalhadas que por ali vão sendo encontradas, sobretudo em terrenos agrícolas.
Neste retrato da aldeia, não pode faltar uma referência a figura incontornável que foi o Professor Doutor Aristides Amorim Girão (1895-1960), proeminente geólogo e académico de Coimbra que, originário da pequena povoação de Fataunços, aí desenvolveu importantes trabalhos de escavação arqueológica. Muitos dos monumentos por ele investigados são hoje atrações da região e merecem uma visita mais demorada. É o caso da Mamoa da Seixosa, do Dólmen da Lapa da Meruje ou da Orca da Malhada do Cambarinho, todos muito próximos de Fataunços. O contributo desta figura maior da aldeia acabou assim por dar nome à Associação Cultural Desportiva e Recreativa Dr. Amorim Girão, que realiza pontualmente passeios guiados a todo o património arqueológico das redondezas, entre outras atividades de recriação das tradições locais, como a pisa da uva.
Embora com origens mais recentes, também a arquitetura urbana local apresenta inúmeros motivos de interesse. No jardim da Igreja Matriz de Fataunços conservam-se várias cruzes românicas encontradas na região, mas o que se destaca mais no povoado são as casas solarengas e brasonadas, de aspeto imponente. Esse casario de pedra obedece à traça tradicional beirã, sendo que a maioria das habitações possui dois pisos: o superior para utilização habitacional e o térreo para atividades agrícolas. Nessa paisagem tradicional destacam-se igualmente diversos espigueiros, ainda a uso, apoiados por pequenas eiras.
Os amantes da natureza também não sairão defraudados da visita, podendo encantar-se com a paisagem local num passeio pelo Percurso Pedestre das Poldras ou parar para um piquenique num dos vários parques de merendas da aldeia, todos eles rodeados de verde.
Covelo de Arca
Aninhada num vale em plena Serra do Caramulo, a aldeia de Covelo de Arca é habitada desde a pré-história e tem como prova disso a Anta da Arca, que, também conhecida como “Pedra dos mouros”, está desde 1910 classificada como Monumento Nacional.
À fixação das população primitivas terá ajudado o facto de os solos da região se mostrarem propícios à agricultura. É certo que só no século XX esse povoado do concelho de Oliveira de Frades se passou a caracterizar pela policultura intensiva, mas já antes a produção de centeio e linho granjeava respeito e abastança à aldeia, como se depreende pelas casas de boa traça que, construídas nos séculos XVIII e XIX, ainda hoje decoram as ruas de Covelo de Arca.
Nesta povoação da freguesia de Arca, no distrito de Viseu, esse casario rural harmoniza-se com outro edificado de relevo: a antiga casa florestal, também designada “Casa do Guarda”; os desativados viveiros, onde antes se protegiam rebentos de árvores autóctones até poderem ser transplantados para a mata; e a capelinha de São Mamede, cuja construção original data de 1656.
A paisagem natural é, contudo, a grande mais-valia de Covelo de Arca e da sua envolvente. Por isso mesmo, há grande procura pela Rota dos Caminhos com Alma, percurso pedestre circular que, ao longo de 12 quilómetros, proporciona a descoberta de locais como o Carvalhedo da Gândara, área botânica de grande valor ecológico e turístico por constituir uma das maiores manchas de carvalho da Europa. Em Portugal, concretamente, esse arvoredo representa a maior mancha contínua de carvalho-alvarinho, que é o nome comum da espécie Quercus robur.
O apreço comum pelos recursos naturais do território é, assim, um dos elementos que reforça o espírito comunitário de Covelo de Arca. Munida de especial espírito de entreajuda, a população desta “Aldeia de Portugal” empenha-se na preservação das tradições locais e, entre essas, a mais emblemática será a de botar o cão no forno, expressão gastronómica que designa um enchido de forno que é particularmente generoso em carne.
Fonte: Aldeias de Portugal