No terceiro episódio do podcast Entre Portas, uma parceria entre o Jornal…
Brilhantina Gonçalves, Mariana de Campos , Virgínia de Jesus mantém viva a…
“Isto era tudo feito à mão. Desde a semente até ao pano.”…
3 de março
Reunião do Movimento em casa do Capitão Seabra da Força Aérea. Presentes representantes dos três ramos das Forças Armadas. Elabora-se um documento-base que viria a ser apresentado na reunião de 5 de março, denominado ” O Movimento, as Forças Armadas e a Nação”. Os representantes da Marinha fazem questão de afirmar que só se vinculariam a um programa progressista, aceitando estar em Cascais como observadores. Os representantes da Força Aérea manifestam a sua discordância com a solução preconizada para o problema colonial.»
4 de março
Reunião da Comissão Coordenadora em casa de Luís Macedo. Decide-se enviar Vasco Lourenço e Otelo Saraiva de Carvalho a um encontro com António de Spínola, procurando obter informações sobre o sentido da anunciada comunicação de Marcelo Caetano à Assembleia Nacional, no dia seguinte.
5 de março
Reunião alargada do Movimento em Cascais, em casa do arquiteto Braula Reis. Presentes 197 oficiais do Exército, em representação de mais de 600, nos quais se incluem, pela primeira vez, os ex-milicianos. Também pela primeira vez participam representantes da Força Aérea. Da Armada estão presentes, como observadores, quatro oficiais. Apresentação e aprovação do documento O Movimento, as Forças Armadas e a Nação lido por Melo Antunes e subscrito por 111 dos presentes. Aprovada a necessidade de escolha de chefes para o Movimento, tendo o Exército ratificado os nomes de Costa Gomes e de António de Spínola Reforçada a confiança na Comissão Coordenadora do Exército e aprovado o programa de ações por ela proposto. Aprovada a constituição de uma comissão a nomear pela Comissão Coordenadora do Exército, para analisar as forças em presença e propor medidas concretas de execução da doutrina definida naquele documento. Decidiu-se, finalmente aguardar até ao dia
10 de Março pela adesão da Força Aérea e fazer comprometer a Armada a apresentar as suas decisões tão brevemente quanto possível. Marcelo Caetano vai à Assembleia Nacional, pedindo apoio para a sua política colonial. Contrapõe às teses de Portugal e o Futuro as suas ” Razões da presença de Portugal no Ultramar”. A Comissão dos Direitos Humanos da ONU aprova uma resolução condenando vigorosamente a África do Sul, Portugal e a Rodésia pela sua “persistente e flagrante desobediência às resoluções da ONU sobre autodeterminação e Direitos Humanos na África Austral”.
7 de março
Um grupo de oficiais do Movimento com ligações a António de Spínola põe a circular, para recolha de assinaturas, uma declaração de apoio “ao chefe militar que em linguagem de verdade e com grande patriotismo expôs a situação do Ultramar, e hoje ocupa a alta função de Vice-Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, General António de Spínola.”
8 de março
Os Capitães Vasco Lourenço, Carlos Clemente, Antero Ribeiro da Silva e David Martelo tomam conhecimento oficial do despacho ministerial que ordena a sua transferência de unidade. Os dois primeiros devem seguir para o Comando Territorial Independente dos Açores; o terceiro para o Comando Territorial Independente da Madeira; o último para o Batalhão de Caçadores 3 em Bragança. Reunião da Comissão Coordenadora do Exército alargada a outros elementos do Exército e representantes da Marinha e da Força Aérea. Forma-se uma Comissão Política do Movimento, constituída por Vítor Alves, Almada Contreiras, Vasco Gonçalves e Costa Brás. Como reação às transferências compulsivas foi decidido sequestrar dois dos militares transferidos, evitando que se cumprissem as ordens ministeriais, e realizar, pelas 16 horas do dia seguinte, uma manifestação de protesto de oficiais junto ao Ministério do Exército. Dado o estado de prevenção em que entraram as unidades, esta manifestação não chegou a realizar-se.
9 de março
Entrada das Forças Armadas em prevenção rigorosa, facto não registado desde 1961 aquando do desvio do navio Santa Maria, durante a operação “Dulcineia” chefiada pelo capitão Henrique Galvão. Manifestações de solidariedade para com os três oficiais em quase todas as unidades do país. Pinto Soares entrega ao Diretor da Arma de Engenharia um requerimento exigindo a sua demissão de Oficial do Exército, apresentando como motivo a transferência arbitrária de quatro camaradas. Reunião de um grupo de oficiais com a finalidade de ultimar os preparativos de uma operação militar. Presentes Almeida Bruno, Dias de Lima, Casanova Ferreira, Melo Antunes e António Ramos. Casanova Ferreira informou que o planeamento militar estava pronto, encontrando-se o desencadear das operações dependente unicamente da adesão das forças paraquedistas. Foi encarregado Almeida Bruno de contactar Rafael Durão, no sentido de este assumir o comando do Regimento de Paraquedistas no próprio dia do levantamento militar. Pinto Soares entrega, em nome do Movimento, os dois sequestrados, Vasco Lourenço e Ribeiro da Silva, no Quartel General, tentando obter com a sua entrega a anulação dos despachos de transferência. Em resultado desta operação ficam os três presos no Forte da Trafaria.
11 de março
Otelo Saraiva de Carvalho encontra-se com António Ramos, ajudante-de-campo de António de Spínola, a pedido deste último. É sugerido a Otelo Saraiva de Carvalho que o Movimento adote uma posição de protesto contra a cerimónia de solidariedade dos Oficiais Generais para com o Governo prevista para o dia 14 de março. Em resposta ao pedido de Marcelo Caetano, a Assembleia Nacional aprova a política ultramarina do Governo.
12 de março
Reunião de alguns militares para elaborar um «Plano de Operações». Presentes Otelo Saraiva de Carvalho, Casanova Ferreira, Manuel Monge, José Maria Azevedo, Geraldes, Luís Macedo e Garcia dos Santos.
13 de março
Reunião em Santarém, entre Otelo Saraiva de Carvalho e oficiais do Movimento da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, para dar a conhecer o plano elaborado na véspera. Muitas reservas e finalmente recusa, por parte destes. Reunião em Lisboa de Otelo Saraiva de Carvalho com paraquedistas que, pela voz de Avelar de Sousa, recusam também a entrada dos «páras». Estes aceitam o prazo de dez dias para darem uma resposta. Reunião no Club Militar Naval de cerca de 130 oficiais da Armada, dos quais 125 apoiam o Movimento, manifestando a sua solidariedade aos camaradas do Exército discricionariamente detidos e destacados das suas unidades. Marcelo Caetano recebe Costa Gomes e António de Spínola, que lhe vão dar conta das razões por que não iriam comparecer à cerimónia do dia seguinte. Marcelo Caetano informa-os que “nesse caso seriam destituídos”.
14 de março
Cerimónia de solidarieda de com o regime levada a cabo por oficiais-generais dos três ramos das Forças Armadas que ficou conhecida por «Brigada do Reumático». Marcelo Caetano afirmou em agradecimento: o “país está seguro de que conta com as suas Forças Armadas e em todos os escalões destas, não poderão restar dúvidas acerca da atitude dos seus comandos”. São anunciadas as demissões dos Generais António de Spínola e Costa Gomes, e do Almirante Bagulho. O lugar de António de Spínola é suprimido e Edmundo Luz Cunha ocupa o de Costa Gomes. O Capitão Virgílio Varela do Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha informa Casanova Ferreira que, caso a Comissão Coordenadora do Movimento não reaja à demissão dos dois generais, ele sairá sozinho com a sua unidade. Casanova Ferreira tenta convencê-lo a adiar a ação, mas Virgílio Varela não desmobiliza o seu pessoal e decide mantê-lo em «estado de prontidão».
15 de março
Demissão dos Generais António de Spínola e Costa Gomes de Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas e de Vice-CEMGFA, respetivamente. Embarque de Vasco Lourenço para Ponta Delgada e de Ribeiro da Silva para o Funchal. Reunião em casa de Manuel Monge, para retomar o “Plano de Operações”. Presentes Otelo Saraiva de Carvalho, Casanova Ferreira e Manuel Ramos. São informados telefonicamente pelo Comandante do Centro de Instrução de Operações Especiais de Lamego da situação de rebelião naquela unidade contra a Região Militar. Tentam sem sucesso concluir o plano de ação. Armando Ramos parte para a sua unidade com as ordens parcelares que lhe cabiam, parecendo com esta atitude tornar o Movimento irreversível. Os restantes tentam a todo o custo contactar o máximo possível de unidades. Otelo Saraiva de Carvalho, antes de partir para Mafra, encontra-se ainda com Vítor Alves, o qual recusa participar no que considera uma precipitação, mantendo, contudo, a sua solidariedade. Casanova Ferreira e Manuel Monge contactam ainda o Regimento de Cavalaria 7, a Escola Prática de Cavalaria de Santarém, bem como o próprio António de Spínola. Todos se recusaram a participar, invocando a falta de preparação das ações.
16 de março
Os capitães do Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha tomam o comando do Quartel e de madrugada avançam, sob o comando do capitão Armando Ramos, sobre Lisboa. O MFA não consegue impedir a saída das unidades próximas de António de Spínola, agitadas pela demissão deste e de Costa Gomes. Cerca de 200 militares são presos, entre os quais Almeida Bruno, Manuel Monge, Casanova Ferreira, Armando Ramos e Virgílio Varela.
18 de março
A Comissão Coordenadora divulga um Comunicado (2/74) redigido por Otelo Saraiva de Carvalho e Vítor Alves acerca do golpe das Caldas e sua importância para o Movimento. O jornal República publica na sua página desportiva uma mensagem de confiança dirigida “aos muitos nortenhos que no fim de semana avançaram até Lisboa, sonhando com a vitória” para concluir que “perder uma batalha não significa perder a guerra”. Encontro de Otelo Saraiva de Carvalho com Vítor Alves e Melo Antunes, tendo ficado este encarregado da redação de uma espécie de programa político, a partir da circular 2/74 e do manifesto O Movimento as Forças Armadas e a Nação, mas que aclarasse o sentido político e pormenorizasse os objetivos do Movimento.
19 de março
António de Spínola recusa encontrar-se diretamente com uma delegação de paraquedistas, para uma reunião sugerida por Otelo Saraiva de Carvalho a António Ramos, dada a urgência e a necessidade de se coordenarem esforços. O General aceita, porém, ser representado nesses contactos por Rafael Durão.
20 de março
Reunião do Movimento na Parede. Perante a determinação do Movimento e a intransigência do Governo, conclui-se pela probabilidade de triunfo de um movimento militar razoavelmente organizado. Foi decidido: – Elaborar um plano de operações viável, cuidado e tão completo quanto possível. – Escolher em todos os sectores da orgânica do Movimento, um elemento-sombra para todos os elementos em funções.