feira de são mateus 2025
obras ip5 mundão viseu 03 2025 web
remy vita tondela
quartos apartamentos imobiliário viseu foto jc
arrendar casa
janela casa edifício fundo ambiental

Seguimos caminho por Guimarães, berço de Portugal e guardiã de memórias antigas….

07.08.25

A primeira viagem desta VII Temporada começa em Caldas das Taipas, uma…

31.07.25

Começamos esta nova temporada onde a água é quente, as histórias são…

29.07.25
michael batista psd penalva web
leandro macedo
antónio martins psd spsul web
Livros natureza
praia-fluvial-folgosajpg
Montebelo-Viseu-Congress-Hotel_Fachada_1
Home » Notícias » Colunistas » Ainda sobre as eleições

Ainda sobre as eleições

 Ainda sobre as eleições - Jornal do Centro
08.08.25
partilhar
 Ainda sobre as eleições - Jornal do Centro

por
Júlia Reis-Marques

O ser humano sempre precisou de rentabilizar os recursos que tinha. O problema é que, como sociedade individualista e produtivista, deixámos, algures, de ver que os laços que nos unem são também importantes recursos – que o cuidado que temos uns com os outros é necessário para a nossa sobrevivência e para o nosso bem-estar. É hora de recuperar essa consciência.

Nos trabalhos físicos e socialmente essenciais (supermercados, restaurantes, lares, creches…) faltam muitas vezes trabalhadores. À pergunta “porquê?” existem opiniões (e situações) diferentes. Algumas pessoas acham que hoje em dia ninguém quer trabalhar, outros acham que o trabalho é mal pago para o esforço, outros não conseguem compatibilizar as suas vidas pessoais e familiares com os horários rotativos. Quem passa pelo trabalho sabe porquê: sabe que o imenso trabalho é duro, sim, que o pagamento nem sempre é justo, não, se existirem turnos sabe que é difícil conciliar com a família, e sabe que é incrivelmente desafiante estar sob o jugo de quem julga o trabalho fácil ou fazível, e por isso reduz pessoal para rentabilizar os lucros.

A falta de pessoal é sistemática e o resultado é haver sistematicamente alguém da equipa que quebra, física ou psicologicamente. As consequentes baixas geram ainda mais pressão sobre os que restam a trabalhar, num eterno ciclo vicioso de exaustão.

Nestes contextos, mesmo que haja excepções, relações sociais (entre colegas e entre colegas e chefes) são de natureza competitiva, muitas vezes superficiais, oportunistas, são como que temporárias (mesmo que durem décadas) ou interesseiras. Para além da dureza do trabalho surge uma dureza social, vive-se na desconfiança.

O ser humano sempre precisou de rentabilizar os recursos que tinha, mas como sociedade individualista e produtivista, deixámos, algures, de ver que os laços que nos unem são também importantes recursos – que o cuidado que temos uns com os outros é necessário para a sobrevivência e para o bem-estar. É hora de recuperar essa consciência. Os vínculos também precisam de ser “rentabilizados” (assim nasce o team building, mas não deixa de ser ridículo, com sorte, fazer 1 dia de team building num ano de trabalho). Esta pressão talvez seja comum a todos os trabalhos, mas é especialmente premente em trabalhos físicos e socialmente essenciais, normalmente (por serem) os mais mal pagos.

Dizer que as pessoas que votam na alternativa populista o fazem sem consciência é, em si mesmo, uma inconsciência (ou pior, uma hipocrisia) porque é uma desresponsabilização da quota parte comum neste sistema. Achamos que não temos nada a ver se votámos na esquerda, no centro, ou no centro-direita, ou porque lemos jornais, estatísticas, ou porque fazemos para nos informar, para ter uma opinião. Como se a política fosse desligada do resto da vida. Dizemos que é um tiro no pé como se não fosse também um tiro no pé comprar umas calças a 7,99, ou uma carne embalada por apenas 3,95. Como se não fosse um tiro no pé exigir eficiência máxima e produtividade máxima, dos serviços, dos produtos,das pessoas, e já agora, com despesa mínima. Não é só um tiro no pé ambiental, mas também social e moral.

Sob alguns prismas, a sensação é a de que a extrema direita é o inferno porque nos leva coletivamente ao clima de medo, de competição, de sobrevivência do mais forte. Mas se há trabalhadores de produção em grande escala (para fazer tudo barato, inclusivamente tratar de idosos ou crianças), ou pequena escala em luta com a grande escala, estes já se encontram nesse clima, já estão numa constante luta pela sobrevivência. E se já estão, realmente, porque não haveríamos de ficar todos? Esta consciência, de que fazemos parte, pode ser positiva porque implicar-nos no pior da transformação social é também implicar-nos na luta por melhor transformação social, de formas que nos previnam de entrar num nós versus eles.

 Ainda sobre as eleições - Jornal do Centro

Jornal do Centro

pub
 Ainda sobre as eleições - Jornal do Centro

Colunistas

Procurar