O presidente da Câmara de Mangualde lamenta não conhecer o projeto da Barragem de Fagilde que a ministra do Ambiente deverá apresentar no próximo dia 9 de dezembro em Viseu e critica a forma de financiamento que foi inicialmente escolhida para a construção desta infraestrutura.
Segundo o autarca socialista, o projeto da nova Barragem é apenas do conhecimento da Câmara de Viseu.
“Nunca nos mostrou o projeto [incluiu também Penalva do Castelo e Nelas, os concelhos abastecidos por Fagilde], nunca falámos sobre isso e o projeto já está pronto há muito tempo. Não acho normal uma barragem que é feita e tem o nome de uma freguesia do meu concelho e nunca me tenham perguntado nada. Eu não ia alterar nada, mas deveria ter conhecimento do que está ou não previsto e depois, então sim, fazer uma apresentação pública”, sustentou o presidente de Câmara.
Apesar de várias tentativas, não foi possível ouvir a Câmara de Viseu.
A construção de uma nova barragem tem sido reivindicação dos quatro autarcas abastecidos por esta albufeira. O anterior Governo deixou a promessa de que este equipamento, cujo dono é a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), iria ser construído. Por uma questão procedimental, a APA pediu à Câmara de Viseu para fazer o projeto, pronto há quase um ano e que já foi pago.
“Nunca nos passaram cavaco”, reforçou o autarca de Mangualde que criticou ainda a forma como estava a ser estudado o financiamento.
Marco Almeida admitiu que já no Governo socialista mandou uma carta, na qual demonstrava estar contra o modelo de financiamento.
“O que estava em cima da mesa era a APA avançar com uma parte dos 30 milhões e o Governo avançava com outra, mas essa verba faz parte do pacto da CCDR (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional) com as câmaras. Ou seja, o financiamento estaria garantido através dos fundos que são para os municípios”, alertou.
Outra forma de financiamento, segundo ao autarca, “seria os quatro autarcas assinarem um contrato com as Águas do Douro e Paiva durante 11 anos porque seria a única forma que esta empresa meteria o dinheiro para pagar o resto da barragem”.
“Então e não dizem nada aos presidentes de câmara. Então são as câmaras que iam pagar uma barragem que não é nossa”, questionou.
O presidente da Câmara de Mangualde, a propósito, disse ainda que o município não vai aderir às Águas do Douro e Paiva, subsistema com o qual a Câmara de Viseu já assinou a proposta de adesão para abastecimento.
“Eu hoje já tenho água e dizem-me que a tenho de comprar à Douro e Paiva. Até podem dizer que é a água mais barata do país, mas não é bem assim porque é a água mais barata do país das que estão concessionadas. Se aderisse ficaria preso durante 11 anos”, referiu,
Sobre o futuro, o presidente da Câmara afirmou que vai esperar para ver. “Eu não vou aderir e quero ver o que me vão fazer. Vão-me cortar a água? E eu vou para tribunal. A água é um bem público”, concluiu.
Desde 2022 que a Câmara de Viseu tem estado em negociações com a Águas do Douro e Paiva para distribuir em alta a água no concelho, em alternativa à Barragem de Fagilde.Além de Viseu e Mangualde (que não aceita), a Águas do Douro e Paiva também pretende alargar a rede aos concelhos de Nelas, Oliveira de Frades, Penalva do Castelo, São Pedro do Sul, Sátão, Vouzela e Vale de Cambra (este último no distrito de Aveiro).
Girabolhos
Marco Almeida anunciou ainda que vai avançar com uma carta para que os autarcas subscrevam a retoma do projeto da Barragem de Girabolhos. “Não pode haver 100 milhões para o metro de Coimbra e não haver Girabolhas. Vou fazer uma carta para os autarcas subscreverem Girabolhos como investimento prioriário”, frisou, lembrando que Girabolhos e Fagilde são dois projetos diferentes e ambos necessários para o território.
A construção da Barragem de Girabolhos voltou a estar na ordem do dia e é considerada um investimento “emblemático” pelo Grupo de Trabalho denominado Água que Une e que foi formado pelo governo para criar uma estratégia nacional que ajude numa gestão mais eficaz da água.
Esta barragem esteve no Plano Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroelétrico desenhado em 2007, mas acabou por ser colocada “de lado” por falta de investidores privados que não mostraram interesse devido à falta de viabilidade económica.
