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Fragmentos de um Diário – 23 de outubro de 1980

 Fragmentos de um Diário – 23 de outubro de 1980 - Jornal do Centro
05.02.22
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Admirava a ousadia da Fátima, a sua coragem, e tudo por amor, amor à família, mas também um abnegado amor por mim ao preferir distanciar-se em vez de assistir à ruina de um sonho de vida. Pressentia ela, e provavelmente bem, que, mais cedo ou mais tarde, mesmo que viesse estudar para Lisboa, que outros interesses me desviariam dela, outras mulheres me despertariam o desejo, e que por fim optaria decerto por ficar com uma igual em estatuto, em detrimento da vendedora de perfumes. Talvez tivesse razão. Talvez. Ou talvez não. A verdade, no entanto, é que a distância tem contribuído para manter-me ligado a ela, o lume da antiga emoção não se extinguiu, as cinzas não prevaleceram.
Ela é ainda a minha musa. Ainda não conheci nenhuma mulher que a destronasse definitivamente. Talvez me distraiam por momentos, talvez me iludam nos intervalos, mas é ainda por ela que avalio a raça das outras, a sua qualidade espiritual, os seus sentimentos, os seus desejos. Ela mantém-se a bitola, o ponto de referência.

27-Outubro-1980

        De madrugada, acordei com uma respiração asmática. Bronquite. Foi horrível. Levantei-me, encostei-me ao parapeito da janela, respirando com dificuldade. Chegara de manhã a Coimbra para me matricular. Mas fumei muito ao longo do dia.
     Melhorei.
        Hoje encontrei o …. Mais calmo, mais maduro. Passou um ano na Holanda, de emprego em emprego, daqui para ali, acumulando experiência, quebrando os liames da vida, saboreando o pão de cada dia. Foi bom revê-lo. Enquanto o ouvia afigurava-se-me tão vazio, tão insosso este meu dia-a-dia. Hoje mesmo parte com destino a Londres. Ele abre brechas à sua frente, ultrapassa barreiras, nada o impede de caminhar, de conhecer, de viver.
Eu estudo. Leio compêndios, fotocópias, preparo-me para os testes, sento o corpo nas cadeiras, com a imaginação a querer rasgar-me por dentro. Engordo-me de teorias. Não existo.
Mas, súbito, uma suspeita. Não sei, caso vestisse a pele do meu amigo e fizesse exatamente o que ele faz, se isso me realizaria plenamente. Penso que o veneno da melancolia me contagia qualquer experiência, seja ela qual for.

 Fragmentos de um Diário – 23 de outubro de 1980 - Jornal do Centro

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