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Fragmentos de um Diário – 8 de Outubro de 1984

 Fragmentos de um Diário – 8 de Outubro de 1984 - Jornal do Centro
01.07.23
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        Como o tempo passa! Que é feito de mim? Tenho andado por aí à margem da alegria. Desempenho com ar sério o meu papel profissional e social. Mas é grande a vontade de partir ao encontro da Fátima.
        Que dia lindo o de hoje! Que carícia, e como é bom, apesar de tudo, estar vivo e saber que é sempre tempo de nascer de novo. Sentado no quarto, escuto Mozart. Aprendo a conhecer o compositor favorito da minha amada. Fumo um cigarro, sentindo a tarde correr. E aqui estou à espera não sei bem de quê.
Não acredito em paraísos artificiais. Nem no atordoamento, na diversão, nas viagens, no convívio, nos outros. A alegria, a serenidade, só as poderei descobrir em mim. Bem posso violentar o quotidiano que o resultado não supera o inútil e o amargo. É verdade que às vezes andamos perto e a esperança renasce. Mas rapidamente nos apercebemos das mãos ardentes mas vazias
Às vezes basta-me o sol de cada dia, alimento-me de jardins e esperanças, procuro dar o melhor a cada momento e dele retirar todo o sumo do instante. Mas chega a hora em que percebemos que tudo muitas vezes não passa de pretextos, de boas intenções para colmatar o vazio que nos fere.
        Realmente, não chega. Porque quero fazer outras coisas, ver, cheirar, partir, conhecer outras terras e outras pessoas. Satura-me este pequeno mundo da vila. Começo a não sentir prazer em estar com as pessoas conhecidas. Daqui a nada já nem as suporto. Ou será que o problema está em mim? Provavelmente, porque, no fundo, interrogo-me se esta minha tristeza não é idiossincrática, como que inscrita no meu ADN. Só ao lado da Fátima se me enraíza a harmonia de alma.
        De resto, é a rotina. A escola, o quarto, a leitura, a música, as refeições, o tabaco. Bastam em muitos dias. São pouco, noutros. É destes que falo, em que a alma renuncia ao meio termo, à virtude do meio, e enlouquece da própria loucura que oculta.
Encontro-me agora mais vezes com a amante de poesia. Fortalecemos a nossa amizade com a noite do outro dia. Ela visita-me, falamos de poesia, ou melhor, lemos mais do que comentamos, bebemos um chá, escutamos uma música. Aprecio a sua companhia, desinteressada, sem malícia. E ela gosta da minha disponibilidade para a escutar nos seus desabafos e desgostos. E o sexo não se intromete. Estou contente comigo mesmo.

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