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Lisandro, Eunice, Carlos, Rui, Tiago, Laura, Nuno, Alice…. Muitos são os nomes que se podem juntar a estes e que nos últimos dias dizem ter vivido o que pensam ser o inferno na terra. São de Sernancelhe, Aguiar da Beira, Penedono, Moimenta da Beira, Sátão, Tabuaço, S. João da Pesqueira, Sabugal…. São alguns dos muitos nomes de pessoas que se juntaram dia e noite aos bombeiros para num braço de ferro entre o ser humano e a natureza haver quem saísse vencedor. Nem todos conseguiram.
Na última semana, os incêndios que ainda assolam a região norte e centro de Portugal provocam uma vítima mortal, vários feridos, destruíram casas e áreas agrícolas e deixaram quilómetros e quilómetros de uma paisagem negra. Mas ainda arde e, aí, as cores são o vermelho e o laranja do desespero como muitos moradores desabafam.
No meio do fumo e das chamas, é a força de um povo que se ergue para enfrentar o inimigo.
“Só hoje tenho coragem de vir aqui. Vivi um dos piores momentos da minha vida, nunca vi tal coisa. O verde virou negro. Mas agradeço a toda a gente que ajudou, porque sem eles teria sido muito pior”, desabafou um morador de Penela da Beira.
O mesmo sentimento ecoa por toda a região. De Arnas, em Sernancelhe, chegou o relato de quem viu a casa dos pais ser consumida pelo fogo, lutando sozinho contra o inferno. “Onde está o governo? Onde estão os serviços por quem pagamos impostos?”, questionou, entre a revolta e o desespero.
Apesar da revolta, os testemunhos deixam também o registo de uma união que fez a diferença. Houve quem lembrasse as mães que, mesmo exaustas, não largaram a mangueira de rega para travar as chamas a poucos metros da casa. Houve vizinhos que, lado a lado, molharam terrenos, carregaram baldes, enfrentaram fumo e calor insuportável. Houve homens e mulheres que, sem dormir, se juntaram aos bombeiros num combate desigual, mas persistente quer apagando as chamas, quer, simplesmente, distribuindo comida e bebida.
“Se não fosse a população, teria sido muito pior. Houve abnegação, houve coragem, houve lágrimas e feridas, mas também vitória: muitas casas ficaram de pé porque os vizinhos não desistiram”, recorda outro dos “combatentes”.
As críticas à falta de meios que se ouvia das populações, mas também dos autarcas, à ausência de resposta rápida e ao abandono do interior surgem em quase todas as vozes. Mas há também espaço para agradecimentos sentidos: aos Bombeiros de Penedono ou de Rio Tinto, à GNR de Aguiar da Beira ou da Mêda, às juntas de freguesia, às pessoas que ofereceram refeições e conforto em plena tragédia.
Mas a tragédia ainda não acabou. E no terrenon continuam milhares de operacionais.
Os nove maiores incêndios no continente mobilizavam às 08h00 mais de 3.200 operacionais no combate às chamas, com os de Arganil (Coimbra) e Satão (Viseu) a concentrarem o maior número de meios, segundo a Proteção Civil.
De acordo com a página na Internet da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), o incêndio em Arganil, no distrito de Coimbra, que deflagrou na quarta-feira, mobilizava 837 operacionais, 288 meios terrestres e dois meios aéreos, enquanto na Lousã, no mesmo distrito, estavam destacados 499 operacionais com 157 veículos.
O incêndio que deflagrou em Sátão na quarta-feira uniu-se ao incêndio que começou em Trancoso há mais de uma semana (dia 09), alastrando-se a 11 municípios do distrito de Viseu e da Guarda.
Os 11 municípios são: Sátão, Sernancelhe, Moimenta da Beira, Penedono e São João da Pesqueira (distrito de Viseu); Aguiar da Beira, Trancoso, Fornos de Algodres, Mêda, Celorico da Beira e Vila Nova de Foz Côa (distrito da Guarda).
A página oficial na Internet da ANEPC tem os meios distribuídos pelos dois incêndios de origem.
Assim, segundo a Proteção Civil, pelas 8h00 no incêndio de Sátão estavam empenhados 717 operacionais e 240 veículos, enquanto para as frentes que tiveram origem em Trancoso estavam destacados 423 operacionais, apoiados por 140 viaturas.
O incêndio em Poiares, Freixo de Espada à Cinta (Bragança), na região do Douro, com início na sexta-feira, empenhava 269 operacionais e 96 meios terrestres, enquanto o fogo no Sabugal (Guarda) contava com 166 operacionais e 50 veículos.
Também na Guarda, em Pêra do Moço, o combate às chamas envolvia 142 operacionais e 53 veículos.
Em Tarouca, no distrito de Viseu, estavam 89 operacionais, apoiados por 27 veículos.
Já o fogo em Mondim de Basto, distrito de Vila Real, foi dado como dominado às 04:15 de hoje, disse à agência Lusa fonte do Comando Sub-regional do Ave.
Pelas 8h00, mantinham-se no local 127 operacionais, apoiados por 39 viaturas, de acordo com a página da ANEPC.
Portugal continental tem sido afetado por múltiplos incêndios rurais desde julho, sobretudo nas regiões Norte e Centro, num contexto de temperaturas elevadas que motivou a declaração do estado de alerta, em vigor até hoje.
Os fogos provocaram um morto e vários feridos, na maioria sem gravidade, e destruíram total ou parcialmente casas de primeira e segunda habitação, bem como explorações agrícolas e pecuárias e área florestal.
Portugal ativou o Mecanismo Europeu de Proteção Civil, ao abrigo do qual deverão chegar até segunda-feira dois aviões Fire Boss para reforço do combate aos incêndios.
Segundo dados oficiais provisórios, até 16 de agosto arderam 139 mil hectares no país, 17 vezes mais do que no mesmo período de 2024. Quase metade desta área foi consumida em apenas dois dias desta semana.