O futuro do turismo interno passou por Anadia. Durante três dias, mais…
A bússola aponta para a natureza, a paisagem e o poder do…
No coração verde do concelho de Viseu, Côta é uma aldeia onde…
Num ano em que soam todas as sirenes no que ao risco de incêndios rurais diz respeito, as juntas de freguesia têm trabalhado na prevenção. Limpeza de terrenos próprios e até de privados e a criação de faixas de contenção são as grandes preocupações dos executivos, mas a falta de meios acabam por não facilitar o trabalho.
“Neste último ano, para conseguirmos garantir algumas faixas, com recursos próprios criámos essas faixas, mas os recursos são escassos e não temos o material adequado. Neste momento, para além de mão humana, ter um trator seria bom. Temos um, mas não tem as características necessárias para limpeza de floresta”, disse Pedro Carragoso, presidente da Junta de Mundão.
Na freguesia, composta por uma mancha florestal de cerca de 300 hectares, desde o início do ano que têm sido intervencionadas várias zonas.
“No início do ano, nos terrenos que a junta tem junto à central de biomassa e da Academia de Futebol fizemos lá um desbaste e arrala. A ideia foi melhorar o crescimento do arvoredo e depois fazer uma espécie de travão caso haja um incêndio. Também junto ao aterro sanitário e na pista de motocross fizemos uma intervenção profunda para criar uma faixa de contenção profunda”, disse.
Segundo o autarca, para melhora o trabalho de prevenção, há ainda o desejo de em breve a freguesia ter uma equipa de sapadores florestais.
“Quando chegámos percebemos que as faixas de contenção eram feitas muito esporadicamente e não havia o cuidado e o critério de perceber onde é que era mais prioritário. Eram feitas praticamente no mesmo sítio. Este dois últimos anos, em conjunto com a Câmara Municipal e o ICNF [Instituto de Conservação da Natureza e Floresta], temos conseguido fazer essas faixas, mas é muito complicado. O município disponibiliza as equipas que tem, mas infelizmente não é só para a nossa freguesia é para mais. Daí defender que a freguesia deveria estar munida de uma equipa de sapadores florestais, porque assim conseguiríamos manter essas faixas sempre limpas e, ao mesmo tempo, como estamos englobados em dois perímetros florestais, o ICNF poderia agregar essa equipa de limpeza para os dois perímetros”, explicou.
Para Pedro Carragoso, esta unidade e alguma maquinaria seria uma forma de conseguirem “que as faixas de contenção da rede primária e secundária fossem mantidas, com recursos da própria freguesia”.
O autarca frisou ainda que têm trabalhado de forma a alertar a população. “Outra coisa que temos feito é sensibilizar as pessoas para que façam a limpeza dos terrenos, sobretudo junto às povoações. Temos proprietários que já mandaram limpar, nós também já o fizemos”, frisou.
Também a Junta de Freguesia de Repeses e São Salvador tem trabalhado na limpeza de terrenos. Aqui, está ainda vivo na memória o incêndio que em setembro do último ano consumiu cerca de 30 hectares de floresta e matos. Apesar de ser a freguesia que está mais inserida na zona urbana do concelho é composta por uma considerável mancha florestal.
“Temos alguns pontos que nos preocupam mais. Fizemos um levantamento exaustivo da rede primária e da rede secundária, dos caminhos que sentimos que é necessários estarem desobstruídos, porque na eventualidade de acontecer o que aconteceu no dia 4 de setembro pelo menos os carros de combate a incêndios terem as condições mínimas para passarem”, lembra Márcia Lima, presidente da Junta de Freguesia de Repeses e São Salvador.
Mas, à semelhança da freguesia de Mundão, a falta de recurso não facilita o trabalho. “Os recursos humanos são escassos e os materiais ainda mais. Não temos um trator, por exemplo. Todo o trabalho que temos feito, que já é considerável, é com recurso a uma carrinha, pás e motorroçadoras.
“Durante o inverno preparamos esta parte dos caminhos, que achamos muito importante. Agora, temos um terreno de 10 hectares e para limpar aquilo tudo gastamos uma fortuna mas temos que dar o exemplo. Junto às antenas estamos a fazer um mosaico e vamos reorganizar essa zona, que tem muitos pinheiros velhos, outros espontâneos e não tem organização. A ideia é limpar a mata e vender madeira e provavelmente esse dinheiro será para investir na compra de material”, contou.
Unidades locais de proteção civil à espera de luz verde
Além do trabalho de limpeza e de sensibilização das populações, para Márcia Lima e Pedro Carragoso é fundamental avançar com Unidades de Proteção Civil, equipas constituídas por populares que ajudariam “a sinalizar terrenos e proprietários”.
“Termos uma Unidade Local, que está em contacto com a proteção civil, facilitaria bastante. Os presidentes de junta também não têm o conhecimento total e poderia investir-se mais no contacto entre juntas de freguesia e proteção civil e formar mais os presidentes de junta e executivo para que todos trabalhássemos em conjunto em prol da população”, frisou Pedro Carragoso.
Já Márcia Lima destaca a importância destas equipas no trabalho de prevenção. “Não tendo capacidade financeira para investirmos em saneamento, água canalizada e melhoramento das vias apostamos no que podemos, que é na segurança da nossa população. Garantir que está o mais limpo possível, fazer um trabalho de prevenção. Foi também para isso que apostamos na unidade local, para trazer mais qualidade na parte da prevenção, identificar terrenos, tentar que os privados limpem e se tivermos uma equipa bem montada, porque queremos juntar pessoas das seis aldeias, facilita todo o trabalho de campo”, referiu.
Mundão e Repeses e São Salvador são duas das quatro freguesias que já avançaram com o processo para a criação destas equipas. Mas, segundo os autarcas, falta ainda chegar o despacho da autarquia. Situação que segundo o presidente da Câmara Municipal, Fernando Ruas, está já resolvida, apesar de Márcia Lima e Pedro Carragoso garantirem que as unidades já foram aprovadas na comissão de proteção civil municipal, mas o “ok” final ainda não chegou às juntas.
Ministro da Administração Interna pede ajuda às freguesias para alertar população
Entretanto, esta segunda-feira o ministro da Administração Interna escreveu aos presidentes de junta de freguesia a apelar à capacitação das populações para colaborar com os agentes de proteção civil no combate a fogos rurais e à limpeza de matas e terrenos.
Na carta hoje enviada à Associação Nacional de Freguesias (Anafre), o ministro José Luís Carneiro sublinha que é “fundamental” que cada um “assuma as suas responsabilidades” na prevenção e combate aos fogos florestais e na proteção de pessoas e bens quando estes aconteçam, sublinhando que “importa garantir a melhor cooperação entre as diferentes entidades e instituições locais”.
“Para o efeito, é essencial que se desenvolva uma cultura de prevenção e de alerta precoce suscetível de capacitar as populações para a adequada colaboração com os agentes de proteção civil, a estimular através da criação de sistemas de monitorização e alerta de incêndios rurais e da realização de ações de sensibilização junto das populações”, apelou José Luís Carneiro na missiva hoje enviada.
No mesmo texto frisa ainda a importância da limpeza de terrenos, matas e caminhos, da criação de faixas de proteção dos aglomerados populacionais, limpeza dos cursos de água e sensibilização para comportamentos seguros das pessoas.
Sublinhando que o período atual “é de grande exigência para todos”, o ministro reforçou junto dos presidentes de freguesia “a mensagem da importância da adoção das ações e medidas acima referidas para uma eficaz e eficiente prevenção e defesa contra os incêndios rurais, em prol da segurança e do bem-estar das comunidades que representa”.