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Às 13h15, dezenas de pessoas estavam reunidas junto das paragens de autocarro do Rossio, tanto de um lado como do outro da avenida 25 de Abril, entre a rotunda da Fonte Luminosa e a rotunda da agência funerária.
Um senhor com cerca de 60 anos lia o seu jornal enquanto esperava pelo autocarro. Na cabeça, um boné que assentava sobre um cabelo branco, os olhos fixos nas parangonas do periódico. A cerca de três metros do leitor do jornal, uma senhora de cabelo pintado com cor de vinho e um metro e sessenta aguardava em pé pelo mesmo autocarro. Nos braços, uma mala preta carregada. Junto ao muro da Igreja dos Terceiros, várias pessoas encostadas à pedra tentavam aliviar o esforço de se manterem em pé à espera do autocarro.
Do lado de lá passaram dois autocarros amarelos. Dois autocarros do C1 que deixavam e apanhavam passageiros. Dois autocarros que iam cheios, lugares sentados ocupados e pessoas em pé.
Ao fim de dez minutos à espera, o C2 apareceu, vindo da avenida Alberto Sampaio, entrou na rotunda e saiu na primeira saída. Parou 20 metros mais à frente, na paragem “Rossio 1”. Aguardei a minha vez de entrar no autocarro, atrás da senhora com cabelo cor de vinho e à frente do leitor do jornal. Afixada na máquina para tirar bilhetes, ao lado do motorista do autocarro, uma folha anunciava o fim da circulação dos veículos da MUV no início do próximo mês.
“A Empresa Berrelhas de Camionagem, Lda. viu-se forçada a tomar esta decisão atenta, por um lado, à absoluta impossibilidade de manter a exploração do serviço de transporte altamente deficitário e, por outro, considerando a impossibilidade técnica e financeira da aplicação da solução alternativa apresentada pela Autoridade de Transportes competente”, lia-se no papel. “Agradecemos desde já a vossa melhor compreensão, A Gerência”, terminava.
Dirigi-me para as traseiras do autocarro e mantive-me de pé, agarrado ao corrimão. Os lugares sentados ficaram todos ocupados. Crianças e jovens que iam e vinham das aulas, pessoas na pausa de almoço do trabalho e outros passageiros que iam fazer recados.
Uma paragem mais à frente, novos passageiros a subir os dois degraus para entrar no autocarro – uns a colocar o passe no sensor da bilheteira, outros com moedas na mão, os 60 cêntimos necessários para ter direito a uma viagem. “Então, acha que vamos ter autocarros?”, perguntou uma senhora com cerca de 70 anos. “Acho que sim”, respondeu o motorista. Nova resposta da senhora: “pois, eu queria ir carregar o passe, mas ainda não o fiz”.
Do lado do motorista, a certeza de quem nunca viu o sistema de transportes do concelho de Viseu a terminar com tão pouco tempo de aviso e de forma tão definitiva. As palavras do motorista carregadas de ironia: “então, mas algum dia isto para… pelo menos o senhor presidente diz que não para”.
“Os miúdos já estavam a dizer que para a semana não vinham”, ouviu-se outra senhora a comentar com o motorista. “Não tinha lógica não”, terminou outra mulher, esta com uns 40 anos, de dizer. A partir daí, o silêncio reinou no autocarro, interrompido apenas pela entrada e saída de passageiros, por entre frases como “preciso de descer na próxima paragem” ou “este autocarro para no hospital?”.
Às 13h45, o autocarro C1 chegou à paragem do hospital de Viseu. Desci, com mais pessoas, o degrau da porta das traseiras.
Na viagem de regresso, a ameaça de paragem dos veículos da MUV foi novamente tópico de conversa, tanto entre os passageiros como do lado do motorista. “A empresa a nós nunca nos disse nada”, começou por dizer o condutor a um passageiro mais velho, com cerca de 70 anos. “Só disse que ia parar de fazer o serviço no dia 1 e a nós nunca nos disse nada”, disse ainda.
O problema, na ótica do profissional, estava na logística em torno do encerramento da MUV. “E digo-lhe mais, quem levar as carrinhas leva os condutores, mas também duvido que eles tragam condutores novos assim à última da hora”, continuou o motorista. “Se a decisão for essa eles vão agora ter de gastar um bom dinheiro, porque têm de arranjar lugar para abastecer, têm de arranjar os carros e onde é que eles vão arranjar os carros?”, concluiu.
No início da semana, a empresa Berrelhas, que detém atualmente a concessão do serviço de Mobilidade Urbana de Viseu (MUV), anunciou que a partir de dia 1 de março o serviço vai parar. Em causa está o caderno de encargos para um ajuste direto relativamente aos próximos dois anos com o qual a empresa não concorda. Esta quinta-feira, em reunião de câmara, a autarquia garantiu que o serviço MUV vai continuar, com ou sem a concessão da Berrelhas.