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21 de 06 de 2022, 16:15

Diário

Agricultores e moradores preocupados com falta de água na Barragem de Vilar

Albufeira do norte do distrito está a 15 por cento da sua capacidade. Governo alerta que previsões de chuva não vão inverter situação de seca

barragem do vilar

As pessoas que vivem perto da Barragem do Vilar, que serve os concelhos de Sernancelhe, Moimenta da Beira e Tabuaço, estão assustadas com a reduzida quantidade de água na albufeira, que é das que guarda menos água no país. Está apenas a 15 por cento de capacidade.

Óscar Paixão, de 78 anos, vive na aldeia da Faia, em Sernancelhe. Diz que nunca viu a albufeira do vilar com tão pouca água e lamenta a falta de chuva naquela zona.

“Nunca me lembro, isto nunca aconteceu na minha vida. Está mesmo mal. Se viesse uma semana de inverno, a barragem enchia logo. Aqui não tem chovido nada. Eu tenho ali em cima um terreno, o que vale é a mina e o furo que lá tenho. Se não fosse assim, secava tudo”, afirma.

Noutro ponto da barragem, em Vilar, as preocupações são as mesmas. O produtor de maçã Armando Rafael Ferreira, de 29 anos, diz que ainda vai tendo água, mas teme que a rega fique comprometida no futuro.

“Isto preocupa-nos a todos porque estamos a falar de um elemento crucial para a produção. A água é dos elementos mais essenciais e tudo isto nos preocupa. Neste momento, ainda tenho possibilidade de captação do rio, mas tenho conhecimento de que, se o rio continuar a descer ao nível que está, podem-nos vir a tirar esse direito”, acrescenta.

O produtor diz que tem licenciamento do Ministério do Ambiente e autorizações da EDP e que faz “bombeamento a partir do rio para depósito, alimentando depois os pomares a partir daí”.

Já o presidente da Junta de Freguesia de Faia, Carlos Teles, diz que a barragem esteve pior nos anos 80 do que hoje. “Em 1983, a barragem foi despejada para reparação e ficou mesmo completamente vazia”, recorda. Ainda assim, o autarca não esconde a preocupação até por causa da época de grandes incêndios.

“Fico um pouco preocupado, principalmente agora nesta época de incêndios porque esta era uma barragem para todo o tipo de aviões. Só os pequenos ainda conseguem vir aí, de vez em quando mas com muito cuidado porque os Canadairs já não têm espaço para levantar nem para apanhar. Deus queira que não, mas isto vai ser uma tragédia”, adverte.

As barragens de Fagilde e Aguieira, no distrito de Viseu (que estava em seca severa no final de maio), estão entre as albufeiras com mais água armazenada em todo o país, numa altura em que a falta de chuva determinou uma redução dos armazenamentos hídricos em dois terços das barragens do país.

Segundo dados da Agência Portuguesa do Ambiente, Fagilde está na cota máxima enquanto Aguieira tem 95% de água armazenada. Já a albufeira de Vilar, no norte do distrito, continua a ser uma das barragens que têm menos água guardada, com uma capacidade de 15%. A albufeira de Varosa, em Lamego, tem uma cota de 55%, enquanto a de Ribeiradio, em Oliveira de Frades, tem 81%.

Governo anuncia campanhas para uso eficiente da água
Entretanto, o Governo anunciou que vai lançar a partir de julho campanhas de promoção do uso eficiente da água, dirigidas a todos os tipos de consumidores, com reuniões mensais de acompanhamento da situação até final de setembro.

As medidas foram anunciadas esta terça-feira (21 de junho) pelo ministro do Ambiente e Ação Climática, Duarte Cordeiro, numa conferência de imprensa conjunta com a ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes.

Os dois ministros presidiram à 9.ª Reunião da Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca, na qual foi feito um ponto da situação relativo à situação meteorológica, hidrológica, hidroagrícola e das culturas e abeberamento animal, e a avaliação de situações críticas.

Os ministros recordaram que, segundo previsões oficiais, 34 por cento de Portugal continental está em seca severa e 66% em seca extrema, e que as previsões de chuva não irão inverter a situação.

Dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera indicam que este ano é o mais seco de que há registo (desde 1931) e que só o ano de 2005 se aproximou da situação atual, pelo que a seca meteorológica e agrometeorológica "obrigam a tomar medidas”.

No início de fevereiro já tinha havido uma reunião da Comissão, na qual foram anunciadas e tomadas medidas, que serão agora complementadas com outras, sendo que, garantiu Duarte Cordeiro, a água para consumo humano está salvaguardada para dois anos.

Na reunião de fevereiro, explicou Duarte Cordeiro, foram tomadas 50 medidas, já em execução, e hoje o Governo tomou mais 28 medidas para fazer face à seca, entre condicionamentos de uso de água a soluções para disponibilizar água em territórios mais afetados.

“Temos de nos habituar a viver com menos água”, disse o ministro, frisando que tal é válido para todos os portugueses e em todas as regiões do país.

“Apesar de o país viver uma situação grave, temos instrumentos e conhecimento para ultrapassar esta situação de seca”, adiantou.

Duarte Cordeiro referiu que o Fundo Ambiental tem cinco milhões de euros para medidas imediatas, seja para campanhas de sensibilização seja para outras, como a reativação de captações públicas e combate a perdas de água.

Nas medidas mais estruturais salientou que o plano de eficiência hídrica do Alentejo estará pronto até final do mês e que também está a ser concluído um plano de intervenção para a zona do Tejo e zona Oeste.

E disse que no final do mês, em Lisboa, Portugal e Espanha voltam a reunir-se para fazer um ponto da situação da seca, que também afeta o país vizinho.

Maria do Céu Antunes disse que das 44 albufeiras monitorizadas, 37 estão com níveis de armazenamento que asseguram a campanha de rega para este ano, e que há sete albufeiras, no Norte, Alentejo e Algarve com limitações. A norte há também restrições em dois aproveitamentos hidroagrícolas.

“Com o uso eficiente da água e com as medidas tomadas a campanha de rega para 2022 está assegurada”, garantiu a ministra.

Maria do Céu Antunes salientou a necessidade de se introduzir mais tecnologia e conhecimento na rega, não só junto dos maiores agricultores, que já a usam, mas também na pequena e média agricultura, e lembrou que há apoios para esse fim.