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A Feira de São Mateus é conhecida por todos como a mãe de todas as feiras, a mais antiga de Portugal. É constituída por vários setores do comércio como restauração, artesanato, diversões e artes. O que antes era uma pequena praça de comércio tornou-se numa feira com o maior recinto da cidade. Sendo a mais antiga, está carregada de tradições e simbolismo que faz dela um lugar especial para cada feirante. Muitos negócios, ali presentes, já vêm de antigas gerações e já percorreram o país de norte a sul. Muitos feirantes não escondem a tristeza por o legado acabar nas novas gerações, porque têm outro tipo de ocupações ou porque já não existe mais ninguém para poder continuar.
Fomos falar com quem está há mais tempo na Feira. Dos mais velho aos mais novos, todos sabem que é impossível ir à Feira de São Mateus e não comer a espetada de enguias da Dona Élia ou da sua irmã Zélia. Sabem que não jogar o típico jogo das argolas é como ir a Paris e não ver a Torre Eiffel. Ou que um jantar no Senhor Delfim já faz parte de uma experiência gastronómica, por mais simples que seja o seu prato. E quem nunca esperou até a feira começar, para poder comprar os utensílios de cozinha na Copularia?
Reza a lenda que até em outubro ainda conseguimos ouvir a Dona Milu a gritar “Olha os cachorros da Milu”. E para terminar, até quem não gosta de farturas admite que na feira de São Mateus tem outro sabor. Será o sabor da tradição? A família Oliveira não revela o seu segredo mas acompanha-nos desde crianças.
Os presépios e os galos de Barcelos
Paulo Pinto é artesão, com 56 anos, e trabalha na feira de São Mateus desde que se lembra. O negócio nasceu em Barcelos há mais de 100 anos e sempre percorreu feiras de norte a sul do país. Mudou-se para Viseu há 23 anos e ele e a sua família estão presentes na Feira desde o tempo da sua avó. Ainda passava o comboio na cidade de Viseu e Paulo já ajudava os pais Lucinda Pinto e Sebastião Pinto. Em 2011, os seus pais já eram considerados os mais antigos no certame, segundo uma reportagem feita pela própria Feira de São Mateus. Atualmente, o artesão apenas faz quatro feiras por ano. Assim que acabar esta, segue para Chaves. As peças que vendem são feitas por Paulo Pinto e familiares e outras são compradas. O que as pessoas procuram mais quando se dirigem à barraca de Paulo Pinto são presépios e galos de Barcelos.
Farturas da Família Oliveira
As farturas Oliveira estão na feira dede 1944 e já vai na quarta geração, com esperanças de que não fique por aqui. A única Feira que esta família faz, além de São Mateus, são as festas de Guimarães. O projeto nasceu em Lisboa, mas veio até Viseu por motivos amorosos e já tem confeitarias espalhadas pela cidade. O amor está tão presente nesta casa que há dois anos assistiu-se a um pedido de casamento feito por um funcionário a outra funcionária. Será o amor, o segredo do negócio?
Olha o cachorro da Milu
A conversa com o Luís, filho da Milu, revelou-nos que tudo começou nas salsichas Izidoro. A D. Milu estusiasmou-se com a ideia de começar a fazer cachorros e estrearam-se na Feira de São Mateus, o que acabou por ser um sucesso. Surgiu com um simples carrinho e um guarda sol. Mais tarde, passaram para uma pequena barraquinha e agora já têm dois stands na Feira. O trabalho da D. Milu agora passa mais por casa e quem está a assumir o controlo é o filho que começou a ajudar a mãe aos 17 anos. Agora, até o neto da D. Milu já tem a sua própria barraca na Feira com o negócio da família, mas continuam todos a trabalhar para o mesmo. Ao bisneto ainda agora nasceram os dentes, mas já se fala em querer trabalhar com eles.
Começou com o azeite e termina na Feira
O senhor Delfim tem como base do seu negócio a produção de azeite. Com 72 anos,”não para”, afirma a filha, Maria João Vaz, que está agora responsável pelo restaurante. O restaurante é único e só o podem encontrar na Feira da São Mateus. Instalados há cerca de 35 anos, iniciaram com uma pequena barraca de snacks, mas, infelizmente, não houve geração para continuar o negócio em família. Nascida e criada em Viseu, mantém o restaurante até ao dia de São Mateus, o feriado municipal, pela tradição que simboliza. Afirma que antigamente havia mais proximidade dos feirantes e sente falta das tradições antigas como arruadas e desgarradas. A solução que aponta para a melhoria do negócio local é a questão de proximidade. “Na feira antiga, muito melhor, mais unida, mais amigos. Saíamos de lá às 5h00 ou 6h00 e às 9h00 já lá estávamos outra vez, era comer e beber”, recorda.
As irmãs Élia e Zélia
Élia e Zélia são duas irmãs que estão presentes na Feira há cerca de 60 anos. O negócio nasceu com a mãe que vendia enguias. Vinham de uma fábrica da Murtosa para venderem em espetadas e pipas. É a única feira que fazem e já não são as únicas da família ali. Conhecem o recinto como a palma da sua mão. O que sentem mais falta são os bailes dos bombeiros e dos ranchos. Recordam que antigamente não havia água canalizada e tinham de ir com cantarinhos de barro na cabeça para ir buscar água à fonte. “Antigamente as pessoas da aldeia vinham à feira para ir buscar as enguias e traziam as batatas e o garrafão de vinho e iam comer para a Cava de Viriato”, contam. O domingo do feirante era uma data uma especial para todos. Durava a noite toda e até se vendia café à porta para que a energia não faltasse.
O divertimento mais antigo
O entertenimento da D. Emília, as argolas à garrafa, é um jogo que já passou pelos nossos bisavós, avós, pais e agora a geração mais nova. Muito antes de haver uma roda com vista para a cidade inteira, antes de haver carrosséis que nos deixam com o estômago às voltas, existia o clássico jogo das argolas. O jogo consiste em atirar argolas ao gargalo da garrafa até conseguir ganhar a garrafa. A D. Emília está na feira há 35 anos, mas este divertimento já é um “monumento”. Os filhos e os netos estão inseridos no meio faz tempo. Já percorrem feiras de norte a sul do país, apesar da D. Emília só fazer a feira de São Mateus. Natural de Idanha-a-Nova sente-se realizada por ter o divertimento mais antigo da feira mais antiga.
Um bazar de memórias
Teresa Silva está na feira há 41 anos e já acompanhava os seus pais por todo o lado. Para além da Viseu, faz a feira de Março, de Aveiro, em Vila Franca de Xira e Senhora de Matosinhos. Tem um carinho especia por Viseu por ser um espaço onde há um maior encontro com os emigrantes. Natural de Guimarães, não tem geração para deixar o negócio mas não esconde que gostaria de manter o bazar dos seus pais.