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As sondagens apenas se aproximaram da tendência vencedora da AD, porque no que concerne ao PS e ao Chega o erro foi total. A “tracking poll” da CNN foi pelo mesmo caminho. A ocasião é adequada a uma leitura ou revisitação do livro de Luís Paixão Martins “Como mentem as sondagens”. Posto isto, vamos a um rápido olhar sobre o rescaldo eleitoral.
A AD venceu as legislativas de 2025 com mais votos e percentagem a nível nacional (32,72% – 1 195 792), no distrito (42,73% – 88 374), e no concelho de Viseu (40,74% – 24 445). Ganhou, mas ficou bem longe da tal “maioria maior” e falhou a coligação com a IL, bem como a tal estabilidade que prometera. Mais 3,2% não é propriamente o que Luís Montenegro almejava. No entanto, no seu entender, afirma que “o resultado relegitimou o Governo, o Primeiro-ministro e a AD”.
Pedro Nuno Santos herdou um PS em perda. A inesperada maioria absoluta obtida por António Costa tinha sido ferida por um ano e meio de casos judiciais e substituição de governantes a ritmo inaudito (18 ou 19, se bem me lembro). E depressa se extinguiu com a sua demissão por causa, alegadamente, de um parágrafo polémico, misterioso, numa nota oficial da PGR que o dava como alvo de investigação pelo Ministério Público.
Pedro Nuno Santos também herdou de Costa uma inusitada conflitualidade social: os polícias, os médicos, os professores, os agentes de justiça, o encerramento de urgências e maternidades, os bombeiros, enfim, um conjunto de ingredientes para uma tempestade perfeita. O ambiente era pouco recomendável e ninguém no PS se sentia confortável.
O PS cai em 2024 para 28,66%, cerca de 0,8% menos do que a AD, mas com o mesmo número de deputados. Luís Montenegro forma governo com um “não é não” ao Chega que elegera uns surpreendentes 50 parlamentares. Na altura, em abril, escrevi neste mesmo espaço: “O PSD não tem tempo a perder, porque é preciso cumprir as promessas eleitorais, abrandar os movimentos reivindicativos, encontrar a paz social, diminuir o aperto das corporações (altamente representadas no Governo), “tirar os trabalhadores da rua” e conseguir aliviar a pressão da Comunicação Social…” E foi isso que Luís Montenegro fez, acrescentando aumentos intercalares de pensões, um bónus politicamente eficaz.
Ao PS aconteceu exatamente o contrário. Teve menos 365 507 votos a nível nacional (-5,28%), no distrito menos 12 867 (-5,59%) perdendo um deputado para o PSD, e no concelho de Viseu menos 2798 (-4,15%), obtendo cerca de metade dos 40,74% de votos na AD.
Há também outras razões. Pedro Nuno Santos conduziu mal o caso Spinumviva, dado à estampa pela comunicação social. Errou ao elegê-lo como uma questão sua e do PS, errou ao propor uma Comissão de Inquérito Parlamentar e errou quando caiu na armadilha da Moção de Confiança, apesar de alertado por pessoas como Fernando Medina ou Sérgio Sousa Pinto. A abstenção teria viabilizado a continuação do Governo e o escrutínio prosseguiria com claro embaraço para Luís Montenegro.
E nada se faz sozinho. António Guterres convidou, por exemplo, Veiga Simão, Mariano Gago ou Marçal Grilo; Sócrates fez o mesmo com Sousa Franco ou Freitas do Amaral e António Costa com Elvira Fortunato ou Pedro Siza Vieira. Eram personalidades de elevado prestígio e reconhecimento público. Juntos fizeram equipas credíveis. Este élan também foi ignorado por esta direção do PS, apesar dos muitos alertas. Pedro Nuno esteve sempre sem referências, sozinho.
Por último, para além das “mochilas” que trazia de um passado recente, deixou passar uma ideia de personalidade agressiva, de pessoa que está sempre a ralhar e político para quem tudo está mal. É injusto, porque ele é o contrário disso tudo. É, para quem com ele privou, inteligente, estudioso, moderado, afável, solidário, decidido e fazedor. A paixão com que genuinamente vive a política ocultou essas virtudes. O PS deve reconhecer-lhe, pelo menos, ter dado o seu melhor no contexto que descrevi.
O PS ainda está a disputar com o Chega, com a extrema direita, imagine-se, a liderança da oposição, o 2º lugar. Transitoriamente conseguiu, mas no dia 28, quando forem contados os votos dos círculos da Europa e fora da Europa é de todo provável que esse papel seja ganho pelo partido de André Ventura que, lembro, perdeu as eleições que prometeu ganhar. O Livre subiu, tal como a IL, mas o PCP continua em perda e o BE está reduzido ao PAN. Nem S. Francisco Louçã lhe valeu. A esquerda está reduzida a uma minoria absoluta.
No distrito de Viseu o PS foi ultrapassado pelo Chega que é 2º em 17 concelhos. O PS só consegue obter essa posição em 7, sendo que 5 são autarquias socialistas, Cinfães, Mortágua, Penalva do Castelo, Resende, Sta. Comba Dão e S. Pedro do Sul. As duas restantes são Lamego e Vouzela.
Em síntese, o PS regressou aos anos 80, ao século passado. O Chega de agora é uma espécie de CDS desses anos, mas mais aditivado, extremista em vez de humanista. A AD no distrito é sempre mais forte do que a média nacional, mas já não é o que era. O PS de então enfrentou com êxito essa realidade e agora vai ter de recomeçar e seguir em frente. Terá de continuar a privilegiar o poder local, os seus eleitos, dar-lhes prioridade, apoiá-los e fazer as melhores escolhas.
Aqui, no distrito, lembro alguns nomes, a título de exemplo: Mário Videira Lopes, Acácio Pinto, Inês Vaz, José Manuel Oliveira, Miguel Ginestal, Correia de Campos, Raul Junqueiro, João Paulo Rebelo, Manuel João Leitão, Joaquim Alexandre, Afonso Abrantes, Orlando Mendes, Rui Santos, José Correia, Rui Valadares, para além dos nossos Fundadores e de tantos outros governantes, deputados, presidentes de câmara e de freguesia que nos honraram com a qualidade do seu trabalho.
Ao assumir as suas responsabilidades Pedro Nuno Santos decidiu sair e dar uma oportunidade alternativa ao PS. É um gesto que só o distingue. José Luís Carneiro será candidato à liderança e espero que o PS se reencontre com a sua matriz e o seu eleitorado.