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A companhia Cem Palcos, de Viseu, vai dar continuidade à “Horta de Deméter”, um projeto de inclusão através da cultura e da natureza, com o seu próprio orçamento por não ter qualquer apoio, anunciou esta semana o diretor artístico, Graeme Pulleyn.
“A nossa vontade é continuar o projeto, é continuar esta parceria com a Quinta da Cruz, mas a questão é sempre a mesma e, neste momento, não há financiamento para o fazermos. Por isso, vamos assumir durante um ano”, garantiu o encenador.
Graeme Pulleyn falava na apresentação da “Grande Colheita”, , com a estreia marcada para 9 de dezembro.
“Não iremos conseguir fazer as três sessões por semana como fazíamos, mas vamos tentar manter, pelo menos, uma sessão por semana, pago com o orçamento da Cem Palcos, enquanto tentamos encontrar outros apoios para dar continuidade”, assumiu.
Graeme Pulleyn esclareceu que “não será o mesmo projeto, mas é uma continuidade do trabalho que tem sido realizado com os parceiros”, entre os quais escolas e instituições que trabalham com jovens institucionalizados e “com diagnóstico”.
O diretor artístico da Cem Palcos recordou que a “Horta de Deméter” envolveu “jovens com diagnósticos diversos como autismo ou trissomia 21 e jovens institucionalizados, que, muitas vezes, são menos sociáveis, mais desconfiados, mas o projeto tem na sua génesis aliar o artístico, a horticultura e um trabalho social, numa espécie de triângulo de interdependências”.
“Acredito profundamente que a criação artística, que neste caso se alia ao trabalho na horta, fazem inclusão, ou seja, são duas atividades em que os jovens convivem e trabalham lado a lado e a inclusão está feita, porque a inclusão está em nós e na nossa atitude para com o outro”, defendeu.
O facto de “estar feita”, disse, “não quer dizer que seja fácil de fazer, mas a inclusão é feita precisamente na convivência e no esforço de trabalhar lado a lado e nem sempre foi fácil juntar jovens, cativá-los e entusiasmá-los para ambos os lados deste trabalho”.
“É difícil quantificar e explicar, mas nós sentimos a mudança nas pessoas. Eu vejo as alterações de uma jovem da Escola Grão Vasco, do oitavo ano, no contacto que tem com um jovem com trissomia 21 e o quão ela cresceu, assim como o inverso”, acrescentou.
Também deu o exemplo dos rapazes do Lar de Santo António, “que nos primeiros encontros eram muito envergonhados, acanhados, desconfiados até, e ontem [terça-feira], no ensaio, eles explodiam com tudo”.
“Vou confessar uma coisa. Cheguei ao ensaio com um texto novo e, por estar em cima do dia, disse que íamos gravar e colocar em ‘voz off’ e um deles disse logo: ‘O quê? Isto? Não, isto a gente decora’. E isto é arrepiante”, confessou.
Testemunhos partilhados por representantes dos parceiros do projeto asseguram que “há uma mudança indescritível”, como adiantou a diretora executiva da Associação de Viseu de Portadores de Trissomia 21 (AVISPT21), Eulália Albuquerque.
“Estes projetos deviam ser obrigatórios”, desafiou esta responsável, que disse que “os jovens perguntam a todo o instante o que é que se vai passar depois de dezembro”.
Eulália Albuquerque assumiu que “é surpreendente o que eles cresceram interiormente, sejam os que têm problemas de deficiência ou os seus pares” e a “evolução vê-se no dia-a-dia, nas atividades ou numa ida ao café”.
“Com o contacto com a arte, a natureza e os pares desenvolveram a amabilidade, a gentileza e a expressão, porque há jovens que não se conseguiam expressar através da fala e agora conseguem fazê-lo”, contou.
Uma professora da Escola Superior Agrária de Viseu, parceira do projeto, defendeu que “mais do que cultivar produtos agrícolas, foram cultivadas outras sementes que tornarão os alunos melhores profissionais”.
Daniela Costa, que assumiu não ter estado em todas as sessões, contou o exemplo de uma “jovem que no início não tolerava o barulho das palmas e agora nos últimos ensaios era ela própria a dizer que podia haver palmas”.
Aprendizagens “muito significativas” que a coordenadora da área social da Cem Palcos, Catarina Martins, destacou entre “todos os jovens que participaram no projeto que tinha um fio condutor, o de trabalharem todos juntos na horta”.
“Eles trabalharam na horta e no seu crescimento, quer dos produtos hortícolas quer do seu crescimento individual. Nesta horta cultiva-se a diferença e todos são bem-vindos”, reconheceu Catarina Martins.
O espetáculo “Grande Colheita”, que encerra o projeto financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, será apresentado novamente em 28 de janeiro, nos jardins da fundação em Lisboa, num encontro com outros projetos do programa “Partis & Arte for Change”.
O projeto agora terminado foi ainda financiado pela Fundação La Caixa, República Portuguesa – Cultura, Direção Geral das Artes e pelo Eixo Cultura da Câmara Municipal de Viseu.